George Carlin e a Verdade na Comédia

“Dentro de cada cínico, existe um idealista desiludido”

Quando comecei a escrever na Almanaque, o Vasco M. Barreto pediu-me que não escrevesse sobre o estafado tema dos limites do humor. Aceitei, mesmo tendo em conta que isso era um limite ao humor, pelo menos o meu, e que alguns números mais tarde haveria uma excelente entrevista sobre o assunto na revista.

Calhou bem, a dita entrevista tornaria pueril tudo o que eu escrevesse sobre a matéria. Mas hoje, regresso ao mesmo via George Carlin, autor do seminal “7 palavras que não podes dizer em televisão”, que estive para adaptar para o título desta crónica “Sete palavras que não podemos escrever na Almanaque”. 

Achei, no entanto, que não podia prestar pior serviço à memória de George Carlin do que mentir logo no título. Na verdade, ainda não encontrei nenhuma palavra que me fosse proibida, tirando as que voltam para trás na revisão. E essas, dada a minha nabice ortográfica e a mania de escrever misturando os dois AO aceitáveis, são seguramente mais de 7.

George Carlin, já lá iremos à biografia, está no Monte Rushmore do Stand-up, reverenciado, e por boas razões, por todos os comediantes e grande parte do público do género. 

Não é, pois, estranho, que ele seja invocado para estas magnas questões da liberdade de expressão, ele, que foi censurado, ele, que teve um caso levado até ao Supremo em que foi derrotado, permitindo o tribunal que os detentores das ondas hertzianas pudessem censurar os conteúdos nelas disponíveis, ele, que com os seus especiais na HBO voltou a estender os limites da linguagem para televisão, agora nos canais do cabo.

Mais estranho é que ele seja citado pelos dois lados da contenda, cada um deles usando a parte que lhe convém de um excerto de uma entrevista de George Carlin ao também lendário Larry King, na CNN, que podem ver aqui.

A pergunta é feita em relação a um comediante de Stand-up, Andrew Dice Clay, conhecido pelos seus sets frequentemente homófobos, misóginos e racistas. 

O lado dito “politicamente correcto” foca-se na parte da resposta em que George Carlin considera que um humor punching down, ou seja, que tenha por alvo os mais frágeis e desprotegidos, as minorias, os underdogs, é algo que não lhe interessa fazer, que tinha evoluído nesse sentido e que esse era um limite que impunha a si mesmo, ou um limite que respeitava. Recordava que o dito comediante era judeu e que os judeus costumavam estar na lista dessas pessoas que gostavam daquele tipo de humor. Quem eram? George Carlin, antes do tempo, define o que é um Incell, um jovem branco, que se sente ameaçado no seu domínio e na sexualidade, por homossexuais, por mulheres assertivas e na vida profissional por grupos étnicos que ele sente poderem roubar-lhe o emprego. Mais do que humorísticos, os espectáculos transformam-se assim numa espécie de celebração de ódios e vieses comuns entre os participantes.

Do lado dos absolutistas da liberdade de expressão, o foco centra-se no momento em que ele declara que acha que o colega tem o direito de escrever o que quiser e que ele, Andrew Dice Clay, provavelmente não acredita no que diz e que o faz pelo efeito cómico.  

Outra questão que mostra a nossa tendência de tirarmos só o que nos dá jeito de um argumento complexo, cheio de nuances, embora quase sempre hilariante de George Carlin, é o modo como os dois lados da questão ambiental o tomam como quase profético.

O lado céptico sobre as alterações climáticas pega na diatribe dele sobre as mesmas, sobre a arrogância humana em achar que pode dominar essas mesmas alterações, que afirma que as extinções em massa sempre fizeram parte da história do planeta e que a nossa existência enquanto predadores alfas é recente, para cobrir de ridículo os “defensores” do meio ambiente. Esquecem-se para isso da punch-line: o planeta vai continuar, nós é que não. Os defensores do meio ambiente, naturalmente, centram-se na punch-line, e relembram que a arrogância deles é nada, comparada com a daqueles que, através da industrialização, agricultura, etc., se alcandoraram em senhores do mundo com poder para o alterar e dominar e que agora, se não arrepiarem caminho, serão, como Carlin profetiza, extintos.

O que é que caracteriza então o humor de Carlin que o torna primus inter pares e, na minha opinião, o mais influente, sobretudo no registo de Stand-up?

  1. a) A sua história e evolução, de que falaremos mais adiante.
  2. b) O carácter prolífero do seu trabalho. Há muita gente, eu próprio me inclino nesse sentido, que considera ser impossível ou altamente improvável conseguir criar uma hora de comédia, no fundo um especial de Stand-up, todos os anos, mantendo um standard elevadíssimo de qualidade e frescura, devido não só às dificuldades inerentes da escrita, mas também a energia, presença de palco e memória que isso exige para tarimbar ou maturar esse material. George Carlin era a prova quase única de que isso era possível e a quantidade de anos em que se reinventou sucessivamente elevou-o ao estatuto de GOAT. O facto de quase todos os que tentaram emular esse feito terem, com alguma rapidez, decaído, sem nunca terem chegado aos seus píncaros provam isso.

