Literatura

Rinocerontes e chalés suíços
Literatura
Z - Autores Convidados

Rinocerontes e chalés suíços

Texto de José Pedro Almeida, autor convidado. _ «O escritor cronista: perora sobre tudo, numa olímpica omnisciência. Está convencido de que tem muita graça e de que influi profundamente nos destinos do país. Imagina os governantes a lê-lo e a dizerem às mulheres (ou aos maridos): “Tem graça! Olha que este rapaz tem carradas de razão, vou passar a fazer como ele diz.” Às vezes é feroz, faz ameaças: “Ah, sim? Então eu desanco-o na

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Da série personagens do meu país (5): Rui Amália
Literatura
Filipe Nunes Vicente

Da série personagens do meu país (5): Rui Amália

Poeta desconhecido e deslumbrado, nasceu em Verride, perto da Figueira da Foz, em 1950. Publicou dois livros de poemas: o primeiro em Setembro de 1974 e o segundo em Junho de 1975. Numa entrevista feita por ele a ele (“uma recriação do espaço transbordante da recusa mercantil do mediatismo“) e publicado  sob  a forma de anúncio pago no Diário de Lisboa, em 1977, explicou as suas raízes literárias:    ” Vivi muito tempo na ilusão

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A vida suada do Baleia Assassina e do Capitão Fantástico
Literatura
Afonso de Melo

A vida suada do Baleia Assassina e do Capitão Fantástico

Chovia copiosamente naquela manhã de sábado em que o Baleia Assassina e o Capitão Fantástico tinham agendado para o Campo da Feira, em Benavente, o primeiro dos seus tão fenomenais como intermináveis combates até à morte. Havia quem, com ponta de malícia, os apelidasse de combates até à morte lenta, mas nós, nesse tempo, ainda não estávamos aptos para perceber as manigâncias enviesadas dos sentidos do humor.Na véspera, tínhamos ficado à espera numa curva da

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Simpatia Inacabada #9
Literatura
Alda Rodrigues

Simpatia Inacabada #9

NOTAS DE VERÃO E OUTONO: RECOMPOSIÇÃO   Neste Verão, quando Maya Dunietz começou a tocar Emahoy Tségué-Guébrou no jardim de uma galeria de arte em Lisboa, ouviu-se o vento nas árvores e um bando de andorinhas traçou espirais no céu. Pensei que as andorinhas iam acompanhar o concerto chilreando, gorjeando e trinfando, mas não. O próprio melro que entretanto apareceu acabou por voar para uma árvore. Protestou um pouco, mas depois calou-se. Até os pássaros

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Meia-De-Leite Escura Em Chávena Escaldada
Artes Performativas
Renata Portas

Meia-De-Leite Escura Em Chávena Escaldada

The most beautiful location in the world doesn’t mean shit next to Steve McQueen’s face. William Friedkin   Caro leitor anónimo Descia as ruas do Porto na zona oriental da cidade e deparei-me com duas máscaras pousadas (uma veneziana, uma dos Anonymous), esquecidas, dentro de um carro. Duas máscaras: que estórias escondem estes adereços?  Que viram? Uma noite diferente, fantasias? Um assalto?  Uma surpresa a um amigo desaparecido?   Trazer o mesmo rosto todos os

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Farol
Literatura
Álvaro Domingues

Farol

Fotografia de Álvaro Domingues Estamos fartas de enviar postais às nossas amigas explicando que nada temos a ver com aquele gigantesco lampadário que está ali atrás no meio das oliveiras. É tão alto que seria preciso empilhar oitenta vacas adultas e escorreitas para que os chifres da última tocassem o topo daquela lanterna que se vê mais ao longe do que um farol na costa. Apesar das limitações de raciocínio que dizem que temos, do

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Quem?
Literatura
Ana Isabel Soares

Quem?

Não é que esteja a esquivar-me ao assunto. Ou a tentar formar frases para que se ajustem a um tema. A verdade é que, as mais das vezes, não me recordo do que eu própria escrevi, quanto mais do que li – quanto mais, então, do que pensei escrever ou estive à beira de escrever. Patrick Süskind ganhou fama com O Perfume, o seu terceiro livro (entre nós, há uma edição da Editorial Presença, traduzida

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Não consigo dormir com o barulho dos indianos a reencarnar
Literatura
Afonso de Melo

Não consigo dormir com o barulho dos indianos a reencarnar

Na Índia há milhões e milhões de pessoas. Certas enciclopédias dizem que são 900 milhões de pessoas. Alguns atlas referem mil e trezentos milhões. Vê-se bem que nem as enciclopédias nem os atlas foram alguma vez à Índia. Na Índia há milhões e milhões e milhões e milhões e milhões de milhões de pessoas. Sei muito bem do que estou a falar: já fui muitas e muitas vezes à Índia. Talvez não um milhão de

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Da série personagens do meu país (4): Hércules Dias
Literatura
Filipe Nunes Vicente

Da série personagens do meu país (4): Hércules Dias

Deixou uma marca indelével na política e no jornalismo português. Amigo do seu amigo, defensor das populações com dificuldades, suportou, no entanto, uma campanha de ódio e maledicência como poucos. Multifacetado, foi autarca, deputado, jornalista e escritor. Na sua morte, em 2004, dele disse Almeida Santos: Não morreu um homem, nasceu uma herança de probidade, cultura e dedicação. Hércules Dias nasceu na Guarda, em 1930, num ambiente politizado e intelectual. O pai, licenciado em Química, foi

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Da série personagens do meu país (4): Conceição Carvalho do Ó.
Literatura
Filipe Nunes Vicente

Da série personagens do meu país (4): Conceição Carvalho do Ó.

