Pim, pam, pum
Literatura
Filipa Melo

Pim, pam, pum

Ao Afonso Praça e ao Fernando Assis Pacheco  Quando se mata, morre-se? Não. Renasce-se. Porque, na verdade, não fui eu quem morreu  há pouco, quando senti o primeiro coice a atingir-me no ombro. O dedo não parou de dar ao  gatilho, duas, três, mais vezes. Os olhos não pararam de ver enquanto os corpos se erguiam  ou tombavam por entre a névoa. Os ouvidos não pararam de ouvir.  Já tinha escurecido e estava a ficar

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A água
Literatura
Filipa Melo

A água

Tinha a certeza. Desde sempre acreditara que, com o passar dos anos e a aproximação da morte, as pessoas mirram, perdem volume, encolhem. Quase como se pedissem licença antecipada para partirem, deixando um espaço vazio. Retirando-se com delicadeza, reduzindo aos poucos a sua presença, o seu lugar. Foi nisso que pensou quando o viu. Estava ali a prova. E tão estranha surgiu a constatação, tão contraditória com o medo que de si se apossava, que

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Pim, pam, pum

Pim, pam, pum

Ao Afonso Praça e ao Fernando Assis Pacheco  Quando se mata, morre-se? Não. Renasce-se. Porque, na verdade, não fui eu quem morreu  há pouco, quando senti o primeiro coice a atingir-me no ombro. O dedo não parou de dar ao  gatilho, duas, três, mais vezes. Os olhos não pararam de

A água

A água

Tinha a certeza. Desde sempre acreditara que, com o passar dos anos e a aproximação da morte, as pessoas mirram, perdem volume, encolhem. Quase como se pedissem licença antecipada para partirem, deixando um espaço vazio. Retirando-se com delicadeza, reduzindo aos poucos a sua presença, o seu lugar. Foi nisso que