Duelo_a_garrotazos,_por_Goya

Motim Literário: Zenith contra George[1]


Em lugar de ir direto ao assunto, vou à volta. Por isso, peço ao leitor que não desanime. Não tarda nada e conseguirei apanhar a mosca – a chave do grande escândalo, em jeito de motim literário, que acabou de rebentar. José Agostinho de Macedo (1761-1831) foi um dos mais prolixos escritores da cultura portuguesa. Inimigos teve-os às dúzias, ainda mais do que as polémicas em que se viu envolvido em toda a sua vida. Postumamente, as suas obras foram lidas e editadas por muitos: de Camilo a Inocêncio e Teófilo Braga. Carlos Olavo escreveu dele uma biografia bem catita, bem melhor do que o pretensioso romance de Mega Ferreira. Mas foi só desde o trabalho académico de Maria Ivone Ornellas de Andrade, em dois volumes, que passámos a dispor de um guia seguro para nos orientar na interpretação da vida e obra do Padre Lagosta.

O seu Motim Literário em forma de solilóquios de 1811, continuado pelas Cartas Filosoficas a Attico (1815), conheceu várias edições e nem todas constam do catálogo da Biblioteca Nacional. Os quatro volumes em pequeno formato sempre me interessaram por conterem em si bicadas e controvérsias, daquele que começou como um “iluminista paradoxal” – nas palavras da sua maior estudiosa – por ser bem informado das novas correntes dos enciclopedistas e filósofos das Luzes, e se ter revelado um dos principais expoentes da contrarrevolução. Digno de ombrear, em termos de reaccionarismo, com o seu amigo alcobacense, Frei Fortunato de S. Boaventura.

Não reconstituo aqui, porque seria fastidioso, o sentido das suas polémicas. Mas não resisto à tentação de evocar a acrimónia com que tratou poetas tais como Bocage e Filinto Elísio. Acerca de Elmano, por exemplo, escreveu versos de grande dureza que começavam assim: “Tu és magro, és vadio, és pobre, és feio / E nada disto em ti reprovo ou noto”. Apenas me interessa lembrar, sempre graças a Ornellas de Andrade, o gozo que os seus inimigos sentiram quando encontraram no Motim um “roubozinho”. O Padre Lagosta pilhara umas poucas de páginas da Republica Literaria, obra seiscentista de Saavedra Fajardo. Mais: António Maria do Couto, seu inimigo figadal, explicou que Macedo não se ficara por aí e deu o nome abreviado de outros autores plagiados. O debate continuou com acusações dos dois lados (Ornellas de Andrade, José Agostinho de Macedo, vol. I, Colibri, 2001, pp. 100-104).

Entro, pois, de mansinho na matéria do motim literário que, agora, estalou a respeito das duas biografias calhamaçais de Fernando Pessoa acabadas de sair (1, 2), por me parecer que a luta veio para durar e que as posições se vão extremar. Longe de mim erguer-me em árbitro seja do que for. Desde já assumo que a minha simpatia tende muito mais a estar do lado das interpretações de João Pedro George, do que das de Richard Zenith. Já tive a ocasião de o  dizer e vou continuar a explicar o meu ponto de vista.       

No semanário Expresso, com direito a chamada de primeira página, Zenith fez ouvir a sua voz, com o único propósito de desacreditar a biografia de George. O rumor, em jeito de lamento, já constava no pequeno mundo português e lisboeta. Zenith estava furioso com o empecilho, falava aos quatro ventos lá junto ao Bugio de que tinha sido roubado e espoliado. Ele que já gramara, no que dizia respeito à edição de textos, com a eficácia de Jerónimo Pizarro e, em áreas mais específicas como a das ideias políticas de Pessoa, com as investigações inteligentes e seguras de José Barreto, tudo em bonitas edições da Tinta-da-china. Por que razão tinha, agora, de levar com a concorrência de outras mil páginas da autoria desse ignoto badameco do George? Às urtigas com o rapaz, pois nada lhe importava que este fosse autor de outras biografias e por acaso de uma obra bem consistente e criativa de sociologia da literatura. O descaramento do badameco de vir para cima do “seu” Pessoa só poderia resultar se terminasse numa denúncia e numa acusação de plágio. Custasse o que custasse, assim tinha de ser.