Advogada lançada nas tarefas ministeriais, benfeitora, mulher de armas, de origem humilde, mas com transcurso brilhante. Ganhou o respeito dos seus concidadãos pela forma abnegada como se empenhou na vida pública e pelo modo recatado como dela se soube retirar. Nasceu em 1950, na Boavista, um pequeno lugar do distrito de Leiria, e cresceu com broa e carapaus secos da Nazaré, que dividia com as quatro irmãs. Diz por isso que aprecia hoje mais os

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Rinocerontes e chalés suíços

Rinocerontes e chalés suíços

Texto de José Pedro Almeida, autor convidado. _ «O escritor cronista: perora sobre tudo, numa olímpica omnisciência. Está convencido de que tem muita graça e de que influi profundamente nos destinos do país. Imagina os governantes a lê-lo e a dizerem às mulheres (ou aos maridos): “Tem graça! Olha que

Da série personagens do meu país (5): Rui Amália

Da série personagens do meu país (5): Rui Amália

Poeta desconhecido e deslumbrado, nasceu em Verride, perto da Figueira da Foz, em 1950. Publicou dois livros de poemas: o primeiro em Setembro de 1974 e o segundo em Junho de 1975. Numa entrevista feita por ele a ele (“uma recriação do espaço transbordante da recusa mercantil do mediatismo“) e

A vida suada do Baleia Assassina e do Capitão Fantástico

A vida suada do Baleia Assassina e do Capitão Fantástico

Chovia copiosamente naquela manhã de sábado em que o Baleia Assassina e o Capitão Fantástico tinham agendado para o Campo da Feira, em Benavente, o primeiro dos seus tão fenomenais como intermináveis combates até à morte. Havia quem, com ponta de malícia, os apelidasse de combates até à morte lenta,

Simpatia Inacabada #9

Simpatia Inacabada #9

NOTAS DE VERÃO E OUTONO: RECOMPOSIÇÃO   Neste Verão, quando Maya Dunietz começou a tocar Emahoy Tségué-Guébrou no jardim de uma galeria de arte em Lisboa, ouviu-se o vento nas árvores e um bando de andorinhas traçou espirais no céu. Pensei que as andorinhas iam acompanhar o concerto chilreando, gorjeando

Meia-De-Leite Escura Em Chávena Escaldada

Meia-De-Leite Escura Em Chávena Escaldada

The most beautiful location in the world doesn’t mean shit next to Steve McQueen’s face. William Friedkin   Caro leitor anónimo Descia as ruas do Porto na zona oriental da cidade e deparei-me com duas máscaras pousadas (uma veneziana, uma dos Anonymous), esquecidas, dentro de um carro. Duas máscaras: que

Farol

Farol

Fotografia de Álvaro Domingues Estamos fartas de enviar postais às nossas amigas explicando que nada temos a ver com aquele gigantesco lampadário que está ali atrás no meio das oliveiras. É tão alto que seria preciso empilhar oitenta vacas adultas e escorreitas para que os chifres da última tocassem o

Quem?

Quem?

Não é que esteja a esquivar-me ao assunto. Ou a tentar formar frases para que se ajustem a um tema. A verdade é que, as mais das vezes, não me recordo do que eu própria escrevi, quanto mais do que li – quanto mais, então, do que pensei escrever ou

Não consigo dormir com o barulho dos indianos a reencarnar

Não consigo dormir com o barulho dos indianos a reencarnar

Na Índia há milhões e milhões de pessoas. Certas enciclopédias dizem que são 900 milhões de pessoas. Alguns atlas referem mil e trezentos milhões. Vê-se bem que nem as enciclopédias nem os atlas foram alguma vez à Índia. Na Índia há milhões e milhões e milhões e milhões e milhões

Da série personagens do meu país (4): Hércules Dias

Da série personagens do meu país (4): Hércules Dias

Deixou uma marca indelével na política e no jornalismo português. Amigo do seu amigo, defensor das populações com dificuldades, suportou, no entanto, uma campanha de ódio e maledicência como poucos. Multifacetado, foi autarca, deputado, jornalista e escritor. Na sua morte, em 2004, dele disse Almeida Santos: Não morreu um homem, nasceu

Da série personagens do meu país (4): Conceição Carvalho do Ó.

Da série personagens do meu país (4): Conceição Carvalho do Ó.

Advogada lançada nas tarefas ministeriais, benfeitora, mulher de armas, de origem humilde, mas com transcurso brilhante. Ganhou o respeito dos seus concidadãos pela forma abnegada como se empenhou na vida pública e pelo modo recatado como dela se soube retirar. Nasceu em 1950, na Boavista, um pequeno lugar do distrito