Ao contrário, por exemplo, de Seinfeld, que mantinha durante anos o mesmo set, aperfeiçoando obsessivamente cada bit até atingir a dita perfeição (na opinião dele), numa lógica próxima dos concertos pop/rock, em que queremos que a nossa banda toque os hits mais conhecidos, George Carlin todos os anos deitava fora o material do ano anterior e começava do zero, até chegar ao Especial. Uma hora de rotinas novas, todos os anos, era essa a rotina  que se auto-impôs, uma brutalidade criativa que seria uma espécie de desafio para herdeiros seus, como Louis CK ou David Chapelle.

  1. c) Paradoxalmente, ou talvez não, com a alínea anterior, o humor de George Carlin tem a raríssima qualidade de ser intemporal. Ao combinar duas características – o punching-up verdadeiramente iconoclasta e provocador das suas diatribes, no duplo sentido de nos fazerem pensar e no desrespeito pelo status quo, centrado em grandes instituições, centros de poder e  religião, e a recusa do uso de muletas como, por exemplo, os políticos du jour, ou os acontecimentos do dia –, George Carlin consegue manter a frescura do seu material. 
  2. d) Carlin é um mestre absoluto da linguagem, uma versão engraçada de Chomsky, no sentido em que conseguia desmontar humoristicamente palavras e conceitos, revelando o que na verdade que lhes está subjacente. Produto e produtor da contracultura, com Lenny Bruce, foi pioneiro deste modo de decompor a realidade, revelando as suas sucessivas camadas, mas ao contrário de Bruce, sobreviveu, talvez por não se colocar ele mesmo no olho do furacão. Se Bruce decompunha os processos por obscenidade instaurados contra ele e os transformava em Stand-up, que geralmente acabava com ele a ser novamente preso, George Carlin possuía uma capacidade de síntese genial, como demonstra o seu icónico e iconoclasta bit sobre os 10 mandamentos. Reparem como George Carlin, educado num colégio de freiras em Nova Iorque, vai retirando aos mandamentos tudo o que neles é supérfluo, depurando-os até à sua essência.

É nesta linha que se insere o já mencionado “Sete palavras que não podes dizer na televisão”,, que lhe valeria ser preso, como ele contaria a Johny Carson, no Tonight Show.

Reparem no modo como George Carlin decompõe as palavras, revela o que está por detrás da sua proibição e o quanto ela é ridícula. Um verdadeiro manual prático da liberdade de expressão. 

O meu preferido é, no entanto, aquele em que George Carlin centra a sua observação nos eufemismos. Todos os segredos, técnicas e razões de ser das manipulações de que somos alvo todos os dias nos meios de comunicação e redes sociais são revelados aí. O eufemismo é revelado, paradoxalmente, sem eufemismos, como o modo preferencial escolhido para nos fazer pensar de uma certa maneira e, sobretudo, fazer com que deixemos de nos importar. É verdadeiramente o gémeo simbólico do hiperbolismo, com que tentam fazer com que nos importemos com coisas que na verdade pouco ou nada têm de relevante. George Carlin demonstra como a designação de uma doença (aquilo que nós hoje designamos por stress pós-traumático de guerra) foi sendo progressivamente diluída, de eufemismo em eufemismo até à indiferença final em mandarmos jovens para a guerra.

Nos dias em que escrevo esta crónica, Israel bombardeia sem cessar a faixa de Gaza, assassinando milhares de civis, entre eles uma quantidade descoroçoante de crianças, justificando isso como sendo a retaliação ao assassínio de 1300 civis israelitas e não só, entre eles crianças, pela organização terrorista Hamas.

Não vou entrar nessa discussão. Uso apenas o tema para ilustrar que lemos manchetes a dizer que, por exemplo, morreram 30 pessoas num hospital em Gaza. E que foram barbaramente raptados e assassinados jovens que dançavam num festival de música. Substituir ser barbaramente assassinado por morrer, não é neutral. No hospital essas 30 pessoas foram assassinadas por bombas. O eufemismo serve sempre, conscientemente ou não, para desumanizar, diminuindo assim a nossa empatia e, por consequência, o nosso interesse em ajudar ou em impedir que o que foi relatado volte a acontecer. É, provavelmente, a mais eficaz arma dos sistemas que nos regem. 