O método seguido por Zenith, no artigo subscrito por Luciana  Leiderfarb, afigura-se mais do que evidente: vira-se a informação ou o reconhecimento de erros a emendar, pelo autor, contra o próprio; faz-se um inventário de umas tantas minudências de datas e nomes, que assumidamente terão de ser corrigidas em próxima edição, para se passar a insinuar que toda a obra está pejada de erros; aqui e acolá, Zenith acusa George de o copiar, para logo de seguida reconhecer que não foi fidedigno no copianço; procura-se desacreditar o trabalho do George – um escritor profissional, crítico duro e corajoso – como resultado de uma pressa, por oposição à autoridade de um Zenith que escreveu durante dez anos um livro sem mácula e totalmente objectivo; procura-se, ainda, centrar o debate numa espécie de oposição entre o bom e o mau, representados, respectivamente, pela autoridade do especialista premiado, ou seja, de Zenith, frente ao que vem de fora e é mais novo, não tem títulos e incorre em sucessivos erros, estando conspurcado pelo plágio que a toda a força se procura insinuar; e, por último, chama-se à colação um amigo e colaborador de Zenith, na edição da prosa de Álvaro de Campos, tido como autoridade também na matéria, para dar mais uma traulitada no rapaz que não era conhecido deles, ou seja, dos amigos que odeiam o fedelho pelo simples facto de ter vindo ao mundo…

Escusado ir mais longe na descrição de um método tão patético. O Motim Literário pequenino e mesquinho foi aberto. Ele está aí. E a questão que se coloca é como podemos tirar partido dele e – em lugar de andarmos às pedradas, como dantes faziam os rapazes de Lisboa lá para as bandas da Cotovia – não perder o discernimento da análise e da leitura. Assim, o melhor será insistir na necessidade de comparar as duas biografias, enquanto trabalhos de síntese acerca da vida de um escritor com o estatuto de génio. Em duas áreas que pude analisar de perto, a infância e as ideias coloniais, a comparação entre as duas biografias levou-me a concordar mais com o George do que com Zenith (mas o inquérito deverá ser extensivo a outros domínios, como por exemplo o do judaísmo e anti-semitismo). Tais exercícios de leitura dupla ou conjunta inspiram-se, aliás, num artigo de Nick Burns, onde este comparou as ideias e tomadas de posição políticas de Fernando Pessoa, tal como surgem na biografia de Zenith, com as interpretações – bem mais sagazes, diga-se de passagem, mas com assertividade – de José Barreto (“The Politics of Fernando Pessoa”, New Left Review, 129, Maio-Junho 2021).

Claro que ainda mais interessante é cotejar os conflitos de interpretação e as filiações que se registam quando comparamos entre si todas as biografias de Fernando Pessoa. O modo de interpretar a infância, a sexualidade e o freudismo em Fernando Pessoa, por parte de João Gaspar Simões, seu primeiro biógrafo, claramente inspiraram Zenith que segue nos seus calcanhares sem apresentar grande novidade; enquanto George, sem ter sido necessariamente o primeiro a fazê-lo, se afasta da interpretação de Gaspar Simões em relação à infância marcada por um padrasto que foi um intruso, da qual resultaram o que Zenith denomina, de forma muito discutível, como “problemas sexuais”…

Um outro exemplo de comparação pode partir de Fernando Pessoa: uma quase-autobiografia (Porto Editora, 2012), de José Paulo Cavalcanti Filho, que escreveu, a respeito das leituras de Pessoa: “As irmãs Brontë criaram seres imaginários que se correspondiam entre si” (op. cit., p. 219). Se fosse aqui seguido o método de Zenith, mas virando-o contra si próprio, dir-se-ia que também ele plagiou Cavalcanti quando, na abertura do capítulo 11, desenvolveu a mesma ideia, a propósito das mesmas escritoras e do seu irmão Branwell, que se divertiam “a inventar países habitados por personagens imaginadas e históricas através de cujas vozes escreviam histórias e poemas” (Pessoa: uma biografia, Quetzal, 2022, p. 181).     

Uma comparação com alguns dos principais especialistas franceses de Pessoa, na biografia de Zenith, afigura-se como um outro exercício possível, mas os resultados não se afiguram lá muito abonatórios para o mesmo biógrafo. Pierre Hourcade, que conheceu Pessoa, é citado pelos encontros que teve com o poeta, e da bibliografia consta uma colectânea dos seus ensaios. A obra monumental que escreveu e que só foi publicada postumamente nem sequer mereceu a atenção de Zenith: A mais incerta das certezas: itinerário poético de Fernando Pessoa, edição e tradução de Fernando Carmino Marques (Tinta-da-china, 2016). Igualmente ignorado é Armand Guibert que, provavelmente influenciado por Hourcade, foi também tradutor e estudioso de Pessoa, incluindo na Gallimard. Repare-se que o trabalho de tais autores foi importante porque conferiu brilho e inteligência à cultura portuguesa em França, a qual era na época identificada e reduzida às figuras dos emigrantes pobres, pedreiros, porteiras, etc.

