Música

2023: dez canções para um ano de transição
Música
Martinho Lucas Pires

2023: dez canções para um ano de transição

2023. Que ano, 2023. Aconteceu muita coisa, não foi? A guerra no continente europeu continuou, sem grande resolução à vista. A situação no Médio Oriente voltou a piorar, e os preços das coisas em geral subiram um pouco por todo o lado, tanto quanto o número (e volume) de sotaques de inglês ouvido nos cafés de Lisboa, desde a Baixa até Benfica. Manifestámo-nos pela paz, pela resolução do problema na habitação, e pela liberdade. Só

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Há mar e mar, há veenho e voltar
Música
Martinho Lucas Pires

Há mar e mar, há veenho e voltar

No dia 30 de junho, os Veenho, uma banda lisboeta composta por Martim Brito, António Eça, Xixo e Gonçalo Formiga, lançou o seu terceiro disco, Lofizera. O álbum foi produzido pela própria banda e é editado pela Xita Records. Este disco é a concretização de uma promessa iniciada no segundo álbum (sem título, tal como o primeiro, e tal como o primeiro, editado em 2017) da banda. O primeiro álbum dos Veenho é um exercício

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Uma beleza mitológica: sobre um concerto dos <i>Big Thief</i> em abril
Artes Performativas
Martinho Lucas Pires

Uma beleza mitológica: sobre um concerto dos Big Thief em abril

Passei muito tempo fixado na figura de James Krivchenia, colocado numa das pontas do palco, com uma camisa clara e calções, óculos quadrados e barba, careca, e com algum cabelo comprido. Lembra-me a figura de David Berman, vocalista dos Silver Jews, numa fotografia em que este está sentado num sofá, de casaco azul semiaberto, calças bege, e sandálias. Creio que vi a imagem quando li a notícia da sua morte, há uns anos. No entanto,

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O luxo da conversa inteligente
Cinema e Audiovisual
Ana Isabel Soares

O luxo da conversa inteligente

18 de janeiro de 2007 foi uma quinta-feira. Foi um dos primeiros dias que passei na Universidade de Stanford e a data em que vi pela primeira vez Robert Pogue Harrison. Ouvira falar dele na véspera, quando tudo me era novidade. Os outros professores contavam-me que ele estivera internado, com um grave problema de coração – vim a saber mais tarde que estivera em paragem cardíaca, que roçara a morte e se salvara por um

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A Cultura confinada no Castelo
Artes Performativas
Gonçalo Carvalho Amaro

A Cultura confinada no Castelo

Texto de Gonçalo de Carvalho Amaro, autor convidado. _ Uma Cultura medievalizante? Em 1922, numa Áustria ainda a recuperar do fim do império, cerca de duas décadas após a obra seminal de Riegl, O Culto Moderno dos Monumentos, Franz Kafka, já debilitado, escrevia O Castelo, um dos melhores retratos sobre a burocracia e como a mesma pode ser, ao mesmo tempo, uma arma contra a Cultura e um instrumento para quem aprecia o controlo férreo e integral

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Simpatia inacabada #6
Filosofia e História
Alda Rodrigues

Simpatia inacabada #6

A História Interminável   Nunca fui muito boa a escrever conclusões. Várias pessoas me disseram isto, no tempo em que tive professores. Por isso, nas respostas do Chat GPT encontro um traço distintivo que me parece invejável: uma estrutura com princípio, meio e fim. Como em muitos textos assim tripartidos, mesmo quando escritos por seres humanos, cada uma destas partes repete a mesma informação, mas com uma perspectiva ligeiramente diferente. É uma forma de simplificação

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A varanda da Maianga
Boa Vida
Marta Lança

A varanda da Maianga

1. “Sete e Meio”, assim ficou conhecido o apartamento na Maianga, em Luanda onde, entre 2005 e 2007, morei com artistas angolanos, Orlando, Kiluanji, Ihosvanny, Yonamine, Francisca e o bebé Njamy, os mais perenes, outros em temporadas de média duração[1]. Ficava num sétimo andar (e meio), num prédio de arquitetura moderna, semelhante aos edifícios da Avenida Estados Unidos da América, em Lisboa, mas degradado pela passagem do tempo e negligente manutenção. Bem localizado, dali podíamos

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Os músicos fingem que tocam, nós fingimos que os escutamos
Artes Performativas
José Carlos Fernandes

Os músicos fingem que tocam, nós fingimos que os escutamos

O episódio que se segue não só é verídico como certamente já se repetiu várias vezes, com pequenas variantes, pelo mundo fora: uma banda de adolescentes, em incipiente estado de maturação musical e que nunca saíra da sala de ensaios, recebe uma proposta para tocar numa festa da escola secundária. No derradeiro ensaio antes do Grande Dia, a excitação de subir a um palco pela primeira vez é moderada por alguma lucidez: é óbvio que

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Teatro Cósmico #4
Artes Performativas
José Maria Vieira Mendes