  1. e) Por último e não menos importante, antes pelo contrário,George Carlin é hilariante. E isto é essencial. George Carlin podia ter toda a razão do mundo, ou nenhuma, aos olhos do público e da razão. As suas actuações são, afinal de contas, como ele próprio definiu, peças de retórica. Mas o que as distingue é que têm mesmo piada e, também por isso, o seu efeito não é confinável àqueles que concordam com o que ele diz. Rimo-nos, mesmo quando não concordamos, concedemos atenção e pertinência porque nos estamos a rir. George Carlin não esquece, em momento algum, que a comédia tem de ter piada. Ter razão, por mais importante que seja, não é o mais importante. Pregar para o coro, traduzindo literalmente “preaching to the choir” era, para ele, fruta fácil de apanhar. 

E é aqui que muitos de nós, herdeiros de George Carlin, seus discípulos, normalmente falhamos, deixando sem resposta a questão de saber se o público ri porque estamos a ter piada ou, simplesmente, porque estamos a dizer coisas com que ele concorda, caucionando os pensamentos e instintos de quem está a assistir, tornando-os mais confortáveis e palatáveis. E isso vale quer para os liberals americanos, ou pessoas de esquerda como eu, como vale para o extremo oposto do espectro político/social. Ou seja, vale para todos.

Voltando à questão do punching up/punching down, estamos a rir, por exemplo de uma piada sobre a violação, porque tem graça? Porque está do lado da vítima? Porque está do lado do violador? A dor que a “piada” pode causar é caucionada pela graça que tem? Eu diria que não há temas tabu, mas sim abordagens tabu. Ao mesmo tempo, traidor me confesso, não considero que uma piada seja um valor absoluto.

Mas que anda lá perto, anda. Está nos genes de quem faz do humor vida sentir isso e atravessar o risco, mesmo sem saber, em busca desse Graal. Pagando o preço por isso.

George Carlin praticava com mestria absoluta o punching up mais elevado, o religioso, batendo-se contra a Religião e a Ideia de Deus que ela promove.

Não esqueçamos que Deus, nas suas várias designações, mono e politeístas, tem sido o pretexto para guerras, torturas, imposição de costumes, estruturas de poder e, sobretudo, como George Carlin novamente de forma hilariante expõe, modo de ganhar muito dinheiro sem que os explorados se queixem.

Como é que George Denis Patrick Carlin, nascido em Nova Iorque, a 12 de Maio de 1937, se transformou no George Carlin?

Muitas das respostas podem ser encontradas no brilhante documentário de Judd Appatow “George Carlin, American dream” que pode ser visto no canal HBO Max, ou na entrevista que ele deu a Jon Stewart por ocasião dos 40 anos de carreira,  ou nas várias feitas a Larry King e Charlie Rose,  já para não falar dos seus livros e entrevistas.

Os pais de George Carlin, Mary e Patrick John Carlin, americanos de ascendência irlandesa, separaram-se pouco depois de ele, o segundo dos filhos, nascer. Como católicos que eram, o divórcio não era opção, por isso Mary, vítima habitual de violência doméstica, tal como o irmão de Carlin, cinco anos mais velho que ele, decidiu fugir de Patrick. Este era, segundo a própria, um anjo na rua e um demónio em casa, o que, entre outras razões, era explicável pelo alcoolismo dele.

George Carlin acabou por não chegar a conhecer realmente o pai, pois tinha oito meses quando a mãe fugiu com ele e o irmão, para casa de familiares, e oito anos, quando ele faleceu vítima de um ataque cardíaco fulminante. Paradoxalmente, George Carlin atribuía os seus dotes oratórios ao pai, conhecido por ser um extraordinário contador de histórias capaz de captar a atenção e admiração de quem o ouvia.

Não foi só dele que George Carlin herdou a vontade de ser o centro das atenções. Mary, a mãe, também ela uma excepcional contadora de histórias e um caso típico de narcisismo doentio, para quem o filho, tirando períodos de grande sucesso, nunca estava à altura dos seus desejos e necessidades, tendo desenvolvido com ele uma relação no mínimo tóxica, como veremos mais tarde.

Passando a sua infância durante a Segunda Guerra Mundial, praticamente sozinho em casa, pois Mary tinha de trabalhar,George Carlin apaixonou-se pela rádio, pelas histórias que contava, pelos comediantes e pelas personagens deles. Começou ele próprio a criar as suas pequenas histórias, gravando-as e, aos 11 anos, já sabia que na sua vida só poderia vir a ser uma de três coisas: DJ de rádio, comediante ou actor de cinema, de preferência o grande Danny Kaye.

Crescendo no, assim designado pelos próprios, Harlem Branco, Morningside Heights de seu verdadeiro nome, situado nos limites do Harlem Negro e do Porto-riquenho, George Carlin frequentou a escola católica Corpus Christi gerida por freiras, até desistir, ao 9º ano, por causa de inúmeros problemas disciplinares. 

É também provável que esse período tenha sido fundamental para a escolha de Deus, mas sobretudo da Religião organizada, como um dos alvos favoritos da sua comédia, o derradeiro punching-up.

