Parte da pintura de Lia Ferreira para a capa do Nº 5 da Almanaque

A mim é que me dói a paciência[1]

Diatribe feminista


Quando fiz a capa deste Março da Almanaque, tencionava fazê-la acompanhar-se de um texto, que já não será este, assinalando o Dia Internacional da Mulher.


Ao longo dos anos, escrevi alguns textos assinalando a data, e muitos outros tratando dos mesmos temas, ao longo de todos os outros dias do calendário. Entretanto, morreram os blogues, a minha mãe entrou no Facebook, ganhei mais duas filhas, que me nasceram aos 41, mudei outra vez de profissão, mudei outra vez de casa, laqueei as trompas, ganhei muitas dores e um cansaço quase permanente, tenho 49 anos e não sei se entrei na perimenopausa ou quando, trabalho cada vez mais sem remuneração, há anos que me foi diagnosticado um burnout, mas o meu desgaste é de origem familiar[2] e não há muito que possa fazer quanto a isso. (Logo,) Os textos foram sendo cada vez menos e nem tenho tempo para explicar, dos que já assinei, quais é que reescreveria, porque cresci e aprendi (evoluí, portanto). Há temas, no entanto, que permanecem excessivamente imutáveis, se não piores, e eu já não tenho a energia que gostaria, nem o tempo necessário à reflexão (ou, pelo menos, a que ela me saia da cabeça).


Julgo que todos temos consciência das barbaridades cometidas, em diversos países, contra as mulheres: Da sua (por vezes total) ausência de liberdade e livre-arbítrio, das mutilações, dos assassínios, das violações, das disparidades salariais, da desproporcionalidade de oportunidades e reconhecimento. Creio que muita gente sente necessidade de lembrar estas injustiças por altura do dia 8 de Março, entre flores e odes à própria mãe, e o entusiasmo com que o faz parece ser proporcional à distância geográfica e cultural de onde ocorrem os crimes e iniquidades. Porém, quando são expostas as falhas na nossa suprema cultura e as acusações acertam perto, denunciam enfado ou incerteza, se não ofensa.
Esta falta de empatia com a causa feminista que nos abale as infra-estruturas é que eu já não aguento mais.


Comecemos pelo superficial (que não o é).
Na véspera do Dia da Mulher, explodiu, num círculo muito restrito, a bomba Miguel Seabra. Como bem diz o tweet que denunciou o caso, “Miguel Seabra, ex-presidente da FCT e Investigador Principal no CEDOC e na Fundação Champalimaud, decidiu deixar esta mensagem numa folha com a divulgação de um evento de comemoração do dia da mulher no CEDOC. É isto que temos.
A mensagem era esta (sublinhados e tudo):


 “O homem branco está em vias de extinção na ciência!
Miguel Seabra.
Vamos comemorar o dia do survivor”


Miguel Seabra era também coordenador dos programas de doutoramentos da Fundação Champalimaud (entretanto apresentou carta de demissão do cargo, que não sei se foi aceite ou não).
Pelo que me pude aperceber, a coisa chocou algumas pessoas (a mim, por exemplo, que me apressei a enviar notícias do sucedido a uma amiga PI (Investigadora Principal) na mesma Universidade em que ocorreu o caso). Pessoalmente, só me contive nos comentários públicos porque tive, quase simultaneamente, conhecimento de que o Investigador em questão terá sempre tido um comportamento exemplar e vanguardista no que toca à inclusão e políticas de trabalho igualitárias, nomeadamente na formação de equipas multiculturais e diversas, proporcionando os apoios necessários ao trabalho em conciliação com a parentalidade, etc., e tive-o por parte de uma antiga estudante, que, inclusive, tem conhecimento de uma série de eventos na vida pessoal do visado que facilmente poderiam ser usados em sua defesa neste caso.
O que me encanita é que quando uma eventual injustiça no julgamento sumário de algum homem surge no horizonte, ameaçando a sua carreira ou o seu bom nome, seja tão pronta a reacção corporativa[3], mas a resistência (e agora vou usar uma frase feita) a uma mudança de paradigma seja tão comum e instalada.

