
Carta V – O casamento heterossexual
Lado positivo: união, concretização, amor, paz, tradição, família, estabilidade; contrato. Felicidade?
Lado negativo: conservadorismo, rigidez, tédio, cansaço, dependência, prisão.
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No imaginário colectivo, o casamento parece ser um objectivo universal, desejável pela grande maioria e pretendido pelas minorias que dele se vêem excluídas. Nalgumas culturas, tende a ser compulsivo para as mulheres, ou estas sofrerão graves penalizações, físicas, sociais e/ou económicas, e, mesmo naquelas que consideramos serem sociedades próximas e semelhantes, perdura um tom de fatalidade no que toca a esta celebração, como se se tratasse de um passo inevitável na busca da felicidade.
Ora, dependendo da motivação (a concretização final de um amor romântico, ou a contratação de um parceiro económico), o objectivo terá maior ou menor probabilidade de ser atingido e perdurar, mas, como em tudo, as variáveis são tantas que o acaso parece ditar o final e o desenrolar dos acontecimentos. No entanto, e porque a leitura de tarot pretende oferecer mais respostas do que perguntas, e já que nos saiu esta carta, tentemos encontrar uma fórmula de sucesso, ou, pelo menos, um conselho (não é fácil, ao que parece; já na primeira epístola aos coríntios, basicamente, o conselho é “não se casem”, mas depressa segue um “mas se tem de ser” … (“Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se. (…) “Estás ligado a mulher? não procures separação. Estás livre de mulher? não procures casamento.”) Uma pessoa fica baralhada.
Procurando factos que sustentem uma decisão (e também há estudos para tudo e o seu contrário), digamos, de forma sucinta, no que toca ao casamento heterossexual:
– Se és mulher, não te cases; se és homem, força nisso.
Porém, como, neste caso, a ideia é casarem-se um com o outro, está o caldo entornado.
Tentemos ser práticos:
– Homens: não agridam as vossas mulheres.
– Ambos: ponderem bem a decisão de ter filhos, porque, ao contrário do que dita a lenda ou alguma realidade mágica, os filhos tendem a dar cabo daquilo que idealizarem para o casamento (que vá além dos próprios filhos) – aqui pode haver uma ligação ao facto de os índices de felicidade no casamento aumentarem após os primeiros 20 anos.
– Mulheres: agora que ponderaram, tal como os homens, na questão anterior, ponderem mais uma vez; é que “as mulheres solteiras e sem filhos são mais felizes e saudáveis do que as casadas e com filhos”.
Mas, então, o que dita a infelicidade das mulheres casadas e com filhos?
Talvez a exaustão pela grande sobrecarga de trabalho não remunerado, a acumulação desequilibrada de tarefas e papéis (de cuidadoras, gestoras do lar e da família, contando com descendentes, ascendentes e cônjuges), a carga mental daí decorrente, a falta de tempo para descanso e lazer.
– Homens: como resolver isto? É pôr as mãos na massa. Podem perguntar uma vez, mas depois é preciso que se responsabilizem pelas tarefas, de forma atenta, assertiva e sistemática, sem que alguém tenha de vos dizer; comecem, talvez, por jogar este jogo. Ou, se for preciso, tomem lá um desenho…
Quanto à sexualidade, “no casamento, elas estão mais satisfeitas do que eles, mas homens que tiveram muitas parceiras revelam ser mais infelizes”.
Por outro lado, podemos sempre aguardar pela outra carta.
Ao que parece, o casamento continua a ser bastante satisfatório para os elementos do género masculino, agora em relacionamentos homossexuais, mas, regra geral, os adultos em relacionamentos LGBT casados parecem ser mais felizes do que os solteiros.
Agora é baralhar e voltar a dar.




