Da série personagens do meu país (4): Conceição Carvalho do Ó.

Advogada lançada nas tarefas ministeriais, benfeitora, mulher de armas, de origem humilde, mas com transcurso brilhante. Ganhou o respeito dos seus concidadãos pela forma abnegada como se empenhou na vida pública e pelo modo recatado como dela se soube retirar.

Nasceu em 1950, na Boavista, um pequeno lugar do distrito de Leiria, e cresceu com broa e carapaus secos da Nazaré, que dividia com as quatro irmãs. Diz por isso que aprecia hoje mais os jantares no Eleven ou Vila Joya do que quem sempre soube bem de boca (entrevista ao DN, 2007). Com muito esforço dos pais (cultivadores de repolhos), conseguiu acabar o liceu em Leiria e entrou depois na Clássica, em Lisboa, para cursar Direito. Envolve-se na política (CDS-PP), casa com um médico de Alcobaça e inicia a carreira de advocacia, enquanto se enreda cada vez mais  no partido. Em 1985 é  eleita deputada pelo círculo de Faro (onde tem casa de férias) e pouco tempo depois já ocupa  vários cargos de administradora em empresas de prestígio (GALP, BRISA etc), à custa da vida familiar (já tem dois filhos):   “Tratei  sempre  os interesses do povo como se fossem os meus” (DN, 2007).

Atravessa os anos 90 no Parlamento Europeu (um mandato), destacando-se pela participação em projectos que visavam regulamentar a imigração: Os mais pobres, sejam da Roménia ou do Sudão, têm o direito a ser felizes nos seus países” (DN, 2007). Funda em Leiria “As Passarinhas”, uma organização cristã dedicada ao apoio de crianças com deficiência. Publica diversas monografias jurídicas, mas também de cariz social como “A reinvenção da solidariedade no século XXI“, apresentada na FNAC do Chiado pelo padre Vítor Melícias e editada por Zita Seabra.

Chega ao governo em 2004 como ministra das Obras Públicas, respondendo aos que a acusaram de ser impreparada no sector com uma frase célebre: Todo o ser humano faz obra. A queda do governo em 2006 permite-lhe aceitar o convite para a administração da CGD, da Transtejo e do BPN, funções que desempenhou com inegável desenvoltura e enorme sacrifício pessoal, pois os meus netos nasceram nessa altura e não os pude gozar como devia (DN, 2007).

Recentemente acrescentou ao seu prestígio de cidadã livre e independente a co-autoria e subscrição do manifesto Nunca, Nunca Mais, no qual se critica ferozmente a forma como os políticos conduziram os destinos do país  nos últimos vinte anos. 

É hoje administradora-executiva na EDP-Renováveis e faz scones aos domingos.

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