Teatro Cósmico #4

Andar e cair Quando uma criança cai desamparada na rua (e é frequente as crianças caírem), logo um adulto prestável estende o braço para a levantar, os pais correm para a libertar do chão e a criança atarantada mostra no olhar uma espécie de incompreensão perante a movimentação e a rapidez da reação crescida. Não a deixam estar no chão, deitada, porque a prostração é sinal de dor, de incapacidade ou de vergonha. Reza a

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Crónica
Literatura
Inês Brasão

Crónica

Quando eu andava na escola primária, subia a Rua Arquiteto Paulino Montez e despedia-me da Cláudia um pouco antes de chegar a casa. Não éramos bem vizinhas, porta a porta, mas quase. A Cláudia era irmã do Albertino e de mais três irmãs.  A casa era de esquina e tinha um pátio gigante. Naqueles tempos, era um pátio gigante, mas há dias passei por ele e pareceu-me minúsculo. O Albertino, seu irmão, fez-se Beto. Assim

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2023: dez canções para um ano de transição

2023: dez canções para um ano de transição

2023. Que ano, 2023. Aconteceu muita coisa, não foi? A guerra no continente europeu continuou, sem grande resolução à vista. A situação no Médio Oriente voltou a piorar, e os preços das coisas em geral subiram um pouco por todo o lado, tanto quanto o número (e volume) de sotaques

Há mar e mar, há veenho e voltar

Há mar e mar, há veenho e voltar

No dia 30 de junho, os Veenho, uma banda lisboeta composta por Martim Brito, António Eça, Xixo e Gonçalo Formiga, lançou o seu terceiro disco, Lofizera. O álbum foi produzido pela própria banda e é editado pela Xita Records. Este disco é a concretização de uma promessa iniciada no segundo

Uma beleza mitológica: sobre um concerto dos <i>Big Thief</i> em abril

Uma beleza mitológica: sobre um concerto dos Big Thief em abril

Passei muito tempo fixado na figura de James Krivchenia, colocado numa das pontas do palco, com uma camisa clara e calções, óculos quadrados e barba, careca, e com algum cabelo comprido. Lembra-me a figura de David Berman, vocalista dos Silver Jews, numa fotografia em que este está sentado num sofá,

O luxo da conversa inteligente

O luxo da conversa inteligente

18 de janeiro de 2007 foi uma quinta-feira. Foi um dos primeiros dias que passei na Universidade de Stanford e a data em que vi pela primeira vez Robert Pogue Harrison. Ouvira falar dele na véspera, quando tudo me era novidade. Os outros professores contavam-me que ele estivera internado, com

A Cultura confinada no Castelo

A Cultura confinada no Castelo

Texto de Gonçalo de Carvalho Amaro, autor convidado. _ Uma Cultura medievalizante? Em 1922, numa Áustria ainda a recuperar do fim do império, cerca de duas décadas após a obra seminal de Riegl, O Culto Moderno dos Monumentos, Franz Kafka, já debilitado, escrevia O Castelo, um dos melhores retratos sobre a burocracia

Simpatia inacabada #6

Simpatia inacabada #6

A História Interminável   Nunca fui muito boa a escrever conclusões. Várias pessoas me disseram isto, no tempo em que tive professores. Por isso, nas respostas do Chat GPT encontro um traço distintivo que me parece invejável: uma estrutura com princípio, meio e fim. Como em muitos textos assim tripartidos,

A varanda da Maianga

A varanda da Maianga

1. “Sete e Meio”, assim ficou conhecido o apartamento na Maianga, em Luanda onde, entre 2005 e 2007, morei com artistas angolanos, Orlando, Kiluanji, Ihosvanny, Yonamine, Francisca e o bebé Njamy, os mais perenes, outros em temporadas de média duração[1]. Ficava num sétimo andar (e meio), num prédio de arquitetura

Os músicos fingem que tocam, nós fingimos que os escutamos

Os músicos fingem que tocam, nós fingimos que os escutamos

O episódio que se segue não só é verídico como certamente já se repetiu várias vezes, com pequenas variantes, pelo mundo fora: uma banda de adolescentes, em incipiente estado de maturação musical e que nunca saíra da sala de ensaios, recebe uma proposta para tocar numa festa da escola secundária.

Teatro Cósmico #4

Teatro Cósmico #4

Andar e cair Quando uma criança cai desamparada na rua (e é frequente as crianças caírem), logo um adulto prestável estende o braço para a levantar, os pais correm para a libertar do chão e a criança atarantada mostra no olhar uma espécie de incompreensão perante a movimentação e a

Crónica

Crónica

Quando eu andava na escola primária, subia a Rua Arquiteto Paulino Montez e despedia-me da Cláudia um pouco antes de chegar a casa. Não éramos bem vizinhas, porta a porta, mas quase. A Cláudia era irmã do Albertino e de mais três irmãs.  A casa era de esquina e tinha