A desistência da escola significou também que George Carlin se tornou o “filósofo dos humoristas” de modo absolutamente autodidacta, governado apenas pela sua curiosidade natural e uma capacidade única para criar pontos de vista e desconstruir a realidade, revelando a sua natureza verdadeira.

A verdade.

Aos 17 anos George Carlin decide sair de casa e emancipa-se para poder ingressar na Força Aérea. Quer ser operador de rádio, DJ. O certo é que se George Carlin não se dava bem com as autoridades familiares e eclesiásticas, não faria melhor com as militares, sendo submetido três vezes a conselho de guerra, pelo tribunal militar da Força Aérea. Era obviamente culpado e, ainda mais obviamente, não fora feito para guerrear, parafraseando a contrario o Miguel Guilherme no “Non ou a vã Glória de mandar”.

Livre da tropa, sem emprego, George Carlin começa a frequentar clubes de comédia, onde conhece Jack Burns, com quem criaria a dupla de comédia Carlin and Burns.

Se George Carlin era o produto de uma educação católica, conservadora, de direita, republicana, Burns era o reverso dessa medalha, liberal, no sentido americano, de esquerda.  

É também aí que descobre o seu primeiro mentor, o enorme Lenny Bruce.

A amizade entre os dois começa num dos clubes onde Bruce actuava e onde foi, como acontecia com regularidade espantosa, preso por violar as leis da obscenidade. Interrompido o espectáculo, George Carlin recusa-se a ser identificado pela polícia e é também levado para a esquadra, nas traseiras do carro patrulha que transportava Bruce. Conta-lhe o que se passou, que estava preso ali em solidariedade com ele, ao que Bruce terá correspondido chamando-lhe Schmuck, algo próximo do nosso “otário”.

O certo é que George Carlin e Burns, ambos de sóbrios fatos escuros, gravatas finas se tornam uma presença regular em alguns programas de variedades, que asseguram as digressões do duo.

Mas a ambição de George Carlin é ser solista e o duo desfaz-se. George Carlin continua em digressões, durante algum tempo sustentado pela breve popularidade que atingira. Acaba por ir parar a Dayton, onde, no final do espectáculo, conhece Brenda, a quem pergunta aonde é que se pode ir beber mais um copo. Ela leva-o para casa. Cinco semanas depois estavam os dois casados e Brenda tinha largado tudo para seguir em digressão com ele. O casamento duraria até à morte de Brenda, em 1997. Estávamos em 1961.

Rapidamente Brenda engravida, nasce Kelly, a filha única de ambos, e os três continuam em digressão. O dinheiro que ganham com os espectáculos mal paga as deslocações.

George Carlin decide voltar a Nova Iorque e ficar a trabalhar nos clubes da cidade durante um ano. 

Brenda é remetida para o papel de dona de casa,George Carlin não quer que ela trabalhe e sim cuide de Kelly. A mudança é terrível para Brenda, até porque ambos começaram a desenvolver as suas toxicodependências, ela do álcool e ele de cocaína. 

George Carlin sente que este é um momento de viragem. Tem de ser ele a sustentar a família. 

Começa a participar regularmente em programas de variedades na TV, entre eles o de Merv Griffin, onde cria várias personagens e faz monólogos, como, por exemplo, um sobre como nos filmes de cowboys só vemos o lado deles a prepararem-se para a batalha. George Carlin faz o mesmo, só que do lado dos índios.

O sonho de ser Danny Kaye não tinha morrido e George Carlin e a família mudam-se para Hollywood em 1966. Carlin junta-se ao imensamente popular programa de variedades de Jon Davison, onde forma uma dupla com outro membro do Mount Rushmore do Stand-up americano, Richard Pryor.

Estamos em plena década de 60, a contracultura está cada vez mais a ocupar um espaço predominante nas artes americanas e George Carlin continua preso a personagens como o seu famoso meteorologista hippie, que sendo imensamente populares, não o satisfazem.

Começa a introduzir dogwhistles para os mais jovens, apercebendo-se da clivagem que se está a estabelecer entre a geração que está nos seus 40 e os seus filhos, a entrar na casa dos 20 e a serem forçados, muitos deles, a entrarem numa guerra injusta.

Por seu lado, Brenda está cada vez mais infeliz. Desenraizada em Los Angeles, sem trabalho e com George Carlin a passar cada vez mais tempo na televisão,  recomeça a beber, vítima do seu alcoolismo. George Carlin contrata um motorista por não confiar nela para levar a filha à escola. Estão por um fio.

É nesta altura que se dá a mudança para o segundo acto da carreira de George Carlin, aquele que fez com que Stephen Colbert o comparasse aos Beatles, com a transição brusca entre canções ao estilo de Love me do, para o White Album.

E tal como aconteceu com os Beatles, a mudança é também estética: George Carlin abandona os fatos, deixa crescer a barba e o cabelo. 

