O colectivo Porta dos Fundos fez recentemente 10 anos. A sua origin story, se fosse contada pela Marvel, não podia ser mais edificante, enquanto lenda do humor. Cinco amigos, Gregório Duvivier, Fábio Porchat, João Vicente de Castro, António Tabet e o realizador Ian SBF, fartos de não encontrarem espaço para os seus projectos na TV mainstream brasileira, onde o humor oscilava entre o de talk shows, sitcoms mais ou menos inspiradas e escolinhas do professor Raimundo, decidem criar o seu próprio canal de youtube.
Quem eram eles?
Fábio Porchat decidira ser humorista no programa do Jô. Num intervalo das gravações, ele, que tinha ido assistir ao programa com a turma da universidade, entregou a Jô Soares um cartão em que pedia que o deixassem fazer um sketch inspirado na sitcom “Os Normais”, que ele próprio tinha escrito.
Para espanto de todos, um intrigado Jô Soares acede, chama-o ao palco. Vestido, vá-se lá saber porquê, com uma camisola da selecção portuguesa, Fábio faz o número, interpretando os dois protagonistas da série.
É um sucesso, que se torna viral. Fábio descobre que é isso que quer fazer, tranca a matrícula e troca S. Paulo pelo Rio de Janeiro. É no Rio que faz os seus estudos em teatro. O seu colega e parceiro de sketches, peças, etc., é Paulo Gustavo, que se viria a tornar na maior estrela do humor brasileiro, embora sendo pouco conhecido em Portugal, faleceria vítima do Covid-19 e da negligência bolsonarista.
Gregório Duvivier e João Vicente de Castro nasceram no epicentro da cultura popular brasileira. Seria fastidioso nomear toda a gente que os rodeava, mas quando Caetano, Gil, e Chico são visitas de casa como no caso de João Vicente, ou que o pai de Gregório é um renomado escultor, quando não está a ser um renomado saxofonista, ficamos com uma ideia. Gregório cursou Letras e João Vicente trabalhava sobretudo em marketing.
Antonio Tabet era o mais velho dos cinco. Esteve durante muitos anos ligado ao marketing e publicidade, e também tinha sido guionista na Globo. A sua persona humorística era conhecida como Kibe Loco, tendo criado o blog humorístico, do mesmo nome, que gozava de enorme popularidade no Brasil.
Ian SBF era o realizador. A força criadora por detrás do canal humorístico do youtube “Anões em Chamas”, de onde viria boa parte dos membros dos primeiros elencos do Porta dos Fundos. Era também responsável pela fotografia e edição e a ele se deve muito da estética e do estilo do Porta dos Fundos.
Desde o início,o foco do Porta dos Fundos foram os guiões. Cada sócio trazia os seus sketches para a reunião. A regra principal era que a aprovação de cada um deles tinha de ser unânime e entusiástica. Outra regra cardinal era que os protagonistas seriam os melhores para fazer cada papel e não quem tinha escrito o sketch (o que obviamente não os impedia de escrever personagens em que os próprios seriam protagonistas). Todas as semanas, duas vezes por semana (agora três) a uma hora fixa (11h da manhã) teria de ser apresentado um novo sketch.
De certo modo, o Porta dos Fundos tinha uma origem e um percurso paralelos ao dos lusitanos Gato Fedorento, no sentido em que ambos se tinham formado no estábulo mainstream mas em revolta e ruptura contra ele, para depois o conquistarem ou serem reconquistados por ele, dependendo de a quem fizermos a pergunta. Isso e a ligação a inúmeras campanhas publicitárias e a expansão das actividades dos seus criadores por crónicas, programas de rádio, podcasts, merchandising, etc.
No entanto, são evidentes algumas diferenças entre os dois grupos: São disso exemplos, entre outros, a própria natureza do mercado brasileiro que origina diferenças de escala abissais, o foco do Porta dos fundos numa estética cuidada, que nunca foi, antes pelo contrário, até por falta de meios, um hábito dos Gato Fedorento, no seu início, e que depois se tornaria uma opção estética, um elenco do Porta dos Fundos que era muito mais homogéneo em termos de qualidade dos actores, quer os do núcleo duro, quer os outros participantes.
