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O PCP e a Guerra da Ucrânia e as Medidas Fiscais da IL. O que Pesquisam os Portugueses Sobre os Partidos?

O termo “Googlar” foi adicionado ao Oxford English Dictionary em 2006 e ao Grande Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora em 2010. O verbo é definido como: “pesquisa na internet usando o motor de busca Google”. Em Portugal, 85% dos internautas dizem fazer pesquisas diariamente.

Todos nos habituámos a recorrer ao Google para saber mais sobre um tema que nos interessa e, considerando a escala da plataforma, os dados sobre estas pesquisas são uma interessantíssima fonte de conhecimento. O Google Trends é uma plataforma que partilha diariamente as tendências de pesquisa utilizando o motor de busca Google, permitindo filtros por região e período temporal, e a procura por palavras-chave e análises comparativas.

Quando recolhemos dados sobre os últimos 12 meses de pesquisas usando como tópico um nome de um partido, obtemos:

  1. As alterações no volume de pesquisas ao longo do tempo
  2. As regiões com maior volume de pesquisas
  3. As principais consultas relacionadas

Nos últimos 12 meses assistimos a umas eleições legislativas, ao início da guerra na Ucrânia e à alterações nas lideranças de alguns partidos. Tudo isso teve impacto nas pesquisas dos internautas portugueses pelos partidos. No entanto, não deixam de se encontrar padrões que colocam em causa algumas ideias preconcebidas. Apresento aqui alguns dados interessantes quando se avaliam os resultados de pesquisa dos últimos 12 meses, para Portugal, pelos oito partidos com assento parlamentar[1].

Picos de maior interesse:

Para a grande maioria dos partidos, o momento de maior interesse— e, correspondentemente, maior volume nas pesquisas— foi o dia das eleições. Denotam-se algumas diferenças interessantes, sendo que o Partido Socialista teve a maior subida abrupta no dia 30 de janeiro, e o PAN e o Livre tiveram uma subida mais estável, havendo um aumento de interesse regular nos dias antes das eleições e uma menor discrepância para o dia dos resultados.

O PCP é o único partido cujo maior volume de pesquisas não é registado no dia 30 de janeiro, mas sim na semana de início da guerra da Ucrânia. Nesse dia, o primeiro resultado  nas consultas relacionadas foi “PCP Ucrânia”.

Pesquisas por região[2]

A tendência geral é a de que os partidos mais urbanos— os que têm melhores resultados eleitorais nas metrópoles como o BE e a IL— são mais pesquisados nas zonas urbanas e menos pesquisados em zonas rurais.  No entanto, existem alguns elementos curiosos a destacar.

Para o Partido Socialista, destaca-se o distrito de Portalegre com o maior número de pesquisas (relativas), distrito onde pela primeira vez conseguiu vencer em todos os 15 concelhos. No Livre, o primeiro lugar é ocupado pelo distrito de Braga, um dos mais jovens do país e que alberga o concelho que mais cresceu a nível de habitantes, segundo o Censos de 2021. Beja, Évora e Setúbal são os distritos no topo para o PCP, sem grandes surpresas, apesar dos resultados eleitorais. Para o Bloco de Esquerda surge Castelo Branco em 1.º e Lisboa apenas em 2.º. Finalmente, para o PAN, curiosamente, destaca-se a Madeira, sem resultado em votos ou um evento mediático que o justifique numa primeira abordagem. Tirando esta exceção, os Açores e a Madeira surgem entre as regiões com menor procura para todos os partidos da esquerda parlamentar.

À direita, temos os distritos de Bragança e de Vila Real com mais pesquisas por “PSD”. Vila Real surge também no topo das pesquisas pelo Chega, junto com Beja e Santarém. A Iniciativa Liberal é o único partido que tem Lisboa e Porto no top 3, apenas suplantados pela Região Autónoma dos Açores em 1.º, o que pode estar relacionado com a presença do partido na coligação do Governo Regional. De destacar também que a Iniciativa Liberal e o Bloco de Esquerda são, sem surpresas, os dois partidos com os distritos de Lisboa e Porto em maior destaque.

Consultas relacionadas

As consultas relacionadas são tópicos que os utilizadores que pesquisaram pelo tópico em análise também pesquisaram. São uma ferramenta muito interessante para compreender quais os principais termos de pesquisa relacionados, e no levantamento feito sobre os partidos surgiram alguns dados interessantes.

Na grande maioria dos casos, algumas das principais consultas relacionadas são outros partidos, não necessariamente de matriz ideológica semelhante. Para o Partido Socialista e Chega surge o PSD em destaque, para a IL o Chega, e para o Bloco o PCP. No caso do PAN, curiosamente, surge o Chega, e no Livre a Iniciativa Liberal. Já o PCP, ao contrário de todos os outros, não tem outros partidos no topo das pesquisas relacionadas.

As pesquisas por nome de líderes ou figuras relevantes dos partidos também surgem muitas vezes na listagem das consultas relacionadas. Há partidos em que as pesquisas pelo líder surgem no topo da lista, como o caso do Livre, PCP e Chega. No caso do BE, da IL e do PSD os nomes dos líderes surgem já no final da lista, e, no caso da Iniciativa Liberal, o nome de Rui Rocha surge ainda  antes de Cotrim Figueiredo. Por fim, nos casos do PS e PAN não surgem os nomes dos seus líderes nas consultas relacionadas. Nas procuras pelo Chega e IL, surge também interesse nos seus deputados em considerável destaque, assim como para o PCP e BE, embora com menor dimensão.

O conteúdo programático também tem um peso diferenciado entre partidos. No Partido Socialista e PCP, não surgem procuras pelo programa, ao contrário do que acontece para a Iniciativa Liberal, Livre, Bloco de Esquerda e PSD em que surge no topo. No caso do Chega e do PAN, surge a meio da tabela. Medidas mais específicas não surgem em quase nenhuma consulta relacionada, tirando o interesse pela posição do PCP sobre a guerra da Ucrânia, que surge também nas pesquisas pelo Bloco de Esquerda mas em menor destaque. Nas procuras pela Iniciativa Liberal também surge interesse pela sua posição em termos de política fiscal, ou perguntas sobre se o partido é de esquerda ou de direita.

Por fim, apenas dois partidos têm pesquisas relacionadas com as redes sociais. Para a Iniciativa Liberal surgem procuras associadas com a sua conta de Twitter, e para o Chega com a conta de Facebook do partido e do seu líder.

No final, torna-se claro que existem tendências nas pesquisas sobre os partidos facilmente explicáveis pela imagem geral que temos dos mesmos, o interesse dos meios urbanos versus rurais, a importância mediática de algumas posições e o culto do líder. Outras requerem mais investigação e a integração de outras fontes de dados. E apesar de não poderem ser usadas como base para intenções de voto, torna-se claro que as Google Trends nos podem dizer muito sobre a relação que os internautas portugueses têm com os partidos que os representam.
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[1] A pesquisa foi feita pelo nome do partido por extenso, tirando PSD, PCP e PAN, que são também referidos mais vezes pelas siglas do que pelo nome por extenso (resultados de pesquisa no Google Notícias).

[2] Distritos do continente + regiões autónomas 

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