Filosofia e História

Corvos imaginários, papagaios estocásticos e outros animais que falam
Ciências
Manuel Arriaga

Corvos imaginários, papagaios estocásticos e outros animais que falam

Há algo de desconcertante em finalmente existir uma máquina capaz de manter um diálogo coerente e informado sobre quase qualquer tópico. As experiências de quem já experimentou usar o ChatGPT (ou sistemas semelhantes) têm levantado questões sobre se estes sistemas poderão (vir a) ter consciência — e, mais fundamentalmente, sobre o que é a consciência. Neste artigo vou apresentar algumas ideias em torno deste tema, tentando ir um pouco além das discussões que geralmente encontramos

Ler »
Na Era do Zettabyte, pt.1: Em toda a parte e em parte alguma
Filosofia e História
José Carlos Fernandes

Na Era do Zettabyte, pt.1: Em toda a parte e em parte alguma

Nas televisões, nas newsletters digitais dos jornais, nos news feeds, nos posts, tweets e vídeos nas redes sociais, nos websites dos agregadores de conteúdos, em e-mails reenviados em massa, em split-screen, em janelas pop-up e deslizando em rodapé no écran, desfilam, ininterruptamente e sem ordem, hierarquia ou nexo, atentados terroristas, penáltis por assinalar, interpelações ao Governo pelos partidos da oposição, a fome no Corno de África, a atribuição anual de “estrelas” a estabelecimentos de restauração

Ler »
Isto anda tudo ligado #4
Filosofia e História
Margarida Davim

Isto anda tudo ligado #4

O fim da imaginação A imaginação é essencial à política. Só faz sentido agir politicamente quando se acredita que há a possibilidade de mudar o mundo. A ideologia é, em certo sentido, um mapa para se chegar a uma forma de sociedade imaginada que acreditamos ser a melhor. Mesmo os mais conservadores estão agarrados a uma ideia imaginária sobre outro mundo possível que pode ou não ter já existido. Não faz sentido desligar o exercício

Ler »
Paul Auster, desarmante
Filosofia e História
António Araújo

Paul Auster, desarmante

         Enquanto comecei a pensar neste texto e depois o escrevi, ocorreu mais um grande massacre nos Estados Unidos, daqueles cuja notícia corre o mundo e atravessa o Atlântico, seja pelo número inusitado de mortos, seja pela idade precoce das vítimas, seja, enfim, por um qualquer pormenor mais horrível e escabroso, que as agências e os jornalistas consideram ser digno de realce, porque, e apenas porque, será impressionante para um auditório sedento de ser impressionado.

Ler »
A Cultura confinada no Castelo
Artes Performativas
Gonçalo Carvalho Amaro

A Cultura confinada no Castelo

Texto de Gonçalo de Carvalho Amaro, autor convidado. _ Uma Cultura medievalizante? Em 1922, numa Áustria ainda a recuperar do fim do império, cerca de duas décadas após a obra seminal de Riegl, O Culto Moderno dos Monumentos, Franz Kafka, já debilitado, escrevia O Castelo, um dos melhores retratos sobre a burocracia e como a mesma pode ser, ao mesmo tempo, uma arma contra a Cultura e um instrumento para quem aprecia o controlo férreo e integral

Ler »
<i>Habla comigo</i>
Ciências
Filipe Nunes Vicente

Habla comigo

Cidades, muros (urbs), igrejas, religiões, livros impressos, estradas, navios, comboios, telégrafo, telefone, carros, aviões, autoestradas, internet, telemóveis. Tudo o que temos feito é para comunicar, cada vez mais, uns com os outros. Não por acaso, somos o animal mais aperfeiçoado na arte da carnificina. Esta natureza obsediante rima com intrigante. Os elefantes vivem em grupos estáveis e se é certo que de vez em quando fazem uns congressos, mantêm o grupo. Os leopardos, ao contrário

Ler »
Simpatia inacabada #6
Filosofia e História
Alda Rodrigues

Simpatia inacabada #6

A História Interminável   Nunca fui muito boa a escrever conclusões. Várias pessoas me disseram isto, no tempo em que tive professores. Por isso, nas respostas do Chat GPT encontro um traço distintivo que me parece invejável: uma estrutura com princípio, meio e fim. Como em muitos textos assim tripartidos, mesmo quando escritos por seres humanos, cada uma destas partes repete a mesma informação, mas com uma perspectiva ligeiramente diferente. É uma forma de simplificação

Ler »
O ChatGPT responde. Mas sabe perguntar?
Ciências
Joana Sá

O ChatGPT responde. Mas sabe perguntar?