No entanto, é importante destacar que Zenith se mostra reconhecido, pelo menos uma vez, em relação a um outro francês estudioso de Pessoa – Robert Bréchon. Concretamente, reconhece a importância que tiveram, para ele, “as conversas, bem como os ensaios luminosos” de Bréchon (tão luminosos devem ter sido que Zenith nunca os cita). Postos a par dos de Antonio Tabucchi, continua, esses ensaios “ajudaram a refinar e tornar mais viva a minha ideia de Pessoa”. Contudo, tais palavras mais parecem resultar de um qualquer formalismo e soam a lágrimas de crocodilo, pois ao longo de quase 1200 páginas, Zenith não faz nem uma citação de Bréchon. E o pior é que quando cita a biografia de Bréchon, na bibliografia, Zenith limita-se a denunciar o que considera ser um traço negativo:

Étrange étranger: une biographie de Fernando Pessoa (Paris: Christian Bourgois, 1996). Simultaneamente temática e cronológica, a biografia de Bréchon não se preocupou em descobrir informações sobre Pessoa, mas sim em mapear a sua vasta obra literária”. Acrescento, apenas: grande amigo terá sido este Zenith do falecido Bréchon, para lhe vir agora ferrar uma farpa no caixão!

Chegado a este ponto, não posso deixar de assumir uma postura mais de Padre Lagosta que um dia descreveu a estalada que deu no seu próprio cachaço para apanhar uma mosca. Vivia, então, a expensas do Duque de Cadaval, lá para Pedrouços. É que foi com ele que aprendi a desconfiar dessa ambígua mistura entre o formalismo do salamaleque e a farpa no morto. Que ali há gato escondido com o rabo de fora não se duvide. Mas não se ponha também em causa que é sempre difícil descobrir o “roubozinho”. Cito a expressão que retiro do estudo de Ornellas de Andrade: “o roubozinho deve ter feito as delícias do detective” (op. cit., vol. I, p. 100). Foi o que me sucedeu e fez as minhas delícias, como quando se bate e se consegue mesmo apanhar a mosca a morder no cachaço.

No prólogo, precisamente na página 27 da tradução portuguesa, da sua biografia de Pessoa, lá vem o Zenith com uma série de considerações sobre o Livro do Desassossego. À cabeça,figura o homem sem qualidades chamado Ulrich, uma criação de Robert Musil na sua famosa saga, o qual é posto em paralelo com Bernardo Soares, criação e heterónimo de Pessoa. Claro que uma comparação deste tipo tem os seus matizes e especificidades, que Zenith se apressa a desenvolver para mostrar ao seu público internacional o gabarito não tanto de Pessoa, como dele próprio capaz de fazer comparações que envolvessem grandes personagens da literatura. O problema é que a comparação tem dono e Zenith não cita a fonte que o inspirou. O primeiro a fazer tal comparação foi o referido Bréchon, a que se seguiu Ernesto de Melo e Castro, em O Fim Visual do Século XX e outros textos críticos, de 1993.

O mesmo Robert Bréchon que, segundo Zenith, apenas mapeou a vida intelectual de Pessoa…, fez essa comparação, alargando-a a um conjunto de outras obras, de Huysmans a Kafka, numa recensão à primeira edição do Livro do desassossego, na Colóquio-Letras, n.º 72 (1983) e, depois, nas Actas do II Congresso Internacional de Estudos Pessoanos (1985). Mais recentemente, Joana Matos Frias reconstituiu, com rigor, a mesma aproximação entre Soares e Ulrich (Revista Estranhar Pessoa, n.º 5, Out. 2018). Pouco importa que essa aproximação se afigure discutível, se tomarmos em linha de conta o que Musil deixou escrito sobre Ulrich e a sua relação incestuosa com a irmã. De momento, o que se afigura mais importante é perceber que, afinal, “os ensaios luminosos” de Bréchon sempre serviram de inspiração a Zenith. Será isto um plágio? Segundo o método de Zenith, que atira pedras sem cuidar dos seus telhados de vidro, creio que sim.

 

Os dissabores das guerras literárias

Numa passagem do solilóquio 25 do Motim Literário, da autoria do Padre Lagosta, a Miséria argumenta: “Que das guerras literárias se tiram mais dissabores que lucros”. Mas se assim é, por que razão veio a própria Miséria dizer que tinha sido ela a iniciar a guerra? Nas suas palavras, “porque me desinquietaram”? Ao que se lhe responde: “Tu que promoves a guerra e acordas o cão que dormia és preponderante, grosseira, incivil”. Anda cá, Miséria, “que não és letrada”, não fujas: “dize-me que quer dizer esta raça infantil e timorata, que sendo acossada na rua se acolhe ao sagrado dos Templos para evadir a tunda, que novamente provoca com as muitas pedras, que atira pelas janelas da Sacristia?” E o diálogo continua: “Os rapazes andam à pedrada na rua, os rapazes fogem dos Noturnos, metem-se na Igreja, os rapazes depois de estarem na Igreja com que pedras atiram pelas janelas da Sacristia? Que pedras são estas?”

