Filosofia e História

<i>Avatar</i>, história e catarse
Cinema e Audiovisual
Paulo Pinto

Avatar, história e catarse

Conhecem aquelas pessoas que, ao ouvir uma piada, dissecam-na ou divagam a propósito em vez de se rirem? Ou aqueles memes sobre psicólogos, que olham para as reações dos espetadores em vez do écran onde decorre a ação? É mais ou menos o que vou fazer aqui e agora. Em vez de lançar um enorme “uau!” de espanto acerca do grande blockbuster da quadra, Avatar: O Caminho da Água, vou dizer algumas coisas que giram

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Fernando Pessoa e África: Colonialismo, Escravatura e Racismo <sup>[1]</sup>
Filosofia e História
Diogo Ramada Curto

Fernando Pessoa e África: Colonialismo, Escravatura e Racismo [1]

À margem das biografias de Fernando Pessoa, há que considerar a inovadora fotobiografia de Maria José Lancastre (1981) e o livro intitulado 33+9 leituras plásticas de Fernando Pessoa (1988) de Alfredo Margarido. Ao exemplar que me ofereceu, este último juntou uma aguarela intitulada “Pessoa e o fantasma sul-africano”. Por razões relacionadas com a estima intelectual e amizade que sempre tive pelo autor, essa imagem não só me emociona como encontro nela formulado um problema pertinente,

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Não Sei (Mas…)
Ciências
Joana Sá

Não Sei (Mas…)

Este texto é sobre a importância de dizer “não sei” por três razões: porque nos liberta do fardo de estarmos sempre certos, porque se não sabemos podemos ter o prazer de descobrir e porque a valorização da humildade pode funcionar como defesa contra o totalitarismo. Em 1961, com um império estabelecido durante os anos dourados de Hollywood, Jessie e John Danz criaram um fundo que permitiu à Universidade de Washington organizar uma série de conferências

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Sombras do Desejo
Artes Visuais
Veronica Stigger

Sombras do Desejo

À primeira vista, o conjunto escultórico Sombras, de 1952, realizado em gesso e em grandes dimensões, parece ser um desvio no desenvolvimento artístico de Maria Martins. Nele, duas figuras antropomórficas estilizadas aparecem ajoelhadas, sem braços e com as cabeças inclinadas em provável sinal de respeito. Uma delas apresenta duas grandes protuberâncias às costas, que lembram asas. Na outra, duas saliências no peito sugerem se tratar de uma mulher. Quando foi exibida pela primeira vez na

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Notas Para um Natal Tão Falho Delas
Filosofia e História
António Araújo

Notas Para um Natal Tão Falho Delas

1. Na mão esquerda, uma ceira carregada de cravos; na direita, uma escada, uma coluna, uma cruz, uma vara com uma bandeira.  É estranho e bizarro, para dizer o mínimo, pôr uma criança, ademais tão nova, tão pequena, a carregar os artefactos da sua própria morte, mas é isso que sucede nesta estatueta em marfim, de autor desconhecido, vinda da Índia no século XVII e hoje exposta em Coimbra, no Museu Machado de Castro. Não

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Teatro Cósmico #2
Artes Performativas
José Maria Vieira Mendes

Teatro Cósmico #2

O Planeta Como Planeta Não foi há muito que, no contexto de um colóquio onde se encontravam pessoas dedicadas a pensar o teatro ou as artes performativas ou as artes vivas ou essa coisa a que se dá nomes vários, mas que tantas vezes fala do mesmo tipo de objetos, Richard Schechner, uma figura reconhecida por essas mesmas pessoas, decidiu, na intervenção de abertura, apelar a que se suspendesse a guerra na Ucrânia, todas as

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As Quatro Virtudes do Budismo Brasileiro<sup>[1]</sup>
Boa Vida
Manuel Arriaga

As Quatro Virtudes do Budismo Brasileiro[1]

Uma breve exploração dos preconceitos na minha busca de alguma forma de espiritualidade 1. JoutJout Prazer. É esse o nome do canal Youtube de Julia Tolezano da Veiga Faria, a conhecida vlogger que me levou ao budismo brasileiro. Tudo começou quando uma amiga me sugeriu um vídeo em que Jout Jout (como é conhecida) lia um livro ilustrado. Sugado pelo vórtice do mecanismo de recomendações do YouTube, em breve dei por mim a assistir a

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As Lentes da História
Filosofia e História
Paulo Pinto

As Lentes da História

Há fascínios que vêm de criança. O meu, por História, começou pelos impérios da Antiguidade, mais especificamente por Roma, romanos e Império Romano. Não havia então internet mas havia Astérix. Comprei o primeiro álbum (“Astérix Gladiador”, ed. Bertrand) em 1974, na Papelaria Mimo em Mem-Martins, hoje desaparecida. Outros se seguiram. Custavam 75$00 e ainda os tenho todos. Vi o Ben-Hur e o Quo Vadis vezes sem conta, no cinema da Praia das Maçãs. Era um

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Quadros da Luta de Classes em Portugal (2020-2021)
Filosofia e História
Francisco José Viegas

Quadros da Luta de Classes em Portugal (2020-2021)

