Literatura

Os três deslizes de Gelsomina Guelgerógio, Infeliz mãe dos irmãos Caramassófe
Literatura
Afonso de Melo

Os três deslizes de Gelsomina Guelgerógio, Infeliz mãe dos irmãos Caramassófe

1. Gelsomina Duelgerógio, do lugar de Vale de Égua, freguesia do Préstimo, deu à luz dez filhos em duas séries de cinco. Isto é: Gelsomina Duelgerógio pariu cinco gémeos em Outubro de 1973 e outros tantos em Janeiro do ano seguinte.Pode parecer estranho que uma mulher conceba assim gémeos em tão grandes quantidades num tão curto espaço de tempo. Pode parecer e, se calhar, é mesmo.Mas tudo tem explicação. Mesmo em Vale de Égua, freguesia

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Da série personagens do meu país (3) : Joaquim de Carvalho
Literatura
Filipe Nunes Vicente

Da série personagens do meu país (3) : Joaquim de Carvalho

Nome incontornável da poesia portuguesa da segunda metade do século XX, não recebeu o reconhecimento merecido por motivos insondáveis. Relacionou-se com grandes poetas e escritores da sua geração e parecia lançado para o panteão da memória literária nacional, mas a sua obra é hoje  encontrada apenas em  alguns  alfarrabistas de província.  Joaquim Jesus de Carvalho nasceu em Seixas, Caminha, em 1945, numa família de comerciantes abastados. O pai e o avô compravam vinho verde e

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«Humoristas de sucesso? São os gurus de um novo e necessário culto.»
Artes Performativas
André Canhoto Costa

«Humoristas de sucesso? São os gurus de um novo e necessário culto.»

Entrevistámos Pedro Reis Sabido, investigador do Ralston College, especialista em Estudos Portugueses e Brasileiros e Literatura Africana Lusófona, a propósito dos limites do humor e outras questões de linguagem. Falámos sobre os bobos de Shakespeare, os Beatles, o império da família Balsemão (adeus empregos na IMPRESA), gladiadores, gurus espirituais, e ainda, como não podia deixar de ser, o ChatGPT.             A polémica sobre os problemas da linguagem e os limites do humor não parece abrandar,

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O luxo da conversa inteligente
Cinema e Audiovisual
Ana Isabel Soares

O luxo da conversa inteligente

18 de janeiro de 2007 foi uma quinta-feira. Foi um dos primeiros dias que passei na Universidade de Stanford e a data em que vi pela primeira vez Robert Pogue Harrison. Ouvira falar dele na véspera, quando tudo me era novidade. Os outros professores contavam-me que ele estivera internado, com um grave problema de coração – vim a saber mais tarde que estivera em paragem cardíaca, que roçara a morte e se salvara por um

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Na Era do Zettabyte, pt.1: Em toda a parte e em parte alguma
Filosofia e História
José Carlos Fernandes

Na Era do Zettabyte, pt.1: Em toda a parte e em parte alguma

Nas televisões, nas newsletters digitais dos jornais, nos news feeds, nos posts, tweets e vídeos nas redes sociais, nos websites dos agregadores de conteúdos, em e-mails reenviados em massa, em split-screen, em janelas pop-up e deslizando em rodapé no écran, desfilam, ininterruptamente e sem ordem, hierarquia ou nexo, atentados terroristas, penáltis por assinalar, interpelações ao Governo pelos partidos da oposição, a fome no Corno de África, a atribuição anual de “estrelas” a estabelecimentos de restauração

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Contra Proust
Literatura
Z - Autores Convidados

Contra Proust

Texto de Robert Pogue Harrison, autor convidado.Tradução: Ana Isabel Soares _   Como o programa se chama Entitled Opinions, aqui está uma opinião minoritária sobre literatura. Há 150 anos, no dia 10 de julho, Jeanne Clemence Proust deu à luz um rapaz que haveria de acarinhar e amimar, alimentando nele um feroz egoísmo que se veria forçada a transigir, a negociar e a gerir. Infundiu nele o amor pelas artes e em 1905, quando morreu,

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Paul Auster, desarmante
Filosofia e História
António Araújo

Paul Auster, desarmante

         Enquanto comecei a pensar neste texto e depois o escrevi, ocorreu mais um grande massacre nos Estados Unidos, daqueles cuja notícia corre o mundo e atravessa o Atlântico, seja pelo número inusitado de mortos, seja pela idade precoce das vítimas, seja, enfim, por um qualquer pormenor mais horrível e escabroso, que as agências e os jornalistas consideram ser digno de realce, porque, e apenas porque, será impressionante para um auditório sedento de ser impressionado.