O diálogo entre a Miséria e um mais ajuizado “Eu” prossegue, com este último a querer castigar aquela com a palmatória, pois “seria melhor que nunca houvesse tais controvérsias ou não existisse quem as motivasse”. Mas a Miséria – que, tal como o “Eu”, parece ser uma espécie de alter-ego do autor – lembra ao outro que se tinha apropriado nas suas obras dos pensamentos de Diego de Saavedra Fajardo: “convertendo-os em substância própria, dilatando-os, alterando-os conforme convinha ao seu intento, sem usurpação da obra inteira, nem de um só capítulo”. 

Vem todo este relambório, encenado em jeito de diálogo pelo próprio P. José Agostinho de Macedo quando foi acusado de plágio, a propósito desse outro motim literário que está em curso, opondo Zenith a George. No calor desta refrega, um investigador sério de matéria pessoana e conhecedor respeitado da célebre arca disse-me que tinha lido com proveito o que lhe mandara sobre o motim e concluiu com esta: “alguém que tivesse a pachorra de inventariar as infracções do Zenith ao dever de citar fontes faria outro livro de mil páginas…”.

Tremi, até hesitei. Comecei por achar que era um exagero. Não pelo facto de quem profere a denúncia ser meu amigo, mas por saber que quem o diz tem uma experiência grande na matéria e não afirma coisas de ânimo leve. Por outras palavras, a sua autoridade é mais do que reconhecida no campo dos estudos pessoanos. Falo de quem não se comove nem com amizades que suplantem a verdade e o rigor que todas as investigações têm de ter, nem com argumentos de autoridade que lhe sejam impostos.

Confesso que só agora, depois de ter recebido uma tal mensagem, fiquei mesmo de pé atrás em relação ao livro do Zenith. Talvez, por isso mesmo, procuro afastar-me da espuma da refrega onde o George foi vilipendiado pelo Zenith e seus comparsas, incluindo aqueles que nunca o leram mas não gostam dele. Longe, no fundo, do erro crasso que foi apontado ao George. Um erro que é, no fundo, bem feitas as contas, constituído pela citação em duas ou três páginas de umas cartas imaginadas de Pessoa. Um erro grave, repito, que o próprio assumiu e irá corrigir na 2.ª edição, mas que já sabia ter incorrido nele antes de responder às perguntas do Expresso, às quais foi sujeito com rigor inquisitorial. Dito isto, um erro reconhecido e denunciado por quem o comete não pode atirar para a fogueira um livro de 900 páginas que necessita, antes de mais, de ser lido, criticado e comentado, sem piedade, como o autor sempre fez aos livros dos outros.

Longe disso tudo, dizia eu, decidi voltar à biografia do Pessoa da autoria de Richard Zenith. Também o Padre Lagosta teve de se aguentar à bronca quando foi acusado de estar próximo, demasiado próximo, do Saavedra. Por isso, leio e releio esse livro escrito com devoção e indiscutível conhecimento dos textos de Pessoa, por alguém que encontrou os meios para dedicar mais de uma dúzia de anos a esse exercício, depois de ter dedicado muito mais do que esse tempo ao estudo e publicação dos textos do poeta.

As condições que Zenith soube criar ou das quais beneficiou para escrever o seu opus magnum não se confundem com aquelas de que usufruiu George. Este representa a figura do miserável que escreve a pataco, como diria mestre Aquilino Ribeiro, ou, na linguagem de hoje, de um escritor que tem um contrato editorial a cumprir, o qual não se pode esticar por muitos anos. Para o resultado alcançado e amizades à parte, se o George escreveu mesmo o seu cartapácio em dois anos, até nem se safou nada mal. É claro que contava com a experiência anterior, de outras biografias, mas creio que a mola principal esteve na necessidade de dar conta do recado num curto espaço de tempo.

O motim literário deve, pois, ter em conta antes de tudo o mais as condições em que se escreve. Neste caso, as condições em que os dois escritores escreveram. A comparação a estabelecer é simples: Zenith teve a calma e o lazer para escrever cerca de cem páginas por ano; enquanto George trabalhou a uma média de 450 páginas anuais, para obter 900 no fim de dois anos. Para Zenith, grande conhecedor dos textos do Pessoa e um dos seus mais reputados especialistas, escrever uma biografia, mesmo que se tratasse daquele escritor ao qual já tinha dedicado mais de duas décadas, seria um labor entusiasmante com o qual culminaria a devoção de uma vida.

Acredito que, mesmo assim, lhe faltasse a experiência de conseguir arrumar os dados biográficos, para os conseguir colocar nos contextos de pertinência que dão sentido a uma vida. Sobretudo a partir do momento em que Zenith se procurou afastar da dimensão puramente literária e poética – em que se centraram, por exemplo, Pierre Hourcade e Robert Bréchon, para explorar o sentido da vida de Fernando Pessoa – colocando-a num quadro histórico mais alargado, parece que entrou num terreno que desconhecia, vendo-se a braços com muitos espinhos. as sem o desejo de ofender ou amesquinhar, porque não me parece que o método utilizado para denegrir George deva ser aplicado contra Zenith. Arriscaria mesmo dizer que é recorrente em Pessoa: uma biografia a inexperiência e a falta de à-vontade de Zenith em tudo o que ultrapasse os textos do poeta e ensaísta.