Os Porta dos Fundos tiveram diversos méritos: souberam ocupar um território até então praticamente virgem, o online. Deram bom uso à sua liberdade criativa, quer a nível de temas, quer a nível de linguagem e estética. Intuíram, numa altura em que o binge-watching parecia ter destruído pela base o conceito de appointment TV, que o horário e dias fixos para o lançamento de cada vídeo iam fazer com que eles se tornassem um happening, motivo de conversas de café. Todos sabíamos que às 11 saía o sketch novo. Podíamos vê-lo nos computadores, mas também nos telefones. “Já viste o último dos Porta?”, passou a ser uma expressão comum.
Foi assim que o Porta dos Fundos chegou ao meu conhecimento. Um operador de câmara de um sketch que eu tinha escrito perguntou-me, no set, se eu já tinha visto o último do Porta dos Fundos, ao que eu repliquei, perguntando o que era o Porta dos Fundos. Ele mandou-me o link. Pouco tempo depois, estava eu sentado na zona de refeições de uma superfície comercial, no caso, o Campo Pequeno, para aproveitar o wi-fi do lugar, enquanto almoçava e escrevia o sketch do dia seguinte e decidi abrir o e-mail e seguir o link, SOBRE A MESA.
E foi assim que entrei no mundo de “Sobre a mesa”, no universo do Porta dos Fundos. Dou-vos uns minutos para verem, caso não conheçam.
Já está?
Seguem-se spoilers.
O “Sobre a mesa” começa de modo aparentemente inócuo e cordato: um casal, na sala de jantar, ao fim do dia, jantando e conversando, ou não, sobre o seu dia. É um casal burguês, classe média, média alta. Ele trabalha, ela é dona de casa. Ele, Mário Alberto, pergunta-lhe o que é a sobremesa. Ela, Odete, responde que é abacaxi. Também tem tangerina. Mário Alberto tem uma fúria, ele trabalha de sol a sol para sustentar a casa e a única coisa que quer é uma sobremesa caseira ao jantar. E faz a pergunta fatídica: “E você, Odete, o que é que você quer?” A Odete, sereníssima, responde-lhe: “O que eu quero, Mário Alberto, é foder.”
Se o leitor está em choque, imagine eu, com o computador com os altifalantes ligados a 100%, tendo-me esquecido dos headphones em casa, com dezenas de pessoas a olharem para mim, enquanto eu desesperadamente tentava parar o vídeo.
O que se segue é uma litania maravilhosa, um crescendo vernacular, metódico, preciso, cadenciado das mais variadas actividades sexuais a que Odete se queria dedicar, sem o envolvimento do esposo, que, boquiaberto, a olha em silêncio. Odete, numa representação exemplar de Júlia Rabello, diz o seu monólogo seraficamente, sem subir o tom, com a convicção de quem pensou demoradamente sobre o assunto. Terminando, pergunta a Carlos Alberto “o que é que ele quer”. Boquiaberto, Carlos Alberto responde “eu quero a tangerina”.
Dez anos depois, a versão oficial do vídeo, lançado a 10 de setembro de 2012, foi vista por quase 29 milhões de vezes no youtube.
Muito do sucesso do sketch, escrito pelo Antonio Tabet e realizado pelo Ian SBF vem, claro, do trabalho dos actores. Tabet está impecável como o marido misógino, e Júlia Rabello é prodigiosa nos seus tempos,na dicção, no vazio da sua expressão que contrasta em absoluto com a explosão serena da sua verborreia torrencial. Isto ajusta-se como uma luva à precisão meticulosa da escrita do sketch. Não há nele uma palavra a mais, uma metáfora inútil, ou contraproducente, cada sílaba trabalha para o efeito cómico em crescendo da peça, para aquele momento catártico e, porque não dizê-lo, orgástico, em que ela, Odete, termina, por uma vez, em primeiro lugar.
