Poeta desconhecido e deslumbrado, nasceu em Verride, perto da Figueira da Foz, em 1950. Publicou dois livros de poemas: o primeiro em Setembro de 1974 e o segundo em Junho de 1975. Numa entrevista feita por ele a ele (“uma recriação do espaço transbordante da recusa mercantil do mediatismo“) e publicado sob a forma de anúncio pago no Diário de Lisboa, em 1977, explicou as suas raízes literárias:
” Vivi muito tempo na ilusão de Yevtuschenko, li e reli “Stantsiia Zima”, mas depois compreendi que o poeta é um soldado das massas, existe para as servir. Yevtuschenko cheira mal da boca”.
Não deixa de ser notável que Rui Amália tenha tido acesso a Stantsiia Zima editado em 1956 na URSS. Provavelmente obteve uma tradução francesa. Seja como for, com Yevtuschenko caído em desgraça Rui Amália também o deixa cair e dedica-se à celebração revolucionária. Os poemas publicados nesses anos quentes exibem a extrema lucidez do soldado do povo. Este verso, extraído de Afoguemos a reacção e escondamos as bóias (1975), é fabuloso:
Neste mar plúmbeo que é de todos,
da Figueira da Foz a Murmansk,
da Tocha a Luanda,
atemos chumbos aos pés dos piratas
que outrora enredavam os descalços
nos seus arrastos de procelárias.
Sabe-se pouco do percurso de Amália nos anos 80. Professor do ensino secundário, teve a vida dificultada pela incompreensão da burocracia ministerial. Dado a sintomas psicossomáticos, foi obrigado a interromper a docência por longos períodos. Tinha fases em que enormes borbulhas azuis lhe cobriam o corpo, ainda que os médicos recusassem testemunhar o fenómeno.
Nos anos 90 ia com frequência a Lisboa conviver com literatos. Ajudou Eduardo Prado Coelho a atravessar uma passadeira na rua do Salitre e punha-se à porta da casa de Maria Teresa Horta na esperança de beber inspiração. Um desagradável mal-entendido com uma amiga da escritora levou-o a tribunal, mas tudo ficou sanado porque Rui Amália passou a considerar o círculo lisboeta como “algo fechado” e recolheu a Verride.
Rui Amália morreu em Abril de 2006, mas escapou ao cliché do poeta desterrado e miserável. Em 1997, um cunhado arranjou-lhe emprego de porteiro no casino da Figueira. Recebia boas gorjetas que não gastava em gelados.