Insisto, não quero atirar o livro do Zenith para a fogueira, nem sequer denegri-lo. Parece-me, apenas, que a visão do especialista, do filólogo mais propriamente dito, só a muito custo se constitui em base para escrever uma biografia. Claro que se pode sempre argumentar que a genialidade ou o excepcionalismo de Pessoa são elementos mais do que suficientes para nos levar a prescindir de tudo o resto. No entanto, uma releitura da biografia de Zenith revela que a figura de Pessoa como que paira em quadros históricos que o seu autor tem muita dificuldade em reconstituir e sobre os quais, em lugar de carrear dados novos, graças ao ponto de vista de Pessoa, acaba por fazer interpretações enviesadas ou que contêm várias imprecisões.

Por exemplo, Zenith escreveu: “António Machado Santos (1875-1921) – um muito respeitado oficial da marinha e o mais afamado herói da revolução republicana de 1910” (Pessoa: uma biografia, p. 612). Trata-se da enunciação de um facto que traz com ele dois valores interpretativos.  Que Machado dos Santos fosse respeitado no seu estatuto de militar não duvido, mas daí a poder ser considerado superlativamente “o mais afamado herói” do 5 de Outubro a distância é enorme. Que sabe Zenith dos heróis da implantação da República? Pouco ou nada e onde terá ido buscar tal inútil e porventura errada minudência? Não sei.

Quanto à República, Zenith considera-a, cinco anos depois da sua implantação, “politicamente tumultuosa e economicamente irresponsável” (p. 613). São conhecidas as origens de uma tal caracterização da Primeira República, cujos aspectos negativos deveriam ser apresentados pelo menos a par dos positivos (a começar pela lei de separação do Estado das igrejas, Lei do Divórcio, projectos de educação e ensino, etc.). A mesma ideia surgiu entre monárquicos e integralistas; teve vida farta nos círculos da propaganda do Estado Novo; para depois ser relançada por Jorge Borges de Macedo, cujas ideias passaram a alimentar, directa ou indirectamente, sucessivos projectos revisionistas da história do século XX. Zenith tomou-a como um facto adquirido, quando se trata de uma interpretação totalmente enviesada ideologicamente, e só assim se explica que a tenha registado, mesmo que daí não tivesse resultado nenhum dado novo para interpretar Pessoa. Aliás, em matéria de ideias políticas de Pessoa, o guia mais seguro – conforme já aqui defendemos – é constituído pelos trabalhos do investigador José Barreto, sobretudo em Sobre o Fascismo, a Ditadura Militar e Salazar (Tinta-da-china, 2015). E no que respeita à bibliografia sobre a República, são hoje essenciais os livros de Luís Bigotte Chorão (aos quais o George recorre). Só mais um pormenor, mesmo reconhecendo que a fonte de inspiração foi aqui o historiador Rui Ramos, interessaria saber em que consistiu essa famigerada “irresponsabilidade económica”…

Já exprimi as minhas divergências em relação ao modo como Zenith interpreta as ideias de Pessoa quanto ao colonialismo, racismo e modos de escravatura moderna. Fico-me, agora, por um facto que, mais uma vez, se afigura impreciso. Considera Zenith que, “apenas em 1914, sob o efeito de uma pressão intensa, é que os produtores de cacau da ilha-colónia restringiram as suas práticas de trabalho abusivas para satisfação dos observadores internacionais” (p. 613). Existe, hoje, uma rica bibliografia sobre a questão do cacau de S. Tomé e as formas de trabalho forçado. Zenith não a cita, ou seja, não dá o seu a seu dono.

De qualquer modo, o pormenor de se fixar numa única data (1914) como ponto de viragem fazendo depender a importância dessa mesma data da satisfação dos observadores internacionais afigura-se não só uma fantasia, como uma perspectiva que vai ao arrepio da tendência para se estudar o que se passa em África tomando em consideração os agentes e as relações locais. Aliás, a própria disposição dos factos anteriores, a começar pela data de 1908 como a da anexação do Congo pelo Estado belga parece-me bem atrabiliária. Se Zenith quisesse referir a pressão internacional acerca da violência perpetrada naquele território, teria de aludir ao relatório de Roger Casement (1904) e ao Solilóquio de Mark Twain (1905). Contudo, não se podia ficar, mais uma vez, pela pressão internacional (“observadores” como Zenith lhes chama, de modo um tanto anacrónico). De qualquer forma, os modos de resistência local e as campanhas movidas pela opinião pública belga nunca poderiam ser esquecidas.  