Por fim, começa a experimentar com LSD. E é a partir daí que descarta a sua persona artística anterior. George Carlin quer ser, antes de mais nada, autêntico, ele mesmo, falar a sua verdade, encontrar a sua voz. Começa a aparecer em espectáculos com a sua efígie em cartão, o seu retrato de fato escuro e gravata, a barba feita. Afirma que aquele George Carlin, de quem gostou muito, na verdade nunca existiu. É, como podem ver, afirmava, uma fachada, bidimensional. Ele era o verdadeiro.

Na guerra entre as duas gerações, George Carlin escolhe a mais nova.

Os resultados são, como era de esperar, financeiramente ruinosos. O novo material é detestado pelo antigo público de George Carlin: Depois de uma primeira parte desastrosa é cancelado no clube Playboy, o seu contrato anual num hotel casino em Vegas, onde recebia um chorudo cachet é revogado e ele despedido por ter dito merda ( “shit”) num dos sets.

Falido, perseguido pelo fisco, George Carlin só vê uma solução: ir à procura do público dele. Onde? Num dos grandes bastiões da contracultura na época: as universidades.

Brenda não apenas aceita, como rejubila com a nova oportunidade de fazer parte da vida do marido. Como ele afirmará mais tarde, a reacção dela aos planos dele foi responder “vou fazer os teus dossiers de imprensa”.

George Carlin encontra finalmente quem esteja disposto a apoiar o seu trabalho, sem reservas ou censuras. Não é televisão, é a edição de álbuns de comédia.

Class Clown é um álbum seminal para toda uma geração de comediantes americanos. Crianças ou adolescentes, quando ele saiu, não podiam deixar de ficar siderados. Não era só pela comicidade, mas sim, sobretudo, por todos os interditos dinamitados por George Carlin, fazendo-os rir de assuntos sobre os quais nem sequer era suposto falarem. Mas o fascínio que levou comediantes tão diferentes como Seinfeld, Bill Burr, ou Colbert dizer que queriam ser como ele passa também pela sua mestria no uso da palavra certa, precisa, na capacidade única de criar uma cadência no fraseado que é distinta de todas as outras e no uso da sua voz preciosa, que através de mudanças de tom conseguia acrescentar ainda uma nova camada de comicidade, às vezes baseada apenas no modo como entoava determinadas sílabas.

Na minha opinião, George Carlin é um Frank Sinatra que tivesse escrito as próprias letras das canções. A sua dicção, cadência, o seu modo de narrar uma piada, ou uma história, são não só distintivos, como, simplesmente, melhores.

George Carlin define o seu trabalho, no final dos anos 60, princípio dos anos 70 de uma forma que ainda hoje podia ser cooptada por boa parte dos comediantes: “O meu trabalho é pensar em coisas divertidas, irónicas e absurdas. E divirto-me a pensar nelas, em transformá-las nas melhores palavras possíveis e a fazer Stand-up com elas.”

A sua dependência da cocaína só se agravara, entretanto. George Carlin relata semanas, sempre em digressão, sem nunca ir à cama para dormir, mal se alimentando.

Como tudo, transforma a sua dependência, a doença dele e da sociedade americana num tema.

Começa superficialmente: o “Drug Problem” é a ausência de drogas, continua, explorando o tema da hipocrisia em volta do consumo: as duas drogas mais temíveis, o tabaco e o álcool não só são legais, como o Estado lucra com elas.

Rapidamente vai ao âmago da questão, que ainda hoje vemos reflectida nos EUA e no mundo ocidental: para GeorgeCarlin, os EUA são uma “drug-oriented society”, como a crise dos opióides claramente demonstra. Tomam-se comprimidos para acordar, dormir, emagrecer, quando se está triste, quando se está demasiado alegre. Para tudo. É um negócio lucrativo que deixa o povo submisso.

É preso em Milwaukee em 1972, durante um concerto. Ainda e sempre aqueles que eram tomados como os últimos estertores censórios, o que se revelaria, como nós bem sabemos, excessivamente optimista.

É Brenda quem conta a história no documentário assinado por Appatow, para a HBO: Ela está no camarim, dizem-lhe que a polícia está ali para interromper o espectáculo e deter George Carlin. Brenda imediatamente percebe que esse não é verdadeiramente o perigo. Este consiste no facto de George Carlin estar com doses de cocaína na posse dele, algo muito mais grave que as obscenidades ou a perturbação da paz de que iria ser acusado, sobretudo tendo em conta que o crime era federal. Brenda antecipa-se, invade o palco, com um copo de água, avisa o marido. A polícia entra por um lado do palco, George Carlin sai pelo outro, deitando fora as drogas que tinha em sua posse antes de ser detido.

O julgamento é, em si, cómico. 