 

Carradas de mulheres que viram as suas carreiras, obras, descobertas, (vidas) usurpadas, desrespeitadas, infringidas ao longo de séculos (milénios!); a dificuldade que há em fazer-lhes justiça e repor o que lhes foi confiscado, roubado, violado (porque “ai, tudo é politicamente correcto”, tudo é woke, tudo isto é fado) e basta um “homem branco cis heterossexual” estar minimamente em risco (estaria?) para que “o homem branco cis heterossexual” salte em sua defesa, mesmo quando proferiu palavras indignas (ou as deixou escritas), naquilo que se disseca enquanto “piada”, como se a questão fosse essa. O “homem branco cis heterossexual”, pelos vistos, não se coíbe de fazer uma “má piada”, pública e inapropriada, e cá estamos nós para o compreender.


No entanto, se Mamadou Ba utiliza estilisticamente a expressão “homem branco”, argumentando que “é preciso matar o homem branco” (“Temos de matar o homem branco. O homem branco que se mostrou até aqui tem de ser morto. Para evitar a morte social do sujeito político negro, é preciso matar o homem branco assassino, colonial e racista”), não há subtileza nem compreensão que lhe valha.
Ou seja, a “moderação” a que se apela sempre que há reivindicações de revolta contra a distribuição de poder instituído é nada mais que um discurso conservador, que se opõe aos avanços e transformações sociais ou tendências revolucionárias. Mesmo que os autores dos apelos gozem de uma certa patine de “aliados das causas identitárias” (por favor, leiam o texto da Luísa Semedo e em particular a parte “aliada”).
 
Ora, se finalmente, depois de séculos de história, política e cultura (literatura, música, fotografia, cinema, pintura, reportagem, documentário, filosofia) produzidas por homens e pelo male gaze, consumidas como universais por toda a gente, de todos os géneros (e credos, e cores), começamos finalmente a ter (por pressão de movimentos paralelos como o #metoo, que revelou a disparidade e violência sofridas por mulheres nos meios de produção cultural e rapidamente alastrou a outros campos, e com a ajuda da internet e das redes sociais, que permitiram a partilha e comunhão de experiências entre quem não tinha antes os meios para o fazer, democratizando a comunicação e a voz) produtos feitos por e para todos os outros (e aqui enfatizo a questão do género)[4], e encontramos logo resistência, nada disto é de espantar, mas é de enjoar e deitar pelos olhos, pelos ouvidos e todos os orifícios, porque o ponto de saturação foi mais do que ultrapassado.

“As mulheres andam a descobrir-se”, gracejam comentadores encartados, que apelidam de “para mulheres” ou outros públicos específicos tudo aquilo que não foi produzido pelos mesmos de sempre. Porque as mulheres toda a vida leram as grandes obras do cânone, apreciando-as independentemente do género dos autores, mas os homens (“cis, brancos e heterossexuais”), de tão desabituados, não conseguem reunir as capacidades para fazer o inverso.


Com a mesma incapacidade que alguns melancólicos têm para considerar depressões pós-parto, contrarians apelidam de moda as tomadas de palavra por mães e mulheres que acarretaram desde sempre com os encargos parentais (para se queixarem das dificuldades e da desigualdade na distribuição das tarefas, e o seu lado horrível e penoso, que não se pode verbalizar porque é o último dos tabus[5]).  A novidade, em termos históricos, está no alcance dos meios que permitem que essa palavra se espalhe e ganhe eco. As dificuldades, essas, são as mesmas, mas até podemos dizer que as coisas, de facto, pioraram.
As mulheres ganharam o direito ao trabalho (pago, fora de casa), mas não se livraram grandemente de obrigações; acumularam-nas. Se, há umas gerações, as mães, detentoras do monopólio do cuidado dos filhos, contavam geralmente com o apoio das outras mulheres da família ou vizinhança (“é preciso uma aldeia”), nas últimas décadas deixaram de ter, por exemplo, o apoio de avós, tias, irmãs, porque também estas começaram a trabalhar fora de casa. O resultado é o inferno. Haverá excepções, que também conheço, mas a generalidade dos cuidados parentais continua a cargo das mães, assim como toda a gestão da vida familiar, do lar, da comida, da saúde, dos eventos festivos, personagens míticas (fadas dos dentes, duendes, Pai Natal), aniversários e calendário em geral, eventos escolares, e ainda o apoio familiar e cuidados dos mais velhos (cuidadores informais). Os pais, se “existentes”, muitas vezes continuam a apostar na falácia do “tempo de qualidade” (por favor, vão ali ler sobre o assunto, que o post é de 2014 mas está tudo muito bem explicadinho e como vêem o tempo voa, mas as coisas mudam muito devagar). O desgaste é insustentável e a frustração é imensa, porque não se consegue tratar everything, everywhere, all at once [6] e não, não se consegue “have it all”.