            Os resultados da minha leitura vão continuar. Mas, para já, os que aqui exponho dizem respeito a apenas duas páginas do livro de Zenith. Um facto que só por si confirma a opinião citada de que seriam precisas mais de mil páginas, para rastrear as suas fontes…

 

Último episódio

Nos motins de pluma, dizia o Padre Lagosta, o feitiço volta-se quase sempre contra o feiticeiro. O acusador, qual espelho de virtudes e qualidades, acaba por se transformar numa mosca varejeira que, de tanto rondar o cachaço do opositor, é inevitavelmente apanhada com uma palmada seca. Assim vão os motins. Este, de que escrevo mais um episódio, contrapondo o Zenith ao George, a respeito do modo de contar a vida de Fernando Pessoa, não é excepção.

George, para que não haja dúvidas, enfiou o barrete e citou trechos de três cartas imaginadas de Fernando Pessoa para Mário de Sá-Carneiro. Com base apenas nisso, caiu o Carmo e a Trindade e esse pequeno lapso teve, imagine-se!, honras de primeira página no maior jornal de referência, o Expresso.

Pretenderam queimá-lo em praça pública e acusá-lo até de plágio. A coisa deu em nada. É de todos sabido que a maioria dessas cartas desapareceu do quarto onde Mário de Sá-Carneiro se suicidou. Por isso, o erro, para o qual lhe tinham já chamado a atenção, foi pelo próprio George denunciado, com lhaneza e sinceridade, como algo de lamentável, a corrigir em segunda edição do seu cartapácio. Pouco importa, agora, ir remexer no modo como lhe tinham sido feitas as perguntas. Aquilo mais parecia um processo inquisitorial, montado numa delação, que só poderia ter sido engendrada pelo próprio Zenith, pois quem lhe fez directamente as perguntas nem sequer se dera ao trabalho de ler as duas biografias de Pessoa que Zenith e George escreveram.

Com essa acusação-denúncia ficou posto o problema de saber até que ponto uma biografia como a de Pessoa pode conter em si passagens, interpretações ou mesmo juízos de valor que são mais o produto da imaginação, da ficção ou da própria construção literária. Uma biografia, concordo, deve basear-se em factos e apresentar as fontes em que se baseia como sucede em qualquer história. Claro que, em muitos casos, os factos são compostos por múltiplas dimensões e, quanto mais compósitos são, mais interferem neles as interpretações. A ponto de se poder dizer que os factos, que transcendem as simples formulações nominais ou cronológicas, mobilizam interpretações e valores. Mais: em qualquer exercício biográfico, como em qualquer modo de escrever história, é muitas vezes difícil distinguir entre os factos e a ficção. O historiador norte-americano Jack H. Hexter, ainda antes de Paul Ricoeur, explicou bem o essencial do que havia a dizer sobre o assunto. Por isso, não vou alardear erudição escusada sobre a matéria.

O que me importa, por agora, é discutir uma das patranhas que o Zenith, feito almocreve das petas – na linguagem dos contemporâneos do Padre Lagosta – procura impingir na sua biografia. Deduz o autor em causa, “a partir das suas [do Pessoa] notas pessoais, que quase de certeza morreu virgem” (Pessoa. Uma Biografia, Quetzal, 2022, p. 31). E, numa outra passagem, Zenith reitera a afirmação, especificando, sem margem para dúvidas, que “Fernando Pessoa, que acabara de fazer vinte e oito anos, permanecia virgem” (p. 586). O que está em causa é mesmo esta patranha, a peta com valor de tese, só comparável à da homossexualidade de Pessoa: a virgindade do poeta.

Discuto noutro lugar a questão da suposta homossexualidade de Pessoa e sei bem – embora o autor não indique aqui a fonte – onde o poeta escreveu acerca do seu desinteresse pela vida sexual. Foi numa carta para João Gaspar Simões, na qual defendeu que a sua obra poética dificilmente pode ser submetida a uma grelha de análise freudiana, primeiro, porque se tratava de uma construção literária, depois, porque ele próprio não se deixava influenciar pela sua vida sexual sobre a qual não tinha grande interesse. Ora, não seria esta mesma carta uma construção do mesmo género, que dificilmente pode ser tomada como um espelho da realidade ou dos factos, tal como realmente se passaram? É que um leitor dos textos de Pessoa tem obrigação de perceber a permanente ambiguidade entre realidade e fantasia.

Já no caso do Zenith – vá-se lá saber por que razão –, a virgindade sem provas de Pessoa só pode ser tida como um modo de fazer não a sua biografia, mas de entrar no reino da pura fantasia. Onde estão as tais “notas pessoais” onde Pessoa nos esclarece acerca da sua virgindade? Em nenhum lado. E o que existe não dá sequer para uma conjectura dentro de um quadro de probabilidades.