Os agentes não conseguem explicar por palavras deles as obscenidades e o seu contexto e George Carlin é forçado a apresentar o seu espectáculo a um juiz que passa boa parte da audiência de mãos à frente da boca para ninguém se aperceber de que ele se está a rir. O procurador insiste na condenação de George Carlin, mas o seu próprio adjunto é chamado a depor. Tinha ido ao espectáculo, pago o bilhete e acaba por afirmar que não houve perturbação da paz, declara-se fã.

O embate seguinte com o sistema jurídico americano começa, como a proverbial borboleta a bater asas, de modo muito simples: um pai vai com o filho menor no carro a ouvirem rádio. Uma das faixas do álbum de George Carlin passa no éter. O homem, puritano, sente-se abusado, tanto ele como o filho. Não são coisas que se espere ouvir àquelas horas, na rádio, sem aviso. Em nenhum momento ocorre ao perturbado senhor sintonizar outra estação. 

A poderosa FCC (Federal Comunications Comission) intervém. Quer fazer de George Carlin um exemplo e os tribunais decidem dar-lhe razão, com uma decisão de 5-4 contra o humorista no Supremo Tribunal, de maioria conservadora.

De nada servirá a George Carlin então, como não serviria provavelmente hoje, tentar explicar que não são as palavras o que realmente importa, é o contexto, pois dele é que se pode inferir não só o significado, como a intenção do uso das mesmas.

A trágica ironia é que as ditas obscenidades são usadas por ele, precisamente para desarmadilhar as palavras, desconstruindo-as. Algo que o seu amigo Lenny Bruce tinha executado na perfeição, num número de corda bamba disfarçado de Stand-up, aqui reproduzido verbatim por Dustin Hoffman no biopic sobre o grande comediante

George Carlin exemplifica por seu lado: pode dizer cock e sucker separadamente sem interferência da censura. Se as juntar, lá vem multa. Ass e Hole separados, óptimo, juntos são obscenos. Tudo é moralista, hipócrita e, sobretudo, aleatório. 

Afinal de contas há 400 mil palavras contabilizadas nos dicionários de inglês e só sete é que são proibidas. 

Apesar de tudo, a censura não era o maior problema que George Carlin enfrentava na sua carreira e vida pessoal em meados dos anos 70.

Tal como o movimento de contracultura, a sua popularidade continua a diminuir. Paradoxalmente, a contracultura torna-se o establishment a ser derrubado.

E nomes como Steve Martin, com o seu Stand-up inovador, surrealista e surpreendente, ou a dupla Cheech and Chong estão no topo dessa nova onda.

George Carlin, pressionado não só por ter de sustentar três famílias – a dele com Brenda, a do irmão e a da filha –, começa a tornar-se repetitivo. O seu word play permanece, mas agora perdeu viço, substância e relevo.

Ainda é convidado para a sessão inaugural do Saturday Night Live, mas a sua nova travessia do deserto está a tomar forma e nada mais sintomático disso que o momento em que Cheech Marin o proclama obsoleto.

Como em todos os movimentos artísticos, o novo tinha-se tornado o establishment e agora era derrubado pelo novo “novo”.

Para piorar as coisas, a saúde de George Carlin começa a claudicar. Seja pela sua vida de excessos, seja por razões genéticas herdadas do pai, o seu coração é frágil. Sofre dois ataques cardíacos graves, um deles durante um jogo de baseball.

Brincará com a situação e com o seu amigo Richard Pryor. “Estou a ganhar ao Pryor, dois ataques cardíacos contra um, mas ele está a ganhar em uma incineração vivo a zero, por isso estamos empatados.”

Tem ainda um grave acidente de automóvel que lhe desfaz a cara.

No meio disto tudo, os problemas com o fisco continuavam, as receitas de cada espectáculo eram imediatamente penhoradas, o que obriga George Carlin a não parar, na tentativa de conseguir pagar as suas dívidas e os juros associados.

Estamos nos anos 80, Reagan está no poder, o capitalismo proposto por Friedman e pelas Reagonomics regem o país, e uma onda de puritanismo evangelista varre a nação.

É neste cenário que, atravessando o deserto, George Carlin volta a transformar-se, também porque, segundo o próprio, é competitivo e se recusa a deixar-se ultrapassar pelos comediantes mais novos. Sabe que é bom, no que faz, só tem de o provar.

A HBO, originariamente um canal de cabo, pago, especializado na transmissão de combates de boxe em pay-per-view, prepara-se para o panorama da comédia de Stand-up nos EUA inventando o “Especial”. Uma hora de material de um comediante, escrito pelo próprio. 

George Carlin é um dos primeiros a ter um Especial. E passará a apresentar um a cada dois anos, em média, até morrer.

George Carlin é agora, nas palavras do próprio, verdadeiramente ele mesmo. “Demorei 45 anos a descobrir-me”, afirma, peremptório.