Ora bem, o texto que eu queria ter escrito desta vez era sobre a dificuldade em atingir a paridade na Almanaque.

Desde o início que temos consciência da necessidade de ter uma equipa paritária e diversa, contanto que as pessoas escrevam bem e tenham coisas interessantes a dizer, em áreas diversas. Desde logo percebemos também (com mais surpresa para uns do que para outros, talvez), que há muito mais dificuldade em ter mulheres que aceitem o convite (e cumpram com o proposto) do que homens.
A mim, honestamente, não me espanta nada. Mas irrita-me e entristece-me sobremaneira. Porque, infelizmente, é a história da minha vida: largar projectos, abandonar ideias, desistir de sonhos, perder comboios, abandonar todos os barcos excepto um, que é o último reduto da minha responsabilidade: os filhos. (Já escrevi, também, inúmeros textos sobre o assunto, desde os meus blogues mais antigos ao último.)
Cada vez que recebemos uma resposta “não vou conseguir”, ou porque “não tenho tempo”, ou porque “o meu filho ficou doente”, ou “estou a tratar da minha mãe”, vejo repetir o modelo que não nos serve. Efectivamente, são quase sempre mulheres que são penalizadas pelas suas responsabilidades parentais (ou relativas a outros membros da família) e largam lastro, que consiste quase sempre em actividades que lhes poderiam dar prazer e visibilidade mas não são tidas como essenciais na equação familiar.
Aos homens, continua a ser permitido brilhar, intelectualizar, botar faladura, cagar sentenças; fechar a porta do escritório de casa, estar ausente até mais tarde, tirar “tempo para si” (permanecer mais tempo sentados na sanita, sem mais ninguém na casa de banho, e a olhar para o smartphone; tomar um duche relaxado, sem que haja um cataclismo e os gritos de “mããããeee!”) e não se preocupar com os lanches da escola, com a refeição a horas, as actividades extra-curriculares, as idas ao dentista, as festas de aniversário dos amigos e respectivas prendas (e os presentes de Natal para a família comprados atempadamente, a realização de eventos familiares), não só para trabalhar e trazer dinheiro para casa, como para aceitar todo o tipo de propostas que lhes dê visibilidade e crédito, exercitando a sua massa cinzenta, sem sequer se questionarem sobre se isso será ainda possível no contexto familiar, se a pessoa de quem dependem para assegurar (gratuitamente) o (bom) funcionamento das tarefas domésticas tem margem para mais essa sobrecarga.

A mim é que me dói a paciência<sup>[1]</sup>

“P(h)oder”, do blogue Odeio Ser Mãe


(Não considero no retrato as famílias ricas, com dinheiro para pagar todas as pessoas que as substituam nos cuidados, deveres e tarefas familiares: babás, empregadas domésticas, cuidadoras geriátricas, transporte escolar, uber e uber eats. Porque aí também é muito fácil ver mulheres assegurarem que nunca se prejudicaram na carreira por serem mães.)