Sobre a vida sexual de escritores e artistas da época, há um exemplo raro e bem boçal, mas muito sugestivo. Em 1936, ano subsequente à morte de Pessoa, o pintor Eduardo Malta contou a história de um grupo lisboeta de jovens escritores e artistas que, no pico de uma noite de boémia, foi a uma casa de putas. Todos satisfizeram a sua pulsão. Só o sétimo dos homens não quis e ficou à conversa com a jovem prostituta. O romance intitulado No mundo dos homens, com propósitos moralizantes, mas com algumas perspectivas etnográficas, centrado na vida de Rui Meireles, que fugiu à regra e permaneceu virgem, termina com o mesmo a hesitar entre dois caminhos: o de ir para África ou o de recolher ao seminário. Haveria muito mais a dizer sobre este romance breve, uma novela que fala do mundo machista dos puteiros, muito pouco representado de um ponto de vista literário.

A razão que me leva à sua evocação é apenas esta: a virgindade sem provas de Pessoa é – mesmo reconhecendo que historiadores e biógrafos são sempre guiados pela curiosidade e pela imaginação – tão provável ou improvável quanto a ideia de que ele seria um frequentador de bordéis. Não há provas factuais, nem notas de espécie alguma que o demonstrem, logo, a margem para a especulação, por parte do biógrafo, é reduzida ou mesmo inexistente. 

Há um outro aspecto, no livro de Zenith, onde este volta a escorregar nas rampas da interpretação fantasiosa, desligando-se da realidade dos factos. Trata-se do antissemitismo de Pessoa, que Zenith parece querer pôr na gaveta. 

Parto de três ideias de Zenith. (i) “Qual foi, então, o sentimento visceral de Pessoa em relação aos judeus? Não é de todo claro que tenha tido algum”; e, acrescenta, “desprovido de qualquer animosidade perceptível em relação a eles e escrevendo como um analista sereno (…), observou que os trezentos membros da oligarquia que supostamente planeava derrubar a ordem mundial não eram todos judeus” (op. cit., p. 700). (ii) a afirmação de que “Pessoa ficou a saber tudo sobre essa “questão” [judaica] por via de Mário Saa” (op. cit., p. 701). (iii) o modo como Pessoa julgava os judeus uma raça pura e inferior. A este último respeito, Zenith exprime-se tortuosamente, argumentando o seguinte: “ainda que esta e outras declarações de Pessoa possam ser entendidas como antissemitas, provavelmente ele não o era ‘quanto a temperamento’ e seguramente não o era de forma visceral, nunca de modo a querer defender sequer minimamente uma limpeza étnica” (op. cit., p. 702).

Na formulação destas ideias, mais do que discutíveis, Zenith baseia-se nos trabalhos de Yvette K. Centeno, a que deveria ter acrescentado, da mesma investigadora, a edição do fragmento de Fernando Pessoa, Juden und Freimaurerei (Leipziger Literaturverlag, 2009). Não me irei interrogar aqui sobre as razões – talvez pessoais ou familiares – que estão na base de uma tal dissimulação. No entanto, quem como Zenith foi tão perentório a acusar Pessoa de racismo, de pactuar com o colonialismo e de menosprezar as formas de trabalho forçado, por que razão defende igualmente um ponto de vista tão dubitativo em relação ao antissemitismo de Pessoa? Não será esta uma maneira de pôr o antissemitismo na gaveta, para inglês ver?

Última consideração. Zenith, tal como Pessoa no seu tempo, está inserido num campo intelectual, num mercado em que concorre com outros escritores, editores, jornalistas, investigadores, etc. Conforme já aqui defendi, a sua biografia de Pessoa revela uma incapacidade para delimitar o contexto de pertinência em que Pessoa trabalhou. O grupo ou, talvez seja melhor dizer, os grupos em que se inseriu, pelo menos, desde a criação do Orpheu em 1915, não lhe merecem a atenção necessária e bastaria comparar a este respeito Zenith com George, para perceber uma outra maneira de reconstituir o referido contexto. A título de exemplo, leia-se esta passagem, onde George contextualiza o aparecimento da revista Orpheu, pois nada de equivalente a este exercício se encontra em Zenith:

Em Portugal, à semelhança do que se passava nos campos político e social, o meio cultural era um espaço de filiações extremadas e antagónicas, que por vezes resultavam em conflitos e lutas entre pares. Naquele tempo de grandes clivagens e de enorme virulência política e social, o ambiente favorecia as manifestações subversivas, os gestos de provocação e as expressões transgressoras, e explica que certas facções da elite cultural se tivessem radicalizado (a retórica do meio artístico começava já a encorajar as posições e os comportamentos desviantes, orgulhosamente críticos das fórmulas estabelecidas). Quase sempre com este intuito: provocar agitação e conquistar o poder (antes de entrarem na sua fase conservadora, depois de consolidada a sua posição no meio artístico, literário e intelectual).

As revistas desempenhavam um papel destacado e estruturante, funcionavam como pequenos observatórios da situação do meio cultural: era através delas, em grande medida, que as posições se definiam, que se apontavam os inimigos e se identificavam os aliados (e, sobretudo, que se adquiria reconhecimento social e legitimidade artística).

