Filosofia e História

Não Sei (Mas…)
Ciências
Joana Sá

O Maravilhoso Potencial da Inutilidade

Tinha este texto “na gaveta”, mas acaba de ser anunciada uma possível fusão entre o Instituto Gulbenkian de Ciência, da Fundação Calouste Gulbenkian, e o Instituto de Medicina Molecular, da Universidade de Lisboa. A ideia, dizem-me, é criar o maior instituto de ciências da vida da Península Ibérica, com uma forte componente biomédica e ligação ao Hospital de Santa Maria. Uma vez que esta fusão surge na sequência de uma série de outras decisões políticas

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Serotonina: uma história física e moral *
Ciências
Vasco M. Barreto

Serotonina: uma história física e moral *

Primeira parte Somos compostos por milhares de moléculas diferentes. Mas se pedirmos a alguém na rua que enumere todas as moléculas que conhece existentes no corpo humano, talvez essa pessoa não chegue às três dezenas. Eis uma lista possível: água, oxigénio, dióxido de carbono, colesterol, triglicerídeos, colagénio, glucose, ADN, ARN, hemoglobina, anticorpos, pepsina, melanina, ATP, dopamina, adrenalina, testosterona, progesterona e estrogénio, oxitocina, várias vitaminas e poucas mais. Nas últimas décadas, uma das moléculas a ter

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0,71 — Ela entrou e disse: “Tu usas fuck-me shoes?!”
Artes Visuais
Bárbara Reis

0,71 — Ela entrou e disse: “Tu usas fuck-me shoes?!”

Os sapatos vermelhos são uma coisa nos pés de uma menina e outra completamente diferente nos pés de uma mulher. Aos cinco anos, são a melhor escolha para ir a uma festa de família ou à Missa do Galo. A partir dos 20, roçam o mau gosto. Se forem de salto alto, são provocadores. Se forem de salto-agulha — os stiletto —, abre-se a porta do herético. Chegados aqui, há duas possibilidades: se a mulher

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És Um Jardim Fechado, Minha Irmã E Minha Esposa, Um Jardim Fechado, Uma Fonte Selada.*
Artes Visuais
João Amaro

És Um Jardim Fechado, Minha Irmã E Minha Esposa, Um Jardim Fechado, Uma Fonte Selada.*

O jardim não é, pois, a pequena forma de paisagem, ele tem o seu esquema simbólico próprio. Na perspectiva do otium, ele não é a redução, à escala humana, da generosa Natureza, não mais do que uma metábole ou sinédoque pela qual ela se apresentaria. Muito pelo contrário, é através de uma separação dela que ele se constitui – e quase em sentido oposto. Anne Cauquelin, A Invenção da Paisagem    Aderimos à tese de

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A Maravilhosa Aritmética da Igualdade (de A a Z) #2
Filosofia e História
Luisa Semedo

A Maravilhosa Aritmética da Igualdade (de A a Z) #2

  Nota Introdutória. A (cont.) Afro-europeia/Afropeia   “Não poderemos continuar a significar humanidade nesta linguagem senão não nos livraremos da violência que ela carrega. Precisamos de novas palavras para expressar o que somos agora, o que queremos ser. Teremos de nos libertar. (…) Afropeia vem abrir as portas da prisão. Para que a reclusão acabe, será preciso repudiar os padrões induzidos pela ocidentalidade.” Léonora Miano, Afropea – Utopie post-occidentale et post-raciste, Paris, Grasset, 2020, p.

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O ovo da serpente
Filosofia e História
António Araújo

O ovo da serpente

E quando já tudo havia sido dito e escrito sobre o nazismo e o III Reich, eis que surge um livro como este: A Village in the Third Reich. How ordinary lives were transformed by the rise of fascism (Elliot & Thompson, 2022). A autora, Julia Boyd, que contou com a colaboração da historiadora alemã Angelika Patel, já antes tinha dado à estampa uma obra sobre os viajantes na Alemanha nazi (Travellers in the Third

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Em defesa do véu islâmico
Filosofia e História
Filipe Nunes Vicente

Em defesa do véu islâmico

O título chamou-te a atenção, não foi?  Ainda chamaria mais se fosse “Pela ilegalização da homossexualidade”. E se fosse “Manifesto pelo exclusivo da utilização da abóbora-menina nas papas de abóbora”? Aí talvez passasses adiante apenas porque não saberias que a abóbora a utilizar é a abóbora-menina. Abóboras. Experimentemos outra: “Por uma América virgem”. Tenho a leve impressão de que captaria o teu olhar de cenho arreganhado. Sobretudo se não souberes que os nativos norte-americanos não nasceram lá: colonizaram o território