O sketch tem muito do que fez o Porta dos Fundos: actuações impecáveis, texto brilhante e não constrangido por normas regulativas de linguagem do mainstream media, uma ideia simples, abordada brilhantemente e levada a cabo até às últimas consequências, servindo a crítica feroz a idiossincrasias que, não sendo apenas brasileiras, têm na sociedade brasileira enorme ressonância. Os Porta dos Fundos tocavam fundo num nervo, sem pregar, ou ser didácticos, mas dinamitando, de modo hilariante, a estrutura patriarcal (infelizmente só na ficção,porque, na realidade, no Brasil e não só, ela continua aí para as curvas). Como Oscar Wilde dizia “tudo no mundo é sobre sexo, excepto o sexo. O sexo é sobre poder”.
O sucesso do Porta dos Fundos foi avassalador. Apesar da concorrência que se lhes juntou, explorando o filão da internet, das plataformas de streaming sem restrições de linguagem e da própria e natural dispersão criativa dos seus sócios-fundadores, são hoje um canal subscrito por mais de 17 milhões de utentes e possuem já uma estrutura permanente muito significativa.
Porque é que correu tão bem?
Claro que também por todos os esquemas de marketing e senso de timing e de valorização da marca, mas, sobretudo e inequivocamente, pela criatividade delirante dos cinco fundadores, a quem se viria a juntar Gabriel Esteves, o primeiro numa série de outros guionistas que começaram a trabalhar para a empresa. Durante muito tempo, bissemanalmente e, agora, trissemanalmente, os Porta produziam algo que era o mais próximo de verdadeiramente original e hilariante que se podia criar. Quase todos os sketchs são baseados em fraquezas humanas, firmemente assentes na cultura pop e erudita dos seus membros. Por exemplo, no clássico “X Mandamentos”, Moisés desce da montanha com as tábuas para as ler ao povo judeu. O ponto é que ninguém acredita que ele não esteja a debitar mandamentos que lhe dêem jeito, outros revoltam-se porque já os tinham violado, aos mandamentos, claro está, e ninguém os tinha avisado. Não era justo.
Não se viam delírios do género desde a Vida de Brian.
O Porta dos Fundos viria, de algum modo, a ser vítima do seu sucesso. Embora isso soe ao velho truísmo de “eles quando não eram conhecidos é que eram bons”. a verdade é que o número consecutivo de sketches, o seu aumento da sua frequência, o hábito de vermos o estilo “porta”, levaram a que a qualidade se tivesse tornado mais rarefeita: o humor não é uma fonte inesgotável.
Além disso, os quatro guionistas/performers originais estavam e estão sob a solicitação permanente de outras actividades: Porchat com inúmeros projectos, desde o seu stand-up, a peças de teatro, filmes, séries, vários programas como apresentador, na TV, Gregório com as suas peças, com o Portátil (o grupo de teatro de improviso do Porta dos Fundos), João Vicente, com novelas, talk shows, o Portátil, e Antonio Tabet que, no meio disto tudo ainda conseguiu ser o director de comunicação de um dos amores da vida dele, o Flamengo.
Havia, objectivamente, cada vez menos tempo para escreverem novo material e executá-lo. E cada vez maior procura. A que eles insistiram em continuar a dar resposta.
Chegaram a ser feitos programas de TV com a antologia dos sketches e Especiais (médias metragens temáticas) para streaming, dos quais os mais famosos e famigerados eram os Especiais de Natal, que chegaram a valer-lhes um cocktail molotov atirado contra a porta do seu escritório.
O Porta dos Fundos gerava todo o tipo de merchandising e a popularidade no estrangeiro, em Portugal sobretudo, fez com que os seus membros, a solo ou em colectivo, passassem por cá largas temporadas, em espectáculos, filmagens, lançamentos de livros, etc. , como é exemplo recente a digressão de Gregório Duvivier com a peça Sisífo e a participação dele e de Antonio Tabet na Comic-con de Lisboa, este Dezembro.
A favor do Porta e dos seus fundadores estava que venderem-se a bom preço, não ética, mas financeiramente, era um objectivo e não um pecado capital. As dores de crescimento eram esperadas, faziam parte do plano. Fazendo o que fizessem a solo, o Porta continuava a ser o espaço de liberdade criativa único, a que podiam sempre regressar.