Mas o prestígio e o impulso extraordinário que as revistas literárias adquiriram naqueles anos — um período de revolução na cultura visual, em que a imagem assumia cada vez mais valor e proeminência — devia-se também à afirmação do grafismo como segmento específico da actividade artística, dotado de singularidade e de autonomia (só em 1914 foram criadas seis novas revistas – A Renascença, Alma Nova, A Boémia, A Galera, A Labareda e A Nação Portuguesa – e, no ano seguinte, 1915, mais cinco, Ideia Nacional, Início, Atlântida, Eh Real! e Orpheu).

Tal não teria sido possível, provavelmente, sem o desenvolvimento das técnicas de impressão e dos processos litográficos, graças à electrificação das oficinas tipográficas (que veio substituir os motores a gás) e à introdução de máquinas industriais (sobretudo as rotativas, que aumentaram consideravelmente a velocidade de impressão).

Por um lado, esta mecanização da composição gráfica permitiu o uso (em larga escala) das imagens na propaganda — no contexto da I Grande Guerra, o novo regime republicano, tal como os outros países envolvidos no conflito, recorreu amplamente à comunicação visual para inculcar ideias, acrescentar eficácia à retórica e justificar medidas políticas — e na publicidade, que se traduziu na criação das primeiras agências de publicidade e na proliferação de cartazes, painéis, tabuletas e outros suportes ilustrados para divulgação de produtos comerciais, de espectáculos ou filmes.

Por outro lado, suscitou uma reacção elitista contra a maré homogeneizadora e massificadora dos processos industriais de reprodução mecânica, que se consubstanciou num fortalecimento dos movimentos defensores de uma estética radical da originalidade artística (vejam-se o futurismo e as suas experimentações tipográficas)” (George, O Super-Camões, Dom Quixote, 2022, pp. 390-391).

 

A incapacidade de Zenith para perceber a época e o mercado intelectual, para além dos grandes quadros políticos, talvez explique a dificuldade do próprio em trabalhar colectivamente com outros investigadores, igualmente habilitados, ou talvez bem mais credenciados, na área dos estudos pessoanos.

O jornalista Luís Miguel Queirós, num artigo do Público publicado há mais de uma dúzia de anos (12-8-2010), revelou as queixas de Teresa Sobral Cunha e Jerónimo Pizarro contra Richard Zenith. Em causa estavam as diferentes edições do Livro do Desassossego. Pizarro considerou as primeiras edições de Zenith “muito fracas” e deu a entender que se baseavam em critérios atrabiliários. Enquanto Sobral Cunha acusou Zenith de, na tradução inglesa de 1991 do mesmo livro de Pessoa, ter incorporado, “sem o assumir”, partes “da edição que ela própria publicara meses antes na Presença”.

Mais tarde, sempre segundo Queirós, quando Zenith publicou a sua primeira edição na Assírio & Alvim, em 1998, Sobral Cunha acusou-o de ter utilizado, “novamente desconsiderando direitos intelectuais”, as correcções que esta fizera para a edição da Relógio d’Água de 1997.

Talvez por causa disso se constate, na biografia de Zenith, uma total ausência de referências ao trabalho de Teresa Sobral Cunha, tirando uma nota solitária, com o nome da investigadora cuidadosamente ocultado sob o véu da obscuridade, lá nos confins das letras miudinhas (como nos contratos de seguros), no final do livro (e, ainda por cima, acompanhada de uma farpa bem mesquinha): “O artigo de Pessoa foi publicado pela primeira vez em Sobral Cunha e João Rui de Sousa, Fernando Pessoa: O último ano, 121–22, com uma nota a dar conta de que os censores haviam proibido a sua publicação no DL. Tudo leva a crer que essa informação seja verdadeira, mas não consegui encontrar nenhum documento que o prove de forma conclusiva” (op. cit., p. 1140). E a isto se resume, segundo o novo dono de Pessoa, toda uma vida de trabalho de uma das primeiras mulheres a trabalhar a obra do poeta…

Enfim, Luís Miguel Queirós escreveu uma peça importante e equilibrada de jornalismo cultural, expôs os pontos de vista daqueles e de outros intervenientes e respeitou o direito do contraditório. Embora se possa acrescentar que Zenith não se saiu bem da refrega, porque parece ter andado sempre nos calcanhares dos outros investigadores. Tomara que o motim literário entre Zenith e George tivesse partido de um artigo do mesmo género. A ser assim, ter-me-ia escusado a dar tanta palmada nas moscas varejeiras que pousaram no meu cachaço…

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[1]  Publicado anteriormente no Contacto 17, 21 e 24 de fevereiro de 2023.



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Imagem: Duelo a garrotazos, Francisco de Goya (1820 – 1823)

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