A verdade e a autenticidade são as suas pedras-de-toque. Dirá: “todos os comediantes contam histórias como se se tivessem passado com eles, e podem crer que são todas falsas. Eu não, tudo o que me ouvem contar no palco aconteceu-me mesmo.”

O seu ethos é representado pela sua frase “I always mean what I say and always go for it”. Quero sempre dizer aquilo que digo e é isso que tento sempre alcançar.

O primeiro espectáculo é sobre coisas. Uma crítica feroz à sociedade consumista, à necessidade permanente de ter “coisas” e de elas se terem tornado a verdadeira medida do sucesso.

George Carlin faz da elevação e desconstrução do comum uma forma de arte, os pequenos exemplos ilustram brilhantemente a sua tese: My shit is stuff, your stuff is shit.

Parece um wordplay simples, mas encerra nele a noção de que apenas nós somos importantes, a bipolarização, a recusa e morte da empatia, o maniqueísmo que ainda hoje, 30 e tal anos depois, é cada vez mais a marca das nossas sociedades.

George Carlin já não é os Beatles, é Miles Davis, David Bowie, conseguindo mais uma vez transformar-se e estar na vanguarda da sua arte. 

Considera o Stand-up uma arte menor mas, ao mesmo tempo, assume-se como escritor, desse modo elevando o seu Stand-up ao estatuto de verdadeira arte.

Define-se novamente: I’m not in show business, I’m a comedian”, recusa que o seu humor faça o público pensar, “isso seria o beijo da morte”. O seu objectivo é antes que o público perceba que ele está a pensar.

E George Carlin pensa, dedicando-se aos grandes problemas:

A Religião, as questões ambientais, mas sobretudo a sociedade em geral e a americana em particular.

“Um cínico é um idealista desiludido”, e nada o desilude mais que a América. Dirá: “só servimos hoje em dia para bombardear países de pessoas com peles castanhas e somos muito bons nisso”.

O sucesso explosivo dos Especiais leva-o a tentar experimentar um formato clássico da comédia americana, a sitcom. Cria o The George Carlin Show, que dura um ano e meio até ser cancelado.

Para George Carlin é um alívio. Prefere estar sozinho em palco, em digressão. Seinfeld, falando de ambos, diz “funcionamos melhor sozinhos, não somos bons colaboradores”.

George Carlin publica o seu primeiro livro, Brain Droppings, tornando oficial o que sempre foi, um escritor. 

Brenda, que é agora produtora executiva, na HBO, e que conseguiu parar de beber e é, há alguns anos, uma alcoólica em recuperação, descobre que sofre de cancro do fígado. 

A doença progride rapidamente, George Carlin desdobra-se entre digressões e a assistência à mulher. Está na estrada, quando é chamado de urgência para regressar a Nova Iorque. Brenda morre no Dia da Mãe em 1997.

A perda da mulher, ainda que um ano depois ele se tenha apaixonado e casado com aquela que o viria a acompanhar até ao fim da vida, Sally Wade, é um dos catalisadores para a derradeira fase da sua carreira.

George Carlin declara o seu desprezo por grupos de pessoas e pela própria sociedade, embora se confesse apaixonado pelo ser humano enquanto indivíduo. Denuncia a Religião organizada como o pior dos males, acusa-a de explorar a necessidade de ordem dos seres humanos apenas para os explorar e controlar e denuncia a sua crueldade e hipocrisia. Ataca as ortodoxias, de direita e de esquerda. Expõe a hipocrisia conservadora que se diz pro-life, mas só até ao nascimento da criança.

Afirma ainda que agora encarava tudo como uma comédia absurdista e que a sua indiferença relativamente ao resultado da experiência humana era o que lhe dava verdadeiramente a distância necessária para exercer a sua arte.

“Não podes importar-te e teres piada” dirá.

Vai mais longe:  “O que eu gosto é de ver a nossa espécie extinguir-se”, define os humanos como uma “rogue species” que decidiu pôr a propriedade antes das pessoas e a competição sobre a cooperação.

Em suma, temos o que merecemos, e o que merecemos é a nossa destruição. E isso é muito divertido.

Ainda: “bullshit is the glue that keeps this country together, good ol’american bullshit.”

A machadada final: “chamam-lhe o sonho americano porque é preciso estarmos a dormir para acreditar nele.”

Alguns celebram este aparente nihilismo. Há quem, como Bette Middler, pense que George Carlin era agora, um profeta, como Jeremias, um rei, como Lear, na sua derradeira batalha pela nossa alma. Os seus últimos Especiais eram isso, uma espécie de Last Stand. 

Outros, como Stephen Colbert, sentem que as trevas sem remissão que são agora a substância das diatribes de George Carlin, vão longe demais, ao negarem luz e esperança, ao recusarem sequer a possibilidade de outro caminho. O aparente deleite de George Carlin pelo nosso fim, enquanto grupo, choca.