Imagens criadas pelo DALL-E em resposta ao prompt “DALL-E doing chemistry”   Este texto não é sobre os problemas dos modelos actuais de aprendizagem automática, nem sobre enviesamentos e impactos sociais (que são muitos e importantes). É sobre ciência e criatividade e como isso é tão humano.   No passado dia 27 de Março, o senador americano Chris Murphy escreveu mais ou menos assim na sua página do Twitter: “O ChatGPT aprendeu sozinho a fazer

Ler »
A mim é que me dói a paciência<sup>[1]</sup>
Artes Visuais
Lia Ferreira

A mim é que me dói a paciência[1]

“P(h)oder”, do blogue Odeio Ser Mãe (Não considero no retrato as famílias ricas, com dinheiro para pagar todas as pessoas que as substituam nos cuidados, deveres e tarefas familiares: babás, empregadas domésticas, cuidadoras geriátricas, transporte escolar, uber e uber eats. Porque aí também é muito fácil ver mulheres assegurarem que nunca se prejudicaram na carreira por serem mães.) Há uns anos, fiquei muito irritada quando, num tweet, alguém concluía que “as mulheres não se interessam

Ler »
O lugar onde os elefantes vão morrer
Filosofia e História
José Carlos Fernandes

O lugar onde os elefantes vão morrer

Em Novembro de 1549, chegou à corte espanhola de Valladolid, proveniente de Lisboa, o elefante “Salomão”, acompanhado pelo seu cornaca e por uma comitiva, sob os auspícios do rei João III de Portugal. Os caprichos dos homens e da geopolítica europeia ditaram que “Salomão” empreendesse, menos de dois anos depois, uma viagem bem mais longa e difícil, que o levou até Viena, onde viria a falecer em Dezembro de 1553. As andanças de “Salomão” andaram

Ler »
Corvos imaginários, papagaios estocásticos e outros animais que falam

Corvos imaginários, papagaios estocásticos e outros animais que falam

Há algo de desconcertante em finalmente existir uma máquina capaz de manter um diálogo coerente e informado sobre quase qualquer tópico. As experiências de quem já experimentou usar o ChatGPT (ou sistemas semelhantes) têm levantado questões sobre se estes sistemas poderão (vir a) ter consciência — e, mais fundamentalmente, sobre

Na Era do Zettabyte, pt.1: Em toda a parte e em parte alguma

Na Era do Zettabyte, pt.1: Em toda a parte e em parte alguma

Nas televisões, nas newsletters digitais dos jornais, nos news feeds, nos posts, tweets e vídeos nas redes sociais, nos websites dos agregadores de conteúdos, em e-mails reenviados em massa, em split-screen, em janelas pop-up e deslizando em rodapé no écran, desfilam, ininterruptamente e sem ordem, hierarquia ou nexo, atentados terroristas,

Isto anda tudo ligado #4

Isto anda tudo ligado #4

O fim da imaginação A imaginação é essencial à política. Só faz sentido agir politicamente quando se acredita que há a possibilidade de mudar o mundo. A ideologia é, em certo sentido, um mapa para se chegar a uma forma de sociedade imaginada que acreditamos ser a melhor. Mesmo os

Paul Auster, desarmante

Paul Auster, desarmante

         Enquanto comecei a pensar neste texto e depois o escrevi, ocorreu mais um grande massacre nos Estados Unidos, daqueles cuja notícia corre o mundo e atravessa o Atlântico, seja pelo número inusitado de mortos, seja pela idade precoce das vítimas, seja, enfim, por um qualquer pormenor mais horrível e

A Cultura confinada no Castelo

A Cultura confinada no Castelo

Texto de Gonçalo de Carvalho Amaro, autor convidado. _ Uma Cultura medievalizante? Em 1922, numa Áustria ainda a recuperar do fim do império, cerca de duas décadas após a obra seminal de Riegl, O Culto Moderno dos Monumentos, Franz Kafka, já debilitado, escrevia O Castelo, um dos melhores retratos sobre a burocracia

<i>Habla comigo</i>

Habla comigo

Cidades, muros (urbs), igrejas, religiões, livros impressos, estradas, navios, comboios, telégrafo, telefone, carros, aviões, autoestradas, internet, telemóveis. Tudo o que temos feito é para comunicar, cada vez mais, uns com os outros. Não por acaso, somos o animal mais aperfeiçoado na arte da carnificina. Esta natureza obsediante rima com intrigante.

Simpatia inacabada #6

Simpatia inacabada #6

A História Interminável   Nunca fui muito boa a escrever conclusões. Várias pessoas me disseram isto, no tempo em que tive professores. Por isso, nas respostas do Chat GPT encontro um traço distintivo que me parece invejável: uma estrutura com princípio, meio e fim. Como em muitos textos assim tripartidos,

O ChatGPT responde. Mas sabe perguntar?

O ChatGPT responde. Mas sabe perguntar?

Imagens criadas pelo DALL-E em resposta ao prompt “DALL-E doing chemistry”   Este texto não é sobre os problemas dos modelos actuais de aprendizagem automática, nem sobre enviesamentos e impactos sociais (que são muitos e importantes). É sobre ciência e criatividade e como isso é tão humano.   No passado

A mim é que me dói a paciência<sup>[1]</sup>

A mim é que me dói a paciência[1]

“P(h)oder”, do blogue Odeio Ser Mãe (Não considero no retrato as famílias ricas, com dinheiro para pagar todas as pessoas que as substituam nos cuidados, deveres e tarefas familiares: babás, empregadas domésticas, cuidadoras geriátricas, transporte escolar, uber e uber eats. Porque aí também é muito fácil ver mulheres assegurarem que

O lugar onde os elefantes vão morrer

O lugar onde os elefantes vão morrer

Em Novembro de 1549, chegou à corte espanhola de Valladolid, proveniente de Lisboa, o elefante “Salomão”, acompanhado pelo seu cornaca e por uma comitiva, sob os auspícios do rei João III de Portugal. Os caprichos dos homens e da geopolítica europeia ditaram que “Salomão” empreendesse, menos de dois anos depois,