Nº 6 – Abril 2023

Da série personagens do meu país (3) : Joaquim de Carvalho
Literatura
Filipe Nunes Vicente

Da série personagens do meu país (3) : Joaquim de Carvalho

Nome incontornável da poesia portuguesa da segunda metade do século XX, não recebeu o reconhecimento merecido por motivos insondáveis. Relacionou-se com grandes poetas e escritores da sua geração e parecia lançado para o panteão da memória literária nacional, mas a sua obra é hoje  encontrada apenas em  alguns  alfarrabistas de província.  Joaquim Jesus de Carvalho nasceu em Seixas, Caminha, em 1945, numa família de comerciantes abastados. O pai e o avô compravam vinho verde e

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Acabe-se com a ideia da presunção de inocência
Sociedade
Vasco M. Barreto

Acabe-se com a ideia da presunção de inocência

O título é clickbait. Ninguém quer acabar com a presunção de inocência enquanto alicerce do Estado de Direito. Mas espero convencer o leitor de que não uso este truque de modo gratuito, pois o título é uma crítica ao habitual lembrete sobre a presunção de inocência que o fazedor de opinião lusitano sempre apresenta antes de nos dar a substância do seu comentário, que é – invariavelmente  – uma violação da presunção de inocência que

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«Humoristas de sucesso? São os gurus de um novo e necessário culto.»
Artes Performativas
André Canhoto Costa

«Humoristas de sucesso? São os gurus de um novo e necessário culto.»

Entrevistámos Pedro Reis Sabido, investigador do Ralston College, especialista em Estudos Portugueses e Brasileiros e Literatura Africana Lusófona, a propósito dos limites do humor e outras questões de linguagem. Falámos sobre os bobos de Shakespeare, os Beatles, o império da família Balsemão (adeus empregos na IMPRESA), gladiadores, gurus espirituais, e ainda, como não podia deixar de ser, o ChatGPT.             A polémica sobre os problemas da linguagem e os limites do humor não parece abrandar,

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Corvos imaginários, papagaios estocásticos e outros animais que falam
Ciências
Manuel Arriaga

Corvos imaginários, papagaios estocásticos e outros animais que falam

Há algo de desconcertante em finalmente existir uma máquina capaz de manter um diálogo coerente e informado sobre quase qualquer tópico. As experiências de quem já experimentou usar o ChatGPT (ou sistemas semelhantes) têm levantado questões sobre se estes sistemas poderão (vir a) ter consciência — e, mais fundamentalmente, sobre o que é a consciência. Neste artigo vou apresentar algumas ideias em torno deste tema, tentando ir um pouco além das discussões que geralmente encontramos

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O luxo da conversa inteligente
Cinema e Audiovisual
Ana Isabel Soares

O luxo da conversa inteligente

18 de janeiro de 2007 foi uma quinta-feira. Foi um dos primeiros dias que passei na Universidade de Stanford e a data em que vi pela primeira vez Robert Pogue Harrison. Ouvira falar dele na véspera, quando tudo me era novidade. Os outros professores contavam-me que ele estivera internado, com um grave problema de coração – vim a saber mais tarde que estivera em paragem cardíaca, que roçara a morte e se salvara por um

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Na Era do Zettabyte, pt.1: Em toda a parte e em parte alguma
Filosofia e História
José Carlos Fernandes

Na Era do Zettabyte, pt.1: Em toda a parte e em parte alguma

Nas televisões, nas newsletters digitais dos jornais, nos news feeds, nos posts, tweets e vídeos nas redes sociais, nos websites dos agregadores de conteúdos, em e-mails reenviados em massa, em split-screen, em janelas pop-up e deslizando em rodapé no écran, desfilam, ininterruptamente e sem ordem, hierarquia ou nexo, atentados terroristas, penáltis por assinalar, interpelações ao Governo pelos partidos da oposição, a fome no Corno de África, a atribuição anual de “estrelas” a estabelecimentos de restauração

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O ciúme, autópsia breve
Ciências
Inês Narciso

A polarização do discurso sobre a regulação das plataformas só as beneficia a elas

No início do ano em que se assinala a entrada em vigor do Digital Services Act – uma lei europeia de regulação das redes sociais –, o Presidente da Assembleia de República (PAR) provocou reações em diversos quadrantes políticos na sequência das suas declarações sobre o desafio que as redes sociais representam para as democracias.   Augusto Santos Silva destacou que “a  imediaticidade da comunicação, a tendência ao tribalismo, a polarização, a dispensa da mediação

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Contra Proust
Literatura
Z - Autores Convidados

Contra Proust

Texto de Robert Pogue Harrison, autor convidado.Tradução: Ana Isabel Soares _   Como o programa se chama Entitled Opinions, aqui está uma opinião minoritária sobre literatura. Há 150 anos, no dia 10 de julho, Jeanne Clemence Proust deu à luz um rapaz que haveria de acarinhar e amimar, alimentando nele um feroz egoísmo que se veria forçada a transigir, a negociar e a gerir. Infundiu nele o amor pelas artes e em 1905, quando morreu,