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Talvez a superfície seja a essência
Artes Visuais
Mário Figueiredo

Talvez a superfície seja a essência

As superfícies, enquanto materiais de suporte e meios de comunicação, são obviamente subjacentes às artes visuais. Os artistas exprimem-se sobre uma enorme variedade de superfícies, desde interiores de cavernas nas pinturas rupestres, ao papel, à madeira, aos têxteis, ao vidro, à cerâmica, à tela e a muitas outras, nelas depositando formas, cores, texturas, construções, relações, representações ou abstracções. No cinema e na fotografia, comunica-se através de (ou sobre) superfícies: ecrãs, papel, metal. As esculturas, embora

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Teatro Cósmico #3
Artes Performativas
José Maria Vieira Mendes

Teatro Cósmico #3

Identifico-me imenso Na “lição” Plays de Gertrude Stein, em que a escritora americana relata o modo como se foi aproximando e afastando do teatro para finalmente chegar à escrita de peças-paisagem, que parecem não se esgotar, há três ou quatro passagens sobre o verbo “to know” que me divertem muito. Stein descreve um problema de infância com o teatro que expelia familiaridade equiparando conhecer e saber, e que a excluía e angustiava, mas eu lembrei-me

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Não Sei (Mas…)

O Maravilhoso Potencial da Inutilidade

Tinha este texto “na gaveta”, mas acaba de ser anunciada uma possível fusão entre o Instituto Gulbenkian de Ciência, da Fundação Calouste Gulbenkian, e o Instituto de Medicina Molecular, da Universidade de Lisboa. A ideia, dizem-me, é criar o maior instituto de ciências da vida da Península Ibérica, com uma

Serotonina: uma história física e moral *

Serotonina: uma história física e moral *

Primeira parte Somos compostos por milhares de moléculas diferentes. Mas se pedirmos a alguém na rua que enumere todas as moléculas que conhece existentes no corpo humano, talvez essa pessoa não chegue às três dezenas. Eis uma lista possível: água, oxigénio, dióxido de carbono, colesterol, triglicerídeos, colagénio, glucose, ADN, ARN,

0,71 — Ela entrou e disse: “Tu usas fuck-me shoes?!”

0,71 — Ela entrou e disse: “Tu usas fuck-me shoes?!”

Os sapatos vermelhos são uma coisa nos pés de uma menina e outra completamente diferente nos pés de uma mulher. Aos cinco anos, são a melhor escolha para ir a uma festa de família ou à Missa do Galo. A partir dos 20, roçam o mau gosto. Se forem de

A Maravilhosa Aritmética da Igualdade (de A a Z) #2

A Maravilhosa Aritmética da Igualdade (de A a Z) #2

  Nota Introdutória. A (cont.) Afro-europeia/Afropeia   “Não poderemos continuar a significar humanidade nesta linguagem senão não nos livraremos da violência que ela carrega. Precisamos de novas palavras para expressar o que somos agora, o que queremos ser. Teremos de nos libertar. (…) Afropeia vem abrir as portas da prisão.

O ovo da serpente

O ovo da serpente

E quando já tudo havia sido dito e escrito sobre o nazismo e o III Reich, eis que surge um livro como este: A Village in the Third Reich. How ordinary lives were transformed by the rise of fascism (Elliot & Thompson, 2022). A autora, Julia Boyd, que contou com

Em defesa do véu islâmico

Em defesa do véu islâmico

O título chamou-te a atenção, não foi?  Ainda chamaria mais se fosse “Pela ilegalização da homossexualidade”. E se fosse “Manifesto pelo exclusivo da utilização da abóbora-menina nas papas de abóbora”? Aí talvez passasses adiante apenas porque não saberias que a abóbora a utilizar é a abóbora-menina. Abóboras. Experimentemos outra: “Por uma América virgem”. Tenho

Talvez a superfície seja a essência

Talvez a superfície seja a essência

As superfícies, enquanto materiais de suporte e meios de comunicação, são obviamente subjacentes às artes visuais. Os artistas exprimem-se sobre uma enorme variedade de superfícies, desde interiores de cavernas nas pinturas rupestres, ao papel, à madeira, aos têxteis, ao vidro, à cerâmica, à tela e a muitas outras, nelas depositando

Teatro Cósmico #3

Teatro Cósmico #3

Identifico-me imenso Na “lição” Plays de Gertrude Stein, em que a escritora americana relata o modo como se foi aproximando e afastando do teatro para finalmente chegar à escrita de peças-paisagem, que parecem não se esgotar, há três ou quatro passagens sobre o verbo “to know” que me divertem muito.