Em Óbidos, no Folio de 2021, entre momentos com e sem máscara, encontrei-me com Jung Chang. Tinha sido infectada logo na segunda vaga de Covid, em 2020. “Não diga a ninguém mas nem tudo foi desagradável. Fiquei dois meses em casa, a ler, tranquilamente, e a tomar chá. Não tinha muito apetite, por causa da Covid, e emagreci bastante”, ela contava isto enquanto comia com à vontade um peixe grelhado antes de atacar um caldo

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Fragmentos do Diário de Rui Teixeira
Artes Performativas
Afonso Madeira Alves

Satyagrahaha — o Superior Alívio da Incongruência

Certa vez, contaram-me que durante uma semana de Março de 1969, enquanto a Administração Nixon arrancava com o novo processo de vietnamização, dezenas de lentes de jornalistas enfiados num quarto de hotel aguardavam que John Lennon e Yoko Ono começassem a fazer sexo. Porém, ludibriada pelo desejo tórrido aparentado no sugestivo convite para a lua-de-mel dos recém-casados, a atenção mediática viu-se envolvida na pior festa do pijama jamais realizada em Amesterdão desde os tempos devastadores

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<i>Avatar</i>, história e catarse

Avatar, história e catarse

Conhecem aquelas pessoas que, ao ouvir uma piada, dissecam-na ou divagam a propósito em vez de se rirem? Ou aqueles memes sobre psicólogos, que olham para as reações dos espetadores em vez do écran onde decorre a ação? É mais ou menos o que vou fazer aqui e agora. Em

Fernando Pessoa e África: Colonialismo, Escravatura e Racismo <sup>[1]</sup>

Fernando Pessoa e África: Colonialismo, Escravatura e Racismo [1]

À margem das biografias de Fernando Pessoa, há que considerar a inovadora fotobiografia de Maria José Lancastre (1981) e o livro intitulado 33+9 leituras plásticas de Fernando Pessoa (1988) de Alfredo Margarido. Ao exemplar que me ofereceu, este último juntou uma aguarela intitulada “Pessoa e o fantasma sul-africano”. Por razões

Não Sei (Mas…)

Não Sei (Mas…)

Este texto é sobre a importância de dizer “não sei” por três razões: porque nos liberta do fardo de estarmos sempre certos, porque se não sabemos podemos ter o prazer de descobrir e porque a valorização da humildade pode funcionar como defesa contra o totalitarismo. Em 1961, com um império

Sombras do Desejo

Sombras do Desejo

À primeira vista, o conjunto escultórico Sombras, de 1952, realizado em gesso e em grandes dimensões, parece ser um desvio no desenvolvimento artístico de Maria Martins. Nele, duas figuras antropomórficas estilizadas aparecem ajoelhadas, sem braços e com as cabeças inclinadas em provável sinal de respeito. Uma delas apresenta duas grandes

Notas Para um Natal Tão Falho Delas

Notas Para um Natal Tão Falho Delas

1. Na mão esquerda, uma ceira carregada de cravos; na direita, uma escada, uma coluna, uma cruz, uma vara com uma bandeira.  É estranho e bizarro, para dizer o mínimo, pôr uma criança, ademais tão nova, tão pequena, a carregar os artefactos da sua própria morte, mas é isso que

Teatro Cósmico #2

Teatro Cósmico #2

O Planeta Como Planeta Não foi há muito que, no contexto de um colóquio onde se encontravam pessoas dedicadas a pensar o teatro ou as artes performativas ou as artes vivas ou essa coisa a que se dá nomes vários, mas que tantas vezes fala do mesmo tipo de objetos,

As Quatro Virtudes do Budismo Brasileiro<sup>[1]</sup>

As Quatro Virtudes do Budismo Brasileiro[1]

Uma breve exploração dos preconceitos na minha busca de alguma forma de espiritualidade 1. JoutJout Prazer. É esse o nome do canal Youtube de Julia Tolezano da Veiga Faria, a conhecida vlogger que me levou ao budismo brasileiro. Tudo começou quando uma amiga me sugeriu um vídeo em que Jout

As Lentes da História

As Lentes da História

Há fascínios que vêm de criança. O meu, por História, começou pelos impérios da Antiguidade, mais especificamente por Roma, romanos e Império Romano. Não havia então internet mas havia Astérix. Comprei o primeiro álbum (“Astérix Gladiador”, ed. Bertrand) em 1974, na Papelaria Mimo em Mem-Martins, hoje desaparecida. Outros se seguiram.

Quadros da Luta de Classes em Portugal (2020-2021)

Quadros da Luta de Classes em Portugal (2020-2021)

Em Óbidos, no Folio de 2021, entre momentos com e sem máscara, encontrei-me com Jung Chang. Tinha sido infectada logo na segunda vaga de Covid, em 2020. “Não diga a ninguém mas nem tudo foi desagradável. Fiquei dois meses em casa, a ler, tranquilamente, e a tomar chá. Não tinha

Fragmentos do Diário de Rui Teixeira

Satyagrahaha — o Superior Alívio da Incongruência

Certa vez, contaram-me que durante uma semana de Março de 1969, enquanto a Administração Nixon arrancava com o novo processo de vietnamização, dezenas de lentes de jornalistas enfiados num quarto de hotel aguardavam que John Lennon e Yoko Ono começassem a fazer sexo. Porém, ludibriada pelo desejo tórrido aparentado no