Seria mesmo assim?

Numa das últimas conversas com o pai, pouco tempo antes de ele falecer Kelly Carlin confronta-o: “Se realmente não te importas, porque é que continuas a fazer isto?”

“You’ve got me there”.

Aos 71 anos, GeorgeCarlin é internado na Califórnia, para ser submetido a uma intervenção de rotina, ao coração. Não sobreviveu. Estávamos em 2008.

Anos antes, disse a Jon Stewart, numa entrevista celebratória dos seus 40 anos de carreira “a longevidade é uma coisa óptima, aplaudem-nos só por estarmos vivos.

O legado de George  Carlin não é subestimável.

Ele elevou o Stand-up ao ponto de não poder ser negado enquanto arte maior. Influenciou directamente gerações de comediantes, fosse pela sua atenção às coisas comuns e aos pequenos detalhes, como Seinfeld, fosse pela raiva pura contra a imbecilidade, como Bill Burr, fosse pela destreza linguística e capacidade de ver além nas estruturas de poder, como em Chapelle.”

Como Jon Stewart sublinha,George Carlin inventou o método científico da comédia: o modo como ele não só olha, mas também decompõe a realidade é a base do Daily Show e de todos os seus sucedâneos. Os discípulos de Stewart, a quem voltaremos certamente um dia, prolongam o legado de George Carlin, seja Colbert, afirmando que aprendeu com George Carlin a explorar uma ideia até aos limites do absurdo, seja Hassan Minaj, que lhe atribui o modo como organiza os seus espectáculos.

Outro dos legados fundamentais de George Carlin é o seu ethos de trabalho. Cada Especial dele está repleto de boas ideias, algumas excepcionais, mas o que impressiona também é o trabalho infindável de carpintaria na descoberta da palavra perfeita, da entoação ajustada, da pausa precisa. Tudo isso é trabalho, trabalho, trabalho. O génio de George Carlin é também o génio de nunca se deixar encostar ao seu talento puro. 

Finalmente, o legado final de George Carlin é a sua busca incessante da sua própria autenticidade, independentemente dos desejos do público. Como explicou num dos seus últimos espectáculos, ele não tinha em consideração o público, ou melhor, ele estava no palco por ele, e os espectadores estavam na plateia por causa dele. 

A autenticidade própria e o combate eterno à bullshit própria, alheia e estrutural. Tudo isso Carlin buscou e, se não atingiu, foi dos que ficou lá mais perto.

A “Verdade” será sempre uma das longas discussões em comédia. Ou mesmo em ficção. Se é certo que não é obrigatória, não o é menos que a sua invocação concede uma gravitas à comédia que prende a atenção e investe quem a está a ouvir no resultado da história.

Pessoas como George Carlin pavimentaram o caminho que Stewart, Colbert, John Oliver, etc. percorreram, levando-os a criar programas que são uma fonte primária de informação e compreensão do mundo que nos rodeia.

Nada disto, no entanto, é incontroverso, como a recente polémica levantada pela The New Yorker sobre o trabalho de Minaj e sua autenticidade demonstra.

Resumindo, a revista acusa-o de manipular histórias e usar falsas narrativas como sendo verdadeiras, ele defende-se dizendo que o que faz é expor verdades emocionais, não exactamente como as coisas se passaram, mas sim como ele as sentiu. E essas são autênticas.

A discussão da verdade em comédia não será o menor dos legados de George Carlin e é com ele que termino. Para a ele voltar numa próxima oportunidade.

PS:

Já depois de ter entregue este pequeno artigo, deparo-me com a prova viva de que George Carlin, mesmo depois de morto, continua a ser, ainda que involuntariamente, pioneiro. Uma empresa chamada Dudesy, que trabalha em Inteligência Artificial, lançou no Youtube um novo Especial de comédia, criado por inteligência artificial a partir do material dele.  

Imediatamente processados pela filha de George Carlin, serão agora os tribunais americanos a dirimir razões e estabelecer o que é ou não permissível fazer, mesmo se debaixo da capa de homenagem póstuma. Todas as grandes questões que têm sido levantadas no que diz respeito a plágios, autorias, direitos, etc. em relação à Inteligência Artificial estão agora sob um novo holofote.

Homenagem, pastiche, falsificação, reencarnação de George Carlin via computador, as águas vão novamente dividir-se a propósito disto. Uma controvérsia sobre a qual, não duvido que o próprio dedicasse um ou mais Especiais. 

Provavelmente é da minha provecta idade, mas eu preferia que o legado de George Carlin permanecesse intacto e não expandido. A verdade e a criatividade humana, duas das pedras angulares da sua obra assim o indicam e exigem.

Ou então isso é também por saber que provavelmente esta versão de pacotilha continuará a ser melhor que 90% de nós e isso é também desmoralizante.

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