Paula Cardoso
Em criança entusiasmava-a aprender as palavras difíceis que se revelavam a partir dos ditados que a professora parecia debitar de cor. Também se entretinha com o dicionário de português, estratégico na sua caça por sinónimos e significados desconhecidos, em determinado momento emperrada no termo “catinga”, apresentado como “mau cheiro proveniente da pele dos negros”. Cita de memória, porque nunca mais esqueceu a interpretação racista, do mesmo modo que conserva até hoje o encantamento pelas palavras, na adolescência desbravadas em sopas de letras, cruzadexes e outros passatempos. Foi igualmente nessa fase que encontrou na escrita o seu lugar de pertença e expressão de afectos, mais tarde alargado a território de prática jornalística. Aí se fixou por quase 18 anos, até começar a confrontar uma das palavras mais difíceis da sua história: Racismo. Sabe que não há ditado nem dicionário que a torne menos difícil, por isso dedica-se a construir e co-criar ferramentas de ‘facilitação’, como o Afrolink, a Força Africana, o Black Excellence Talk Series e O Lado Negro da Força. Todas conjugadas no plural.