E se é verdade que são cada vezes mais raros os sketches verdadeiramente excepcionais, seja porque a fasquia está demasiado alta, seja porque pela rarefacção de talento e disponibilidade, nunca se desce de determinado patamar e os valores de produção e o cuidado com a mesma se mantêm sempre a um nível altíssimo.
E eis-nos chegados ao Peçanha.
Quem é o Peçanha?
O Peçanha é uma das poucas personagens recorrentes no Porta dos Fundos. Provavelmente, a única com mais aparições que “Jesus Cristo”, ou “Deus”, as personagens, nos sketches do grupo.
Peçanha, que é sempre encarnado por Antonio Tabet, por razões que se tornam óbvias ao primeiro visionamento, é um sargento da Polícia Militar do Rio de Janeiro. A sua primeira aparição dá-se num sketch escrito por Fábio Porchat, “O Ciclo da Vida”, em que ainda não surge com o seu nome definitivo.
O sketch é sobre alguém que está a ser assaltado no seu carro, quando o assalto é interrompido por um polícia, que assalta o ladrão, assalto esse que é interrompido por um deputado estadual, que assalta o polícia, obrigando-o a doar o produto do seu roubo à campanha de reeleição, só para descobrir que, afinal, dentro do carro, ia um pastor evangélico que cobra o dinheiro ao deputado por conta do dízimo. O Ciclo da Vida.
Seguindo uma estrutura semelhante à da canção “O Malandro”, de Chico Buarque de Holanda, Fábio Porchat expõe a corrupção na sociedade brasileira, deixando bem claro que quem rouba menos é o ladrão. Todas as pessoas de bem são predadoras e levam bem mais que o próprio bandido, que é o proverbial culpado de toda a situação.
Tabet fez tão bem o polícia militar corrupto, que ele seria rebaptizado de Peçanha.
Peçanha tem os defeitos que se adivinhavam numa sociedade em convulsão como o Brasil, tanto antes, como sobretudo no mandato Bolsonaro: é corrupto, misógino, racista, violento física e verbalmente, de gatilho leve, ele próprio traficante, trabalhando também com e para o tráfico, bem como as milícias do Rio de Janeiro. É, paradoxalmente, produto do seu tempo, não o compreendendo em boa parte. Peçanha é esperto, mas pouco inteligente, não percebe naturalmente as novas subtilezas de linguagem e de tratamento dos suspeitos.
A título de exemplo, há um sketch em que Peçanha está a receber a queixa de furto a um cidadão branco. Por mais que o cidadão tente descrever o suspeito, Peçanha insiste que o mesmo só pode ser negro. Se o assaltado acha que é branco, é porque o assaltado está equivocado. Quando finalmente cede, Peçanha assegura à vítima que não se preocupe, de certeza que o ladrão branco lhe devolverá o dinheiro.
No mais recente, já após as eleições de 2022, Peçanha é convocado pelos militares que preparam um golpe pró-Bolsonaro, para ajudar no planeamento da tomada do Rio de Janeiro. Segue-se uma hilariante e também trágica listagem de objectivos: Peçanha avisa que é melhor não entrarem no morro x, que haverá resistência da milícia na zona z, que é melhor não levarem os tanques para a zona y, porque serão imediatamente vítimas de tankjacking. O golpe, como vimos até agora, fica adiado.
Pelo meio, entre muitos outros, “Cidadão de bem”, em que um ingénuo Fábio Porchat desperta a desconfiança de Peçanha, que não percebe como é que alguém pode conduzir na sua cidade, respeitando os limites de velocidade e sinais de trânsito. Algo de profundamente suspeito está a acontecer…
Peçanha tornou-se tão popular que protagonizou um filme de pouco mais de uma hora Peçanha contra o Animal, em que Peçanha tentava parar um perigoso psicopata assassino, numa cidade em que é difícil perceber se está a haver uma vaga de homicídios, ou se é só quinta-feira.
Se é verdade que o resultado é desigual, alternando gags brilhantes com sofríveis e provando a dificuldade de transportar um sketch para um formato longo, não o é menos que “Peçanha contra o animal” é mais um marco na popularidade da personagem.
