Não Sei (Mas…)
Ciências
Filipe Nunes Vicente

Stolen Hours

Alistou-se no exército aos dezasseis anos. Tocou em bandas militares e saiu cinco anos depois. Foi para Los Angeles e conheceu Charlie Parker e Stan Getz, com quem tocou. Isto não é um texto sobre jazz, é um texto sobre um crime.   Stolen Hours, Horas Roubadas (1963), é o título de um filme menor. É a história de uma beta a quem é diagnosticado um tumor cerebral com o prognóstico de apenas  um ano de vida;

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Da série personagens esquecidas de Portugal (1): Eduarda D’Orey e Abreu
Literatura
Filipe Nunes Vicente

Da série personagens esquecidas de Portugal (1): Eduarda D’Orey e Abreu

Figura incontornável da pós-modernização portuguesa. Lisboeta de pouso, nascida no Ribatejo (Santarém, 1961) e em berço fidalgo, cedo arregaçou as mangas. Foi para Londres estudar arte de rua e de instalação com apenas dezoito anos.  Ungida desde cedo com preocupações sociais, recusou candidatar-se a bolsa ou sequer receber ordenado. Numa entrevista à revista K, conduzida por Rui Zink (1991), explicou: ”Com tantos desempregados e imigrantes, não creio ter o direito de roubar o pão a quem dele precisa” (as citações

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Em defesa do véu islâmico
Filosofia e História
Filipe Nunes Vicente

Em defesa do véu islâmico

O título chamou-te a atenção, não foi?  Ainda chamaria mais se fosse “Pela ilegalização da homossexualidade”. E se fosse “Manifesto pelo exclusivo da utilização da abóbora-menina nas papas de abóbora”? Aí talvez passasses adiante apenas porque não saberias que a abóbora a utilizar é a abóbora-menina. Abóboras. Experimentemos outra: “Por uma América virgem”. Tenho a leve impressão de que captaria o teu olhar de cenho arreganhado. Sobretudo se não souberes que os nativos norte-americanos não nasceram lá: colonizaram o território

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As coisas mais aborrecidas
Literatura
Filipe Nunes Vicente

As coisas mais aborrecidas

Antes do pódio, as que recebem apenas diplomas mas que com esforço e dedicação podem um dia vir a receber medalhas:     Telemóveis  Nos bons tempos, um tipo podia dizer com simplicidade desarmante: Telefonaste-me? Não estive em casa o dia todo. Hoje, isso é impossível porque nos puseram uma espécie de coleira com GPS. Somos linces ibéricos em extinção, os cientistas sabem sempre de cada passo nosso.   Tenho trabalhado nas contra-medidas, claro. Ter o zingarelho desligado

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O Mistério
Literatura
Filipe Nunes Vicente

O Mistério

Ao fim de trinta anos desta vida (psicólogo, terapeuta, demiurgo, bruxo, lançador de búzios) ainda me espanto. Como é que as relações sobrevivem? Sabemos por que começam: obrigação, necessidade, tempo livre, casas pequenas. Como raio se prolongam? Não faço caso das terapias conjugais salvo para evitar assassínios ou fogo posto. O conceito de tratar casais, portanto casamentos ou relações, é exótico. Lembro-me sempre das pessoas que querem um cão e depois vão para uma escola

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O Casal Pragmático
Literatura
Filipe Nunes Vicente

O Casal Pragmático

Uma relação obrigatória, a prazo mas definitiva, uma das partes tinha dupla personalidade, a outra tinha milhares. Durou anos e ainda hoje não se sabe se tiveram filhos. Há um viúvo alegre e um morto contrariado. Dito assim talvez o leitor tenha dificuldade em imaginar que relação foi esta. Se acrescentar mais uns detalhes talvez seja mais fácil. Estávamos no dito período revolucionário. A concordata ( isto de casalinhos devia sempre aos padres no antigamente)

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Simposiofobia
Literatura
Filipe Nunes Vicente

Simposiofobia

Os meus medos são todos sobrenaturais e exagerados. Uma alteração no núcleo magnético da Terra que nos leve a todos para o lado de Saturno. Uma invasão alienígena que faça parecer o Gulag um arquipélago de vacaciones. Acordar enterrado vivo. E reuniões.  O nome técnico vem do grego, simpósio, reunião. Simposiofobia. Chego a horas. Não tenho crianças, marido, mulher,  cães, doenças, vivo ao lado do edifício da reunião. Talvez na cave. Todos os outros vêm