Há uns anos, fiquei muito irritada quando, num tweet, alguém concluía que “as mulheres não se interessam tanto por política” como os homens, dado que “os comentadores eram quase todos homens” e “nem nos blogues se via mulheres a discutir o assunto”. Como escrevi na altura, no momento em que li o tweet, “estava eu à porta da escola de uma filha, entre levar outra não sei onde e ir fazer não sei o quê com as outras duas, e a pensar se ele teria filhos e, se os tivesse, quem faria tudo isso enquanto ele abrilhantava o Twitter; ou se ele teria tido mãe e quem teria cuidado dele, e se isso viria por geração espontânea, assim como toda a energia e tempo que isso consome”. Há muitos homens livres para brilhar na efemeridade do Twitter, enquanto o tempo das suas mulheres se arrasta (e ao mesmo tempo se esfuma) na chatice do lar, das refeições, dos tpc, dos ranhos, dos cuidados permanentes, necessários e repetitivos[7], mas que depois só têm tempo para o tal “tempo de qualidade”.

 

Não só se sabe que ao longo dos séculos vários homens considerados geniais tiveram mulheres quase escravas a tratar-lhes da vidinha (e da família) – e já para nem desenvolver o tema do trabalho/invenções/criações das mulheres lhes ser muitas vezes roubado e assinado pelos maridos –, como realmente podemos começar a pensar, com tanta informação disponível, e porque creio que já há consciência de que as mulheres não nascem a saber cozinhar e limpar rabos, que tanta inaptidão é suspeita e dá de facto jeito.

Em suma, o melhor presente que poderiam dar às mulheres, além de igualdade salarial, igualdade/equidade de oportunidades, equidade nos cuidados de saúde, era pais co-responsáveis. Só desta forma se distribui o peso que desgasta, e o tempo que gera poder (e dinheiro).

A mim é que me dói a paciência<sup>[1]</sup>

Foto: El Padre Co-responsable, de Virginia Mosquera.

Ver também este seu artigo: “El precio a pagar por ser madres es una vergüenza y un fracaso social

 



Fala-se mais da desigualdade salarial que deste massacre generalizado das potencialidades femininas. Talvez porque, como já se diz por aí, a sociedade está assente no trabalho não remunerado das mulheres.

 

Captura de ecrã 2023-03-26, às 15.43.02

Foto de @naokahlo, no instagram, a 6 de Julho de 2021.


Mas muito do que eu penso já ser do senso comum, que mais não seja porque ando a falar disso desde o início dos anos 2000 (até lá, inocente, ainda não tinha sido mãe e, tendo tido aquilo que sempre julguei ser uma educação feminista, não me tinha apercebido das desigualdades que me iriam cair sobre a cabeça depois dessa linda data de Outubro de 2000, quando me nasceu a primeira filha), pasme-se, afinal não é. E assim como uma série de direitos e garantias que parecem estabelecidos, afinal são retirados logo que defensores de políticas retrógradas e conservadoras chegam ao poder, não importa em que país do mundo, também eu assisto, ainda, incrédula, a pais que dizem às suas próprias filhas que “estão gordas” (quando o não estão, nem por sombras, mas para o caso tanto dá, porque a preocupação nem é com a saúde, é com a aparência e um ideal condicionado pela lavagem cerebral provocada por anos de publicidade e moda, reflexos e braços de uma cultura machista, em órgãos de comunicação social, reflectidos no mainstream, agora propagados por outros agentes disseminadores de um estética e hábitos perigosos, como o Instagram, Tiktok e as redes sociais em geral), que “com essas coxas não vão a lado nenhum”, e para comerem menos…

A vida das mulheres, nesta nossa sociedade tão evoluída, está boa mas é para os homens. Ainda e desde sempre.

Como se não bastasse, persiste o viés de género na justiça, as múltiplas sentenças que absolvem homens de violência doméstica e/ou contra ex-companheiras, ou o descaso que as autoridades de segurança pública fazem das tentativas de denúncia, que posteriormente muitas vezes terminam no assassínio das vítimas, persiste o viés na medicina e na investigação científica, e em quase todas as áreas que podemos imaginar (vale a pena ler o livro linkado. A autora também assina uma newsletter.)

 

Se as mulheres liderassem realmente a investigação, será que finalmente se investigaria a forma como as diversas doenças e tratamentos afectam especificamente as mulheres? E no caso de patologias que apenas afectam as mulheres, poderíamos deixar de considerar que são irrelevantes, como se se tratasse de doenças raríssimas, ou minoritárias, quando, afinal, as mulheres representam mais de metade da população?


Sobre a menopausa, de que ainda se fala à boca semicerrada, não deveria saber-se mais? Sobre a depressão pós-parto? Sobre a laqueação de trompas e suas consequências, que conhecimento há? A mim não me foi transmitido nenhum, quando a pedi, e gostaria de ter estado preparada.

Por outro lado, e ainda sobre a laqueação de trompas, continuamos a precisar de ter autorização dos maridos? Não? Os relatos no Facebook, em comentários a um post sobre a esterilização compulsiva, dão indicação do contrário.
E que dizer sobre o aborto ser um direito garantido mas o sns violar a lei?
Eu própria sei de um caso em que a jovem mulher esteve umas semanas a seguir os trâmites legais, aguardando que lho fosse feito, até que este ocorreu naturalmente e, ao recorrer à urgência, o médico fez questão de lho mostrar (às matérias orgânicas resultantes), enquanto ela chorava de medo e desamparo. Sim, num hospital, em Portugal, em 2022.

Portanto, era bom que isto fosse tudo muito bonito, mas não é.
Um dia poderei escrever como deve ser sobre aquilo que queria, mas nessa altura o texto terá o nome de um movimento. Algo como #wewontdoit, ou #butwewont, não por oposição mas como complemento do #wecandoit. Porque há limites.
E o texto acaba aqui, porque eu já esgotei a minha licença parental (mas ao contrário) para o ano de 2023.

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[1] Não me dói “a cabeça e o universo”, mas dói-me o corpo, ainda não descobri porquê, e paciência já não tenho.

[2] A minha história é longa e não vou escrever sobre ela agora, mas sou mãe há quase 23 anos e a maior parte desse tempo foi passado sozinha com as crianças.

[3] Sim, vão obrigar-me a explicar “a piada”; aqui uso “corporação” no sentido de 2. Conjunto de pessoas com afinidades, nomeadamente profissionais ou ideológicas, que se unem ou organizam com vista a interesses comuns”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, e refiro-me (não a colegas de profissão ou métier, que é o caso, mas) ao “homem branco”.

[4] Cinema e literatura ganharam excepcional diversidade após o #metoo, principalmente nos EUA, Reino Unido e mesmo em Espanha e França. No cinema, as personagens femininas adquiriram densidade e carácter, deixaram de ser figuras de adorno. Há muito mais mulheres maiores de 40, 50, 60… Porque há muito mais mulheres a produzir, escrever e realizar. Na literatura, é cada vez maior a representação feminina, e a escrever sobre temas até então pouco desenvolvidos.
Os produtos culturais tornaram-se mais variados e interessantes, mas encontram resistência do público masculino (e branco, e heterossexual).
Nas artes visuais continua a haver muito menos mulheres presentes em museus (enfim, não é fácil desencantar tantas obras que compensem séculos de produção masculina) e colecções, embora comece a haver trabalho no sentido de maior diversificação, também por pressão do activismo das artistas e da sociedade feminista em geral.
Na música, as grandes estrelas femininas têm recorrido desde sempre à hiper-sexualização, segundo o mesmo princípio: o do male gaze. Também algumas coisas começam a mudar, sobretudo porque muda o ponto de vista.

[5]n links que poderia deixar, mas corro o risco de já não ter possibilidade de escrever o próprio artigo. Assim, deixo esse link para um post antigo (entre vários) sobre o tema, e prometo um dia vir deixar bibliografia.

[6] Título do filme que papou os óscares das categorias principais quase todos este ano.

[7] Boto crianças para dormir (vou deitá-las, depois de lavarem os dentes e vestirem os pijamas, sob minha supervisão, já em estado de exaustão, para beijos e abraços, juras de amor e, se possível, contar histórias antes de adormecerem) há 22 anos. Gostava de ainda ter um pouco de vida adulta saudável sem estas obrigações rotineiras, mas a minha opção de ter crianças com tantos anos de intervalo, em nome do amor romântico, tramou-me.

 

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Imagem de destaque: Parte da pintura de Lia Ferreira para a capa do Nº. 5 da Almanaque

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