E aqui chegamos ao meu último ponto. Justificando o êxito da personagem, o próprio Tabet afirmou que ela era transversal: tanto era popular à esquerda, que nela via uma crítica feroz ao comportamento da Polícia Militar no Rio de Janeiro e à terrível corrupção política que a sustinha, como à direita, em que muitos, sem ironia, adoravam Peçanha e tomavam as posições dele como as correctas.
Ambos os lados se riam do mesmo sketch, por razões completamente diferentes. Uns riam de Peçanha, outros, com.
Havia também quem dos dois lados da barricada gostasse de Peçanha, apesar das opiniões e acções da personagem. O Tabet tinha feito um trabalho tão bom que tinha construído um vilão por quem sentíamos empatia. Mas eram provavelmente uma minoria.
Como Tabet explicou, a intenção dele era clara. Não tinha culpa de quem fazia uma interpretação esdrúxula do que eram os sketches, não podia controlar o que as pessoas pensavam. Tabet é o membro mais conservador dos Porta dos Fundos, apesar de ter, nestas eleições, apoiado Lula, ele que era e ainda é um anti-petista convicto. Mas um Rio de Janeiro em que os últimos seis governadores do Estado, todos conservadores, estão presos por todas as variedades de corrupção, da rachadinha ao tráfico, e um Bolsonaro implicado até ao fundo com os milicianos, foram o suficiente para tomar partido pelo presidente recém-eleito.
Apesar disso, havia esta divisão de risos. Haveria gargalhadas certas ou erradas, ou apenas gargalhadas?
E se forem “erradas”, qual é a resposta do comediante? Explicar a sua piada até demover parte do público de gostar dela e dele? Deixar de fazer essas piadas? Qual a percentagem necessária de risos errados para desencadear isso? Deve examinar as piadas e o meio em que as divulga, para perceber o que falhou? Cancelar o próprio público?
Tudo isso?
Ou nada disso. Porque é que o comediante não há-de pensar que público é público, dos que consomem o seu material só para se ofenderem com ele, aos seus fãs incondicionais. Não lhe cabe a ele dissuadir quem quer que seja de aceder ao mesmo. Não cabe ao humorista perder dinheiro, em nome do que quer que seja.
É provável que não haja resposta única para estas perguntas.
Mas a resposta mais famosa e que granjeou ao seu autor a maior quantidade de street cred foi o já mítico abandono da Comedy Central por Dave Chapelle.
Chapelle recusou 50 milhões de dólares para, com Neil Brennan,continuar a estabelecer um novo paradigma com o seu programa de sketches, o Chapelle Show de que talvez voltemos a falar, em breve.
Chapelle defendia que as suas piadas estavam a ser usadas contra o seu próprio povo, perpetuando desse modo estereótipos autorizando de algum modo que eles pudessem servir de caução a preconceitos vários. Pior, sentia-se transformado numa máquina de fazer dinheiro à custa disso. Os 50 milhões seriam o preço da sua alma. Não os aceitou e afastou-se, deixando perplexa toda a gente na indústria e muitos dos seus fãs.
Ironicamente, ou talvez não, foi o melhor passo da carreira dele. O seu regresso ao stand-up granjeou-lhe contratos ainda mais chorudos e garantiu-lhe o controlo absoluto do processo criativo.
Mas o debate entre o riso bom e o riso mau permanece, as fronteiras deslocam-se com o tempo e em função de quem as está disposto a respeitar ou violar e da disposição do público para os seguir nesse caminho.
Tabet e o Porta dos Fundos não seguiram a via sacra de Chappelle. Peçanha continua a ser um dos maiores sucessos do colectivo. Longa e próspera vida, pois, se deseja a ambos, Porta dos Fundos e Tabet, e também por vezes sinistro, mas sempre hilariante, Peçanha.
PS: O autor é amigo de Gregório Duvivier e conhece bem Antonio Tabet, Fábio Porchat e João Vicente de Castro. O leitor lerá tudo com o grão de sal que achar necessário.