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A água
Literatura
Filipa Melo

A água

Tinha a certeza. Desde sempre acreditara que, com o passar dos anos e a aproximação da morte, as pessoas mirram, perdem volume, encolhem. Quase como se pedissem licença antecipada para partirem, deixando um espaço vazio. Retirando-se com delicadeza, reduzindo aos poucos a sua presença, o seu lugar. Foi nisso que pensou quando o viu. Estava ali a prova. E tão estranha surgiu a constatação, tão contraditória com o medo que de si se apossava, que

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O empadão de esparguete dos avós em Benfica
Boa Vida
Marta Lança

O empadão de esparguete dos avós em Benfica

1. O avô morreu na passagem de ano de 2007-8. O meu pai passou a noite, mão na mão, com o seu pai. Apesar de já ter visto esta imagem milhares de vezes, não sei exatamente o que será consolar alguém nos momentos finais. Menos ainda sei o que é morrer. Quando os avós desaparecem dá-se a nossa primeira orfandade, dizem. Perde-se o vínculo aos últimos representantes próximos de universos e referências que demonstram a

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A Cultura confinada no Castelo
Artes Performativas
Gonçalo Carvalho Amaro

A Cultura confinada no Castelo

Texto de Gonçalo de Carvalho Amaro, autor convidado. _ Uma Cultura medievalizante? Em 1922, numa Áustria ainda a recuperar do fim do império, cerca de duas décadas após a obra seminal de Riegl, O Culto Moderno dos Monumentos, Franz Kafka, já debilitado, escrevia O Castelo, um dos melhores retratos sobre a burocracia e como a mesma pode ser, ao mesmo tempo, uma arma contra a Cultura e um instrumento para quem aprecia o controlo férreo e integral

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Da série personagens do meu país (3) : Joaquim de Carvalho

Da série personagens do meu país (3) : Joaquim de Carvalho

Nome incontornável da poesia portuguesa da segunda metade do século XX, não recebeu o reconhecimento merecido por motivos insondáveis. Relacionou-se com grandes poetas e escritores da sua geração e parecia lançado para o panteão da memória literária nacional, mas a sua obra é hoje  encontrada apenas em  alguns  alfarrabistas de

«Humoristas de sucesso? São os gurus de um novo e necessário culto.»

«Humoristas de sucesso? São os gurus de um novo e necessário culto.»

Entrevistámos Pedro Reis Sabido, investigador do Ralston College, especialista em Estudos Portugueses e Brasileiros e Literatura Africana Lusófona, a propósito dos limites do humor e outras questões de linguagem. Falámos sobre os bobos de Shakespeare, os Beatles, o império da família Balsemão (adeus empregos na IMPRESA), gladiadores, gurus espirituais, e

O luxo da conversa inteligente

O luxo da conversa inteligente

18 de janeiro de 2007 foi uma quinta-feira. Foi um dos primeiros dias que passei na Universidade de Stanford e a data em que vi pela primeira vez Robert Pogue Harrison. Ouvira falar dele na véspera, quando tudo me era novidade. Os outros professores contavam-me que ele estivera internado, com

Na Era do Zettabyte, pt.1: Em toda a parte e em parte alguma

Na Era do Zettabyte, pt.1: Em toda a parte e em parte alguma

Nas televisões, nas newsletters digitais dos jornais, nos news feeds, nos posts, tweets e vídeos nas redes sociais, nos websites dos agregadores de conteúdos, em e-mails reenviados em massa, em split-screen, em janelas pop-up e deslizando em rodapé no écran, desfilam, ininterruptamente e sem ordem, hierarquia ou nexo, atentados terroristas,

Contra Proust

Contra Proust

Texto de Robert Pogue Harrison, autor convidado.Tradução: Ana Isabel Soares _   Como o programa se chama Entitled Opinions, aqui está uma opinião minoritária sobre literatura. Há 150 anos, no dia 10 de julho, Jeanne Clemence Proust deu à luz um rapaz que haveria de acarinhar e amimar, alimentando nele

Paul Auster, desarmante

Paul Auster, desarmante

         Enquanto comecei a pensar neste texto e depois o escrevi, ocorreu mais um grande massacre nos Estados Unidos, daqueles cuja notícia corre o mundo e atravessa o Atlântico, seja pelo número inusitado de mortos, seja pela idade precoce das vítimas, seja, enfim, por um qualquer pormenor mais horrível e

A água

A água

Tinha a certeza. Desde sempre acreditara que, com o passar dos anos e a aproximação da morte, as pessoas mirram, perdem volume, encolhem. Quase como se pedissem licença antecipada para partirem, deixando um espaço vazio. Retirando-se com delicadeza, reduzindo aos poucos a sua presença, o seu lugar. Foi nisso que

O empadão de esparguete dos avós em Benfica

O empadão de esparguete dos avós em Benfica

1. O avô morreu na passagem de ano de 2007-8. O meu pai passou a noite, mão na mão, com o seu pai. Apesar de já ter visto esta imagem milhares de vezes, não sei exatamente o que será consolar alguém nos momentos finais. Menos ainda sei o que é

A Cultura confinada no Castelo

A Cultura confinada no Castelo

Texto de Gonçalo de Carvalho Amaro, autor convidado. _ Uma Cultura medievalizante? Em 1922, numa Áustria ainda a recuperar do fim do império, cerca de duas décadas após a obra seminal de Riegl, O Culto Moderno dos Monumentos, Franz Kafka, já debilitado, escrevia O Castelo, um dos melhores retratos sobre a burocracia