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Isto anda tudo ligado #4
Filosofia e História
Margarida Davim

Isto anda tudo ligado #4

O fim da imaginação A imaginação é essencial à política. Só faz sentido agir politicamente quando se acredita que há a possibilidade de mudar o mundo. A ideologia é, em certo sentido, um mapa para se chegar a uma forma de sociedade imaginada que acreditamos ser a melhor. Mesmo os mais conservadores estão agarrados a uma ideia imaginária sobre outro mundo possível que pode ou não ter já existido. Não faz sentido desligar o exercício

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Paul Auster, desarmante
Filosofia e História
António Araújo

Paul Auster, desarmante

         Enquanto comecei a pensar neste texto e depois o escrevi, ocorreu mais um grande massacre nos Estados Unidos, daqueles cuja notícia corre o mundo e atravessa o Atlântico, seja pelo número inusitado de mortos, seja pela idade precoce das vítimas, seja, enfim, por um qualquer pormenor mais horrível e escabroso, que as agências e os jornalistas consideram ser digno de realce, porque, e apenas porque, será impressionante para um auditório sedento de ser impressionado.

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Da série personagens do meu país (3) : Joaquim de Carvalho

Da série personagens do meu país (3) : Joaquim de Carvalho

Nome incontornável da poesia portuguesa da segunda metade do século XX, não recebeu o reconhecimento merecido por motivos insondáveis. Relacionou-se com grandes poetas e escritores da sua geração e parecia lançado para o panteão da memória literária nacional, mas a sua obra é hoje  encontrada apenas em  alguns  alfarrabistas de

Acabe-se com a ideia da presunção de inocência

Acabe-se com a ideia da presunção de inocência

O título é clickbait. Ninguém quer acabar com a presunção de inocência enquanto alicerce do Estado de Direito. Mas espero convencer o leitor de que não uso este truque de modo gratuito, pois o título é uma crítica ao habitual lembrete sobre a presunção de inocência que o fazedor de

«Humoristas de sucesso? São os gurus de um novo e necessário culto.»

«Humoristas de sucesso? São os gurus de um novo e necessário culto.»

Entrevistámos Pedro Reis Sabido, investigador do Ralston College, especialista em Estudos Portugueses e Brasileiros e Literatura Africana Lusófona, a propósito dos limites do humor e outras questões de linguagem. Falámos sobre os bobos de Shakespeare, os Beatles, o império da família Balsemão (adeus empregos na IMPRESA), gladiadores, gurus espirituais, e

Corvos imaginários, papagaios estocásticos e outros animais que falam

Corvos imaginários, papagaios estocásticos e outros animais que falam

Há algo de desconcertante em finalmente existir uma máquina capaz de manter um diálogo coerente e informado sobre quase qualquer tópico. As experiências de quem já experimentou usar o ChatGPT (ou sistemas semelhantes) têm levantado questões sobre se estes sistemas poderão (vir a) ter consciência — e, mais fundamentalmente, sobre

O luxo da conversa inteligente

O luxo da conversa inteligente

18 de janeiro de 2007 foi uma quinta-feira. Foi um dos primeiros dias que passei na Universidade de Stanford e a data em que vi pela primeira vez Robert Pogue Harrison. Ouvira falar dele na véspera, quando tudo me era novidade. Os outros professores contavam-me que ele estivera internado, com

Na Era do Zettabyte, pt.1: Em toda a parte e em parte alguma

Na Era do Zettabyte, pt.1: Em toda a parte e em parte alguma

Nas televisões, nas newsletters digitais dos jornais, nos news feeds, nos posts, tweets e vídeos nas redes sociais, nos websites dos agregadores de conteúdos, em e-mails reenviados em massa, em split-screen, em janelas pop-up e deslizando em rodapé no écran, desfilam, ininterruptamente e sem ordem, hierarquia ou nexo, atentados terroristas,

Contra Proust

Contra Proust

Texto de Robert Pogue Harrison, autor convidado.Tradução: Ana Isabel Soares _   Como o programa se chama Entitled Opinions, aqui está uma opinião minoritária sobre literatura. Há 150 anos, no dia 10 de julho, Jeanne Clemence Proust deu à luz um rapaz que haveria de acarinhar e amimar, alimentando nele

Isto anda tudo ligado #4

Isto anda tudo ligado #4

O fim da imaginação A imaginação é essencial à política. Só faz sentido agir politicamente quando se acredita que há a possibilidade de mudar o mundo. A ideologia é, em certo sentido, um mapa para se chegar a uma forma de sociedade imaginada que acreditamos ser a melhor. Mesmo os

Paul Auster, desarmante

Paul Auster, desarmante

         Enquanto comecei a pensar neste texto e depois o escrevi, ocorreu mais um grande massacre nos Estados Unidos, daqueles cuja notícia corre o mundo e atravessa o Atlântico, seja pelo número inusitado de mortos, seja pela idade precoce das vítimas, seja, enfim, por um qualquer pormenor mais horrível e