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Marialvas ou Libertinos?
Literatura
Filipe Nunes Vicente

Um Certo Tipo de Relação

No passado mês de Abril, dois psicólogos e académicos, Andrew Devendorf e Sarah Victor, publicaram no The Conversation,  uma plataforma ( é assim que se diz não é?)  que começou na Austrália,  um artigo sobre o coming out proud dos psis. É melhor nem traduzir. O assunto? A saúde mental dos técnicos da dita. Mil e setecentos psicólogos foram inquiridos (embora muitos  fossem apenas académicos, não psicoterapeutas): 80% assumiram problemas de saúde mental e 48%

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Não Sei (Mas…)

Stolen Hours

Alistou-se no exército aos dezasseis anos. Tocou em bandas militares e saiu cinco anos depois. Foi para Los Angeles e conheceu Charlie Parker e Stan Getz, com quem tocou. Isto não é um texto sobre jazz, é um texto sobre um crime.   Stolen Hours, Horas Roubadas (1963), é o título

Da série personagens esquecidas de Portugal (1): Eduarda D’Orey e Abreu

Da série personagens esquecidas de Portugal (1): Eduarda D’Orey e Abreu

Figura incontornável da pós-modernização portuguesa. Lisboeta de pouso, nascida no Ribatejo (Santarém, 1961) e em berço fidalgo, cedo arregaçou as mangas. Foi para Londres estudar arte de rua e de instalação com apenas dezoito anos.  Ungida desde cedo com preocupações sociais, recusou candidatar-se a bolsa ou sequer receber ordenado. Numa entrevista à revista

Em defesa do véu islâmico

Em defesa do véu islâmico

O título chamou-te a atenção, não foi?  Ainda chamaria mais se fosse “Pela ilegalização da homossexualidade”. E se fosse “Manifesto pelo exclusivo da utilização da abóbora-menina nas papas de abóbora”? Aí talvez passasses adiante apenas porque não saberias que a abóbora a utilizar é a abóbora-menina. Abóboras. Experimentemos outra: “Por uma América virgem”. Tenho

As coisas mais aborrecidas

As coisas mais aborrecidas

Antes do pódio, as que recebem apenas diplomas mas que com esforço e dedicação podem um dia vir a receber medalhas:     Telemóveis  Nos bons tempos, um tipo podia dizer com simplicidade desarmante: Telefonaste-me? Não estive em casa o dia todo. Hoje, isso é impossível porque nos puseram uma espécie de

O Mistério

O Mistério

Ao fim de trinta anos desta vida (psicólogo, terapeuta, demiurgo, bruxo, lançador de búzios) ainda me espanto. Como é que as relações sobrevivem? Sabemos por que começam: obrigação, necessidade, tempo livre, casas pequenas. Como raio se prolongam? Não faço caso das terapias conjugais salvo para evitar assassínios ou fogo posto.

O Casal Pragmático

O Casal Pragmático

Uma relação obrigatória, a prazo mas definitiva, uma das partes tinha dupla personalidade, a outra tinha milhares. Durou anos e ainda hoje não se sabe se tiveram filhos. Há um viúvo alegre e um morto contrariado. Dito assim talvez o leitor tenha dificuldade em imaginar que relação foi esta. Se

Simposiofobia

Simposiofobia

Os meus medos são todos sobrenaturais e exagerados. Uma alteração no núcleo magnético da Terra que nos leve a todos para o lado de Saturno. Uma invasão alienígena que faça parecer o Gulag um arquipélago de vacaciones. Acordar enterrado vivo. E reuniões.  O nome técnico vem do grego, simpósio, reunião.

Marialvas ou Libertinos?

Um Certo Tipo de Relação

No passado mês de Abril, dois psicólogos e académicos, Andrew Devendorf e Sarah Victor, publicaram no The Conversation,  uma plataforma ( é assim que se diz não é?)  que começou na Austrália,  um artigo sobre o coming out proud dos psis. É melhor nem traduzir